terça-feira, 30 de novembro de 2010

BRUCE STERLING, A LOCOMOTIVA DO MOVIMENTO CYBERPUNK, ESTÁ NO BRASIL

Bruce Sterling, escritor, jornalista, designer e crítico -, considerado a locomotiva intelectual do Movimento Cyberpunk e “Visionário Residente” junto ao Art Center College of Design em Pasadena, Califórnia, durante o ano de 2005,- está em São Paulo para o I Encontro Extensão para o Futuro, promovida pela Pró-reitoria de Extensão da Universidade Cruzeiro do Sul, Devir Livraria e Terracota Editora.

O evento faz parte do Programa de Extensão Prática de Escrita e outras Linguagens, e ocorrerá nos dias 3 e 4 de dezembro.

Em 1998, Sterling criou o Movimento do Design Viridiano (http://www.viridiandesign.org/) para transportar atitudes “verdes” ao campo do design. Reforçando sua preocupação com o meio ambiente, no romance Tempo Fechado, Sterling pretende provar que a atitude cyberpunk não está restrita aos grandes aglomerados urbanos. No programa há três encontros: uma conferência, um workshop e um simpósio.

Sterling pretende conhecer portfólios de estudantes de designer e arquitetura, além de realizar um bate papo com escritores sobre ficção científica.

O local do evento é o anfiteratro do campus Liberdade da Universidade Cruzeiro do Sul.

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Serviço: Mais informações e inscrições, aqui.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tudo e mais um pouco sobre Clarice

Por Dade Amorim


Moser, Benjamin. Clarice, uma biografia. Trad. José Geraldo Couto. São Paulo: Cosacnaify, 2009. 647p.

Levando em conta os acontecimentos traumáticos que atingiram sua família, em Tchechelnik, na Ucrânia, a vida de Clarice Lispector começou praticamente no inferno. Ainda bebê, a futura escritora mais famosa do Brasil não teria como entender o que estava acontecendo a sua volta. Mas a guerra e, pior que tudo, o desespero da família judia, aterrorizada pela perseguição nazista, além da quase impossiblidade de conseguir um trabalho razoavelmente bem remunerado, certamente afetaram suas filhas. A angústia e o medo os acompanhavam durante todo o tempo em que permaneceram na Europa, fugindo e sofrendo violências, das quais a pior de todas, o estupro praticado contra Mania, sua mãe, por soldados russos, teria consequências funestas para sua saúde que a levariam à morte, já em Recife, no Brasil, quando a filha mais nova tinha oito anos.
Embora Nádia Battella Gotlib, outra biógrafa de Clarice, não confirme o episódio, Benjamin Moser parece não ter dúvidas a esse respeito. O início do livro mantém a atmosfera pesada por todo o primeiro capítulo, impregnado do terror e da desesperança total que atormentavam aquela gente das pequenas cidades de população predominantemente judia. Prisões, mortes, torturas e fugas quase sempre malsucedidas vão acontecendo sem cessar, num texto dramático que provavelmente pretende preparar o leitor para entender melhor a personalidade da biografada. De fato, o traço existencialista e o fenomenologismo hamiltoniano* que marcam a obra de Clarice ficam bem mais compreensíveis se os ligamos à história de vida da escritora, pouco preocupada com teorias e formalidades.
Afora isso, Moser faz um apanhado histórico bem desenvolvido das diferentes fases da vida de Clarice. Ao background do tormento nazista, em sua terra natal, vão se sucedendo a política, os regimes e os costumes dos lugares por onde ela passou e que ele visitou para a pesquisa prévia. Assim, lugarejos e aldeias da Ucrânia e da Europa dão lugar a notícias de outras terras, até chegar ao Brasil, onde os Lispector se estabelecem, primeiro no Nordeste, em Maceió por algum tempo, depois no Recife, até a mudança para o Sudeste, no Rio de Janeiro, onde as meninas chegam já órfãs de mãe. Contam com o apoio decidido, embora precário do pai, que luta bravamente trabalhando como mascate, para que não lhes falte o essencial. As filhas têm consciência das potencialidades de Pinkhas Lispector – que mudou seu nome para Pedro, uma vez no Brasil – lamentam sua vida sofrida e a mediocridade de sua ocupação, e por isso mesmo reconhecem e valorizam o sacrifício desse pai que viaja sem parar por outras cidades, em busca de recursos para garantir o sustento e a formação delas.
Mas o estigma que os perseguia na Europa, embora atenuado, não os abandona de todo na nova terra. No Brasil, Getúlio Vargas joga em várias frentes, apoiando ora o nazifascismo, aqui representado pelos integralistas, ora os comunistas, dependendo de suas próprias conveniências, enquanto ilude o povo com um discurso populista. O povo o exalta e idolatra como “o pai dos pobres”, alcunha que inspirou seus críticos a criar a contrapartida “mãe dos ricos”. Moser descreve com detalhes o envolvimento de nomes como Samuel Wainer e Carlos Lacerda na crise que resultou no suicídio do presidente.
Outras crises, históricas ou pessoais, marcaram a vida de Clarice. As injunções vividas por conta do casamento com um diplomata, as constantes viagens, que a obrigavam a se abster do que mais lhe agradava e se afastar frequentemente do Brasil, onde queria viver; as características de cada localidade onde viveu, os amigos  e  as hostilidades com que precisou convier; o nascimento dos filhos e suas obrigações de embaixatriz, nada disso a impedia de continuar escrevendo, embora ela se obrigasse a priorizar os deveres de mãe e esposa. Para uma personalidade marcada pela ansiedade e por uma angústia que a aompanharam desde o final da adolescência, eram circunstâncias bem perturbadoras.
Moser discorre também, de modo eficiente, sobre o trabalho literário de Clarice, com citações numerosas dos críticos da época, dos biógrafos anteriores e dos correspondentes da autora. Sem falar nos inúmeros textos citados da própria autora, com que ele exemplifica suas afirmações e documenta algumas análises que desenvolve sobre ela.
Clarice, de B. Moser, é um livro indispensável a quem precisa ou deseja conhecer de perto Clarice Lispector. Moser é bem criativo e muito fluente. Mas é bom não embarcar sem alguma cautela no caudal de informações e detalhes que o autor oferece, e que atraem pela aparente verossimilhança. Aqui e ali, pode haver grãos de ficção muito bem assimilados ao texto, e que funcionam como um atrativo extra para o leitor desavisado. O que, no caso de Clarice, fica ainda mais difícil de distinguir do que realmente aconteceu.

* Segundo a filosofia de William Hamilton (1788-1856), a fenomenologia consiste na descrição imediata dos fatos e ocorrências psíquicas, anterior a qualquer explicação teórica.


domingo, 28 de novembro de 2010

QUITANDA DA VIDA V

Por Telinha Cavalcanti

Escondidinho


HMMMMM!!! Escondidinho é uma delícia. E taí uma coisa que eu sei fazer bem.

Peraí, não é nada disso que vocês estão pensando, seus seres de mente maldosa. Escondidinho é um prato pernambucano, que é um purê de macaxeira/aipim/mandioca com charque desfiada dentro. Aqui em casa é um prato que não rende. A gente come, come, come e só sossega depois que raspa bem a travessa e suspira de tristeza porque acabou. E pode congelar, viu? Só que aqui nunca sobrou para isso :)

Para fazer o legítimo escondidinho pernambucano (e, meu Padre Cícero, como tem escondidinho caro e vagabundo pelo mundo afora...) você vai precisar de:

1 kg de macaxeira/aipim/mandioca (ô coisa para ter nome, meu pai) da macia, molinha, sem muita fibra.
1 pote de requeijão
1 caixinha de creme de leite
500 g de carne seca/charque (a que eu prefiro é a de lagarto, que vem macia e sem gordura. se você preferir ser tradicional, uma carne seca/charque ponta de agulha é a mais indicada)
400 g de queijo coalho ralado grosso. ou mais, se você for guloso :)

Primeiro, descasque a macaxeira/aipim/mandioca e cozinhe na água com sal até ficar macia. Tem umas que não amaciam nunca, e nesse caso você vai desistir do escondidinho. O jeito é escorrer a água, cortar a macaxeira/aipim/mandioca já cozida, fritar em bastante óleo, pegar uma cerveja e me chamar para a gente comer enquanto fala mal da vida dos outros.

Com a macaxeira/aipim/mandioca escorrida e morna (quente demais não dá, fria não funciona) bata aos poucos no processador de alimentos com a lâmina de metal (ou no liquidificador, bem aos poucos, senão a coisa fica feia) e coloque um copo de requeijão e um pouco do creme de leite. Vá batendo até virar um creme aveludado - é, exatamente essa palavra. O creme fica aveludado, macio, sem pelotas de mandioca/aipim/macaxeira. Não coloque tudo de uma vez, esta é mais uma receita em que o olho é importante. Experimente o sabor, se botar creme de leite demais o purê fica sem graça. Salgue, se necessário.

Enquanto isso, você vai cortar a charque/carne seca em pedaços e dessalgar. Faça do seu jeito; se não sabe fazer, faça do meu: coloque a charque numa panela com bastante água e troque a água sempre que ferver. Umas duas ou três vezes deve funcionar direitinho. Experimente um pedacinho da charque e, se estiver bom, espere amornar e desfie. Se não estiver macia o suficiente para desfiar, corte em tirinhas finas.

Rale o quejo coalho no ralo grosso e reserve. Serve mussarela? Serve. Serve queijo prato? Serve. Mas o bom é com queijo coalho.

Em um pirex, monte o escondidinho: Uma camada grossa do creme de macaxeira/aipim/mandioca, o charque/carne seca cozido (desfiado ou cortado fininho), a camada seguinte do creme e coroe com o queijo de coalho ralado, uma camada bem grossa. Leve ao forno para gratinar.

Sirva quente, ao som de Luiz Gonzaga.

sábado, 27 de novembro de 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DOUTORES DA ALEGRIA


Por Ana Laura Diniz

Melhor remédio para a dor? Riso e alegria.

Houve um tempo em que uma resposta como essa seria ridicularizada. Da pior maneira, claro. Mas a ciência já provou que felicidade opera milagres. E nessa seara, os Doutores da Alegria realizam - contraditoriamente - um trabalho sério, e de muita criatividade, uma vez que para cada criança existe praticamente uma música, uma dança, um olhar diferenciado, carregado de afeto. Mais do que isso. Torcida e alto-astral sob forma de coragem e amor. Ao invés de injeção, risos.

O trecho do filme acima mostra os doutores em ação. Wellington Nogueira, um dos fundadores do grupo, explica em seu institucional que "em 1986, Michael Christensen, um palhaço americano, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, apresentava-se numa comemoração num hospital daquela cidade, quando pediu para visitar as crianças internadas que não puderam participar do evento. Improvisando, substituiu as imagens da internação por outras alegres e engraçadas. Essa foi a semente da Clown Care Unit™, grupo de artistas especialmente treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova Iorque. 

Em 1988, Nogueira passou a integrar a trupe americana. Voltando ao Brasil, em 1991, resolveu tentar aqui um projeto parecido, enquanto ex-colegas faziam o mesmo na França (Le Rire Medecin) e Alemanha (Die Klown Doktoren). Os preparativos deram um trabalho danado, mas valeu: em setembro daquele ano, numa luminosa iniciativa do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo (hoje Hospital da Criança), teve início nosso programa."


Os Doutores da Alegria levam ao pé-da-letra a máxima: fazer o bem sem olhar a quem. Espalham alegria a quem precisa, e de graça: o lucro é a felicidade compartilhada.

Atualmente, a trupe é composta por mais de 60 artistas, que estão presentes em 18 hospitais distribuídos por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Associado à formação e desenvolvimento constantes, desde 2003, o grupo está com inscrições abertas para a sua Escola de Palhaços.


Para saber mais sobre esse projeto, que aceita qualquer ajuda ou apoio, acesse o site. Lá é possível, inclusive, cadastrar-se para fazer parte da turma. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DEU NA RÁDIO O RISO, A ALEGRIA E A FELICIDADE

Por Esther Lucio Bittencourt

Deu na sanfona de Pedro Cunato que a alegria e o riso, para Rodrigo é “p*ta m*rda, que pergunta mais difícil! Atualmente estou  numa fase sem alegria. Tenho síndrome do pânico. No entanto, não vejo parceria entre riso e alegria. O riso pode ser uma coisa de momento, como ouvir uma piada, assim como a alegria, que é diferente da felicidade, é coisa de momento também. Já a felicidade é um estado duradouro, uma busca constante para estar bem. É a meta do ser humano e, meu momento hoje é este: esta busca.”

Rodrigo Arantes Nogueira, 29 anos, casado, é pai de dois filhos e empresário em Caxambu/MG e em São Lourenço, município vizinho. Para que o pânico não tome conta de sua vida diz ele que precisa trabalhar muito, “pois o trabalho tira o foco do problema que me aflige, mas atrapalha em fazer novas amizades porque prefiro sempre a introspecção. Agora mesmo a minha mãe me apresentou a uma pessoa que não conheço. Reclamei, pois sou obrigado a falar com pessoas que não fazem parte de minha intimidade. Sei que ela me apresenta com orgulho maternal. Entendo. Mas não é a minha. Fujo de aglomerações e nem vou a espetáculos pois a multidão assusta.

Noutro dia, li um artigo sobre o riso e fiquei intrigado, passei a por em prática o que ouvi e tem dado certo. A matéria diz que se atendermos o telefone com um sorriso, a pessoa do outro lado do fio nos responde com um sorriso também.”

Rodrigo viaja hoje à noite para São Paulo pois amanhã tem encontro com executivos que lhe fizeram uma proposta que irá analisar.

Os pais dele são de Carvalhos, outro município próximo de Caxambu.

Na cidade havia uma venda e seu proprietário, Pedro Cocunato, apelidado de Cunato, ficava sentado num banco caipira, do lado de fora da venda, tocando sanfona e contando aos passantes as novidades do dia. A população da cidade quando queria contar um fato ou um causo dizia antes: sabe o que deu na sanfona de Pedro Cunato? Era a rádio da cidade.

Hoje, a maioria das pessoas entrevistadas deram uma só definição para a felicidade, excetuando Rodrigo: ser feliz é estar em nossa cidade, em nosso interior, longe dos tiros e da guerra entre bandidos e polícia que ocorre no Rio de Janeiro. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ANATOMIA DO RISO

Por Esther Lucio Bittencourt

Dia Internacional do Riso: 18 de Janeiro. Mas para que um dia específico se podemos e devemos rir todos os dias, a qualquer momento e, assim, tornar a vida mais agradável? Na década de 60, um jornalista americano chamado Norman Cousin curou-se de doença grave fazendo nele mesmo uma estranha terapia: a do riso.

Ele é o símbolo da terapia do riso e escreveu sua história o que originou diversas pesquisas. Hoje, sabemos que o riso fortifica o sistema imunológico, estimula as funções cardiovasculares e libera endorfinas que combatem a dor.

Valéria Linhares Bastos, 64 anos, psicóloga, em São Paulo, diz que é subjetivo explicar porque o ser humano ri:
Valéria Bastos: "o riso é o melhor
antídoto para a dor"
“O tema é subjetivo porque não existe uma regra geral para o riso. Podemos rir por achar algo engraçado e podemos rir de nervoso como também rir por contaminação porque o riso é contagiante. Quem está feliz ri, sorri e neste momento está pleno.

O riso é o melhor antídoto para a dor. O riso sempre ameniza a dor. Os médicos do riso têm matérias interessantes sobre isto. Eles trabalham com crianças com câncer e no momento em que estão brincando com elas caso riam e não sintam dor é uma glória para eles.

No entanto, há os que se retro alimentam da dor. Aí, de nada adianta tentar fazer com que compartilhem do riso, da felicidade.

Todos os músculos faciais são movimentados para rir; olhos, testa e pescoço.

Não acho que seja regra geral que as pessoas procurem ficar sérias, fujam do riso para demonstrar credibilidade. Acredito que as pessoas inseguras precisam criar uma persona sempre séria mas quando ela está e é segura de si, não precisa desta máscara.“

COISAS DO RISO

O historiador francês Jacques Le Goff consagra vários estudos ao riso medieval, especialmente ao lugar que ele ocupa nas ordens monásticas; na “História do Riso e do Escárnio", o historiador francês Georges Minois (Editora da Unesp) em sua introdução narra que: ”O riso é um caso muito sério para ser deixado para os cômicos. É por isso que, desde Aristóteles, hordas de filósofos, de historiadores, de psicólogos, de sociólogos e de médicos, que não são nada bobos, encarregaram-se do assunto. As publicações sobre o riso contam-se aos milhares, o que nos dispensa de estabelecer uma bibliografia, porque ela seria ora ofensivamente seletiva, ora interminável.”

Rir relaxa as tensões. Quando rimos, movimentamos 12 músculos faciais; ao dar gargalhadas, movimentamos 24 músculos faciais; quando conversamos e gargalhamos ao mesmo tempo, são 84 músculos. Esse exercício facial retarda o aparecimento de rugas. Mas o riso não exercita só o rosto; ele mexe com o corpo inteiro:- Cérebro: o hipotálamo, centro de controle atuando na base do cérebro, libera no organismo endorfina – hormônio com propriedades analgésicas e calmantes; - Nariz e garganta: o ar que vem dos pulmões bate nas cordas vocais que emitem sons variados. As glândulas salivares e lacrimais aceleram sua produção;- Rosto: os músculos do rosto se contraem;- Coração: bate mais rápido; as artérias, após terem se estreitado, se dilatam provocando sensação de bem estar; - Tórax: os pulmões expelem enormes quantidades de ar em grande velocidade; o diafragma se move, provocando fortes contrações respiratórias, ajudando a respirar melhor; - Ventre: os músculos abdominais se contraem com força, o que é bom para a vesícula;- Pernas: os músculos se relaxam e a pessoa se curva de tanto rir; - Pés: os dedos dos pés se agitam.

O “Livro do Riso e do Esquecimento” de Milan Kundera, lançado em 2008 pela editora Companhia de Bolso e que fala sobre a República Tcheca após a invasão Russa, retrata a história do povo entre situações de riso e como diz o título do livro esquecimento.

Nesta semana, o Primeira Fonte dedica-se ao riso. Amanhã tem mais.

Esconde-esconde

Queridos, o Blogger, de quando em vez, some com a gente. O Primeira Fonte aparece como 'blog não encontrado'. Mas como, nós nos perguntamos, se tocamos umas nas outras e declaramos: estamos achadíssimas.
Não sabemos.
O mundo virtual é um mistério sem fim, uma selva de báites, um sumidouro.
Mas não desistam de nós. Mesmo com nossas patinhas presas na neve, estamos aqui. E se parecer que sumimos, gritem na mesma hora: primeirafonte@gmail.com
Gritem, e nós trataremos de reaparecer.
:o)
beijucas em nome de toda a perfumada equipe Primeira Fonte
Fal (interina)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

JORNAL PRIMEIRA FONTE APRESENTA...



FRÁGIL É O LEITOR


Por Dade Amorim

Gaiman, Neil. Coisas frágeis. Trad. Micheli de Aguar Vartuni. São Paulo: Conrad, 2008.

Isto não é propriamente uma resenha. Faltam rigor, isenção e distanciamento. Por isso, tenho que confessar que escrevo este comentário sobre Coisas frágeis, de Neil Gaiman, ainda intoxicada de admiração e entusiasmo.
Algumas obras fazem falta, caso as deixemos escapar. Houve momentos durante a leitura em que tive vontade de ser Gaiman. Não queria os prêmios dele, que fez tudo por merecer, e acho até que foram poucos. Não queria o renome, a juventude dele. Queria tão só ter sido capaz de escrever esse livro.
Há muito tempo não releio uma obra. E tenho lido coisas muito boas, como os poemas de Leonardo Fróes, obras de Enrique Vila-Matas, Amós Oz, Dino Buzzati, Ricardo Piglia. Também nunca fui muito chegada a fantasias, bestsellers ou não. Raramente gostei de uma história que fosse além da realidade como a conhecemos, e assim de pronto só me lembro de ter adorado A outra volta do parafuso, de Henry James (acaba de sair no Brasil Os Embaixadores, um de seus últimos livros, tido como uma das obras-primas de James), ou as histórias simbólicas de Italo Calvino. Mas tanto uma como as outras não pretendem assustar, fazer profecias ou causar espanto a ninguém. Ultrapassam a realidade conhecida com um objetivo ficcional, e acredito que seja esse o motivo principal de conquistarem o leitor com sua prosa surpreendente, mas não escapista ou alienante.
Coisas frágeis, no entanto, é bem mais que um livro que se dá ao luxo de recorrer ao sobrenatural para reforçar um enredo, como acontece com o romance de James, ou exaltar a poesia das cidades, como faz Calvino em As cidades inisíveis, inventando lugares inexistentes para reavivar sentimentos e emoções que tratamos como lugares comuns no cotidiano ou no máximo merecem poemas repetitivos. Coisas frágeis simplesmente vai além da fronteira dos sentidos quase como uma homenagem ao sensível – o que à primeira vista pode parecer paradoxal.
Acredito que toda a beleza soturna e estranha dos contos de Gaiman esteja baseada numa fabulação que não só desce às profundezas da dor humana como no conto “Lembranças e tesouros”, mas também na criatividade inacreditável de textos como “A vez de outubro”, “Os fatos no caso da partida da senhorita Finch” ou “Golias”, que ele escreveu por encomenda, para a divulgação do filme Matrix. Um livro que me faria falta.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

QUITANDA DA VIDA IV

Por Telinha Cavalcanti


Brigadeirão. Gente, se um brigadeiro já é uma epifania, o brigadeirão é o céu, a lua e as estrelinhas.

Saiu de moda, né? Que pena. Essas injustiças acontecem... E tem gente que adora complicar as receitas, já vi brigadeirões que só faltavam exigir diploma de mestre-cuca.

A minha receita é simples, gostosa e talvez você, cozinheira prendada, consiga desenformar. Eu, estabanada, nunca liguei para essas convenções :D

Brigadeirão

2 latas de leite moça
3 ovos
1 colher cheia de manteiga derretida
nescau até a cor ficar boa (mais uma receita de olho, meu povo...)

Bata tudo no liquidificador, bem batido. Vai espumar, nem ligue. Ah, a colher de manteiga é das bem cheias e você mede, claro, antes de derreter.

Leva ao forno em banho maria, temperatura média, numa fôrma com furo no meio. Em meia hora já dá para começar a espiar: a espuma baixa e a consistência é de pudim, mas ele só vai firmar quando estiver bem gelado. Tire do forno, deixe esfriar em temperatura ambiente e leve para a geladeira. Se você achar que enfiar o pé na jaca é bobagem, compre cocada em ponto mole e jogue por cima: vira um brigadeirão prestígio, digno dos deuses do Olimpo.

domingo, 21 de novembro de 2010

EIS UM 'NEGRO CANTO' DE ARREPIAR...


um pequeno causo antes de atravessar a pinguela

Por Ana Laura Diniz

Era sábado de 2001, se bem me lembro. A noite prometia porque veria o show de Zélia Duncan, no Rio de Janeiro.  Fim da apresentação. Muitos queriam falar com ela, eu também. Desejava entregar um presente: uma série de fotografias que havia feito dela em shows anteriores, em 20x25.

Fila. Sabe como é? Um fala, outro escuta mesmo sem querer. Tento puxar na memória, mas não lembro ao certo quem primeiro proseou com quem. Acho que fui eu. De quieta passei a falante de 0 a 60 minutos. Nem sei. Não vi o tempo passar. Sei que quando finalmente fui conversar com a Zélia, tinha ganhado amigos. Entre eles, o cantor Márcio Thadeu, que àquela época, nem sabia da sua profissão de fé. Fui saber assim, naturalmente, meses depois, em conversas via e-mail.

Descobrimo-nos, aliás, aos poucos. Talvez por isso a nossa amizade seja tão sólida, verdadeira, passados os quase cinco anos que não nos vemos. No passado, os encontros ocorriam com mais frequência: no Rio de Janeiro, quando eu ia. Em São Paulo, quando ele ia. Agora, em Caxambu, no Sul de Minas, não o vejo. No entanto, nada diminui nossos laços. Tenho nossa amizade como certeza de vida.

Então penso no acaso dos dias: nas gratas surpresas, nos anjos que nos enviam. Márcio Thadeu, para mim, é celestial. Penso também na Zélia, por situações que ela nem mesmo imagina. Também pelo encontro de “alma” com o Márcio, “deixa ver sua alma”. Sou realmente grata à Duncan.

E foi por causa desse encontro, que hoje, caros leitores, vocês têm a honra de conhecer um pouco do muito que é o Márcio. Um carioca fantástico, bonito, de alto astral e super de bem com a vida. Um artista fora de série, que trabalha no resgate e na valorização da cultura popular brasileira. Se há defeito nele, bem... talvez seja a modéstia – pois coloca-se sempre como aprendiz.

Com vocês, Márcio Thadeu, e seu Negro Canto. Puro deleite!
Nada melhor para a semana em que se comemora a Consciência Negra no País... (que a bem da verdade, deve ser a de todos os dias...)
  
O cantor Márcio Thadeu presta homenagens que vão de Cartola,
Geraldo Pereira, Nélson Cavaquinho a Seu Jorge e Jair de Oliveira 

Formado em Economia, como e por que você ingressou na música?
Gosto do trabalho de Consultoria em Economia, que inclusive é o que me fornece respaldo econômico-financeiro para tal empreitada artística, mas é no campo das Artes que verdadeiramente me realizo. Costumo dizer que a música me salvou (risos). Aos 33 anos, em 1995, finalmente tomei coragem e mudei de vida: fui de encontro às artes, porque sempre as admirei. Até então não tinha buscado oportunidades de expressão pessoal através delas.

E como sintetiza essa busca?
A busca pessoal por meio das Artes é profundamente subversiva!

Por que?
Porque mexe com questões pessoais, bem íntimas, profundas, e faz cada um pensar e mergulhar “em seus fantasmas”... leva a uma tomada de decisão se você, de fato, quer ser e estar feliz.

E como foi o teu preparo?
Fiz cursos livres/de extensão nas áreas de expressão corporal, de contadores de histórias, de locução, de teatro, e enveredei pelo caminho da música, buscando a complementação para o trabalho de ator – que eu pensava, naquela ocasião, ser a vocação natural. Mas ao conhecer todo o universo musical mais de perto, principalmente através das aulas de canto popular, me apaixonei pelo vasto “arsenal” de nossa MPB/Samba, e continuo até hoje, 15 anos depois, nesse aprendizado e prática, mantendo aulas particulares semanais de canto.

Com a maturidade dos 48 anos, o que mudou em relação à sua forma de encarar a arte?
A serenidade é maior, a busca de identidade própria e o desejo de encantar a mim e, por conseqüência, a plateia. Sempre levando em conta a importância e a relevância da letra e a melodia que estão sendo apresentas ao público.

Fale sobre o seu primeiro trabalho, lançado em 2007, o CD “Negro Canto”.
Com direção musical e arranjos do violonista Willians Pereira (prematuramente falecido um mês depois da conclusão do trabalho), o CD contém somente composições de autores afro-brasileiros, a exemplo de Seu Jorge, Jair Oliveira, Dorival Caymmi, Nélson Cavaquinho, Paulinho da Viola, dentre outras “feras”. Venho, desde então, realizando inúmeros shows de lançamento e mostras desse trabalho.

Onde?
Em casas da Lapinha, Cais Cultural, Espaço Telezoom, Bar do Tom, Centro Municipal de Referência da Música Carioca, Estudantina Grill, Bar Severyna, Teatro SESC Madureira, Teatros SESI Caxias e Jacarepaguá, dentre outros locais.

Apresentação no Teatro Solar de Botafogo, Rio de Janeiro/RJ
E como tem sido o retorno do público? O álbum pode ser encontrado em que lugares?
A receptividade tem sido muito grande. Foram impressas inicialmente mil cópias, e tenho bem poucas atualmente à venda.

Como você chegou ao nome do álbum: Negro Canto? Partiu de qual pressuposto?
Minha própria cor, história e necessidade de auto-conhecimento, além do desejo de homenagear a esses bambas brasileiros de mesma origem que a minha.

E por que o samba? O que ele influi em sua identidade, em sua vida?
Gosto do prazer e da alegria que o samba irradia ao ser apresentado.

Em termos de mercado, como está classificado o samba?
O samba (carioca) recebeu em 2007, o título de “Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil”. Por aí, vemos a sua importância e a marca de identidade local e nacional.

Artisticamente, qual o seu maior sonho?
Estar em contínua atividade artística. “E no entanto é preciso cantar!”  

Atrelado à música, recentemente o teatro voltou em sua vida...
Há seis meses, recomecei no teatro fazendo parte de um grupo numa Oficina de Atores. Já tive a primeira montagem com público pagante, chamada “Casos Veríssimos”, baseada em textos de Luís Fernando Veríssimo. As apresentações foram no Teatro Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro, por três sábados seguidos, em horário alternativo e casa cheia.

Como foi a experiência?
Muito marcante, e atualmente permaneço na Oficina e também participo do curso de Teatro com Camilla Amado, renomada atriz de teatro, cinema e TV.

Qual a sua busca particular com o teatro?
O enriquecimento para o meu trabalho de cantor no palco, sobretudo com a interpretação do meu texto, que é a letra das canções. Quero expressar-me cada vez melhor como um todo: voz, corpo, gestos, enfim, busco maior presença em cena. Desejo ser um ótimo intérprete!

Mas você o é. Não se considera muito severo em sua autocrítica? Ou encara o aprendizado como uma forma eterna e, por que não divertida, de estar no mundo?
Grato pelo carinho e elogio! Tenho que relaxar mais, eu sei, mas para mim é tão vital estar cantando... sinto-me como na canção de Eduardo Gudin: um eterno “aprendiz de tanto suor” (Verde).

Quais suas influências musicais?
Ouço muita música em CD e nas rádios. Desde a minha infância, gosto de ouvir rádio, e acho que isso me marcou para o canto. Adoro os compositores citados anteriormente e mais Chico Buarque, Jorge Vercilo, Djavan, Maria Bethânia, Gal Costa, Marisa Monte, Tereza Cristina, Zélia Duncan, Cazuza, Elis Regina, Paulo Vanzolini, e muitos outros mais... Temos uma riqueza e diversidade fantásticas em nossa MPB. Somos musicalmente “milionários”.

No Centro Cultural Carioca, cantor promove a alegria da plateia
Projetos em vista?
Agora em novembro, estou em fase de gravação do meu segundo CD, chamado Negro Canto 2. Continuo no mote da homenagem e do resgate dos compositores afro-brasileiros, mas gravo, especificamente neste álbum, dois grandes autores: Cartola e Geraldo Pereira.

Por que a escolha deles?
Porque são mestres, bambas, da escola da vida. A primeira canção que amei – na primeira aula de canto popular – foi “Acontece”, de Cartola. Daí em diante... Geraldo Pereira nasceu em Juiz de Fora e foi criado no Morro da Mangueira/RJ. Foi aluno de violão de Cartola. Achei o “link” incrível e estava feita a conexão.

Em que fase encontra-se o trabalho?
Cumprimos já a primeira etapa da gravação, feita num estúdio em Araras/Petrópolis/RJ, onde ficamos – produtor, cinco músicos e eu - “imersos” por três dias seguidos. Estimo que possa lançá-lo no primeiro trimestre de 2011, aqui no Rio de Janeiro.

Sob qual perspectiva?
A melhor possível. Estou vibrando com esse novo desafio e a realização de um sonho.

O sonho vem por etapas?
Sempre, degrau por degrau. A subida é longa, mas é no caminho, durante o percurso, que se fazem as escolhas e se tem resultados. “A felicidade não está no destino, e sim na caminhada.”

O que costuma fazer em momentos de folga?
Gosto demais de ir ao teatro, ao cinema, aos espetáculos de dança. Agradeço a Deus por estar no Rio de Janeiro e ter esse leque, essa diversidade e oportunidades tão ricas de crescer e aprender vendo, ouvindo e acompanhando tantos artistas. Gosto de ler, mas sou indisciplinado na continuidade da leitura. Sou adepto das artes visuais, cênicas, e isso me satisfaz demais.

Tendo a base como música, o que mais te admira no Brasil?
O fato dele ser tão rico e multifacetado nas artes em geral. É contagiante, e há pleno envolvimento entre seus “operários” e públicos, inclusive com influência internacional: ontem mesmo eu vi um show em que Norah Jones tocou Luiz Gonzaga ao término de uma de suas canções. É demais!!!

Você homenageia em seus discos e nos shows os afro-brasileiros. Aproveitando a semana da Consciência Negra, o que pensa sobre o assunto? Acha necessária a existência desse dia? Como julga a questão do negro hoje no País?
Acho que temos ainda muitas barreiras e preconceitos camuflados. É importante a criação do dia/semana/mês para nos fazer parar nesse corre-corre louco em que vivemos, e refletir sobre pilares constituintes de nossa nação: branco, índio e negro. Pensar e repensar, eis a questão!

E a questão do conceito do “politicamente correto” ao adotar nomenclaturas como afro-descendentes? Acha que mora aí uma hipocrisia ou um preconceito velado por parte da sociedade ou que finalmente adquiriu-se respeito em todos os seus âmbitos?
Acho que há de tudo um pouco: hipocrisia, disfarce, eufemismo... Mas acima de tudo, uma nova forma de se encarar e discutir velhas questões sob uma ótica contemporânea. Não creio no estabelecimento do pleno respeito, ainda, mas estamos caminhando para lá.

E a disseminação de camisas com dizeres “100% BLACK”? Alguns julgam que existe um preconceito ao avesso, porque se alguém aparecer com uma camisa “100% WHITE” será inevitavelmente taxado de preconceituoso. O que pensa sobre o assunto?
Ai, a diversidade humana!
Tem espaço para tudo... Mas o principal penso que é: com que intenção se veiculam essas mensagens: homenagem, afronta, ou seja, o que está por trás dessas mensagens e de quem as usa e veicula? Antes de usá-las, sejam em que ‘tonalidade’ for, pensar no que se está expondo e/ou propondo.

É lindo ser negro!!! Acha que esse orgulho toma conta do Brasil? O brasileiro deve ter consciência de quê?
É lindo ser Brasileiro!!! Ter consciência disso, valorizar isso, acreditar nisso! Os estrangeiros já sabem disso há tempos... Porque não assumimos – de vez – nossa beleza e valor?

Se pudesse hoje, neste instante, oferecer uma música a alguém, qual e para quem seria?
Para todos que compartilham desse momento; e as canções são “O Escurinho” e “Escurinha”, ambas de Geraldo Pereira, e que fazem uma bela homenagem aos nossos negros brasileiros nesta semana de Consciência Negra.

Como o Brasil é um grande caldeirão de cores, um mosaico, somos todos, por consequência, também homenageados através deles!

Contato para shows?

Algo mais a acrescentar?
Muito obrigado pela oportunidade e pelo prazer em estar e compartilhar Arte com todos vocês. Abraços e até breve!       

CURTA AQUI A MÚSICA DE MÁRCIO THADEU!

sábado, 20 de novembro de 2010

PROGRAME-SE!

Lançamento do CD "Negro Canto", na semana da Consciência Negra!


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DE QUE ADIANTA EDUCAÇÃO SEM MERCADO DE TRABALHO?

Marta Arretche fala sobre a necessidade de uma reforma trabalhista

Por Esther Lucio Bittencourt

Em Caxambu, a migração de estudantes
para outras cidades em busca de estudo
universitário e emprego é elevadíssima 
Na obra O Mestre Ignorante, resenhada essa semana por Dade Amorim no Jornal Primeira Fonte, Jacotot e Rancière contam uma história de aprendizado em países desenvolvidos como a França e a Holanda, onde o povo lê livros. É um hábito cultural nos países de Primeiro Mundo a leitura, além do interesse pela cultura e o conhecimento. Já o Brasil é considerado um país em desenvolvimento, onde o índice de analfabetismo é ainda grande e o conhecimento perde para a fome e o apelo ao consumismo.

Marta Arretche: "herdamos de políticas
anteriores, um sistema que tem desi-
gualdades sociais muito grandes"
 
Os livros são caros, poucos falam de nossa realidade cultural. Mas a verdade é que o livro não é matéria de necessidade, sinal de status ou pode ser usado para adquirir QI no ato de conseguir o emprego. Neste caso, o QI quer dizer: quem indica.


Marta Arretche, pesquisadora sênior, é professora livre-docente do Departamento de Ciência Política da USP e Diretora do Centro de Estudos da Metrópole. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas, doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado no Departamento de Ciência Política do Massachussets Institute of Technology (EUA). Foi visiting fellow do Departament of Political and Social Sciences, do Instituto Universitário Europeu, em Florença.
Fez parte do fórum sobre instituições políticas sob o Governo Lula, no 34º encontro anual da ANPOCS, em Caxambu, Minas Gerais. Falou sobre a importância do programa Bolsa Escola ter atingido 750 mil estudantes brasileiros, da abertura de 14 novas universidades e cem novos Campi de ensino.

No entanto, sabemos que não resolve preparar estudantes para um mercado de trabalho inexistente. Aqui, em Caxambu, temos como exemplo a migração de estudantes para outras cidades em busca de estudo universitário e emprego. O censo do IBGE, concluído recentemente comprovou que hoje o município conta com 21.706 moradores,um aumento de quase 700 pessoas se comparado aos dados de 2007.

O censo do IBGE, concluído recentemente, comprovou que hoje o município conta com 21.706 moradores, um aumento de quase 700 pessoas se comparado aos dados de 2007.


Nenhum governante quer ver inchar as grandes metrópoles brasileiras, já sem infraestrutura para receber imigrantes do interior brasileiro em busca de educação e melhores oportunidades de emprego. A ordem é fixar os habitantes em seu centro de origem. Mas, para isto, é necessário que os governos criem condições para que os cidadãos possam encontrar sua plena realização em casa, ou seja, na cidade onde vivem.

Basicamente temos três regimes de mercado de trabalho com suas consequências sobre o sistema previdenciário; a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas, onde o empregado goza de férias, 13º salário, vales transportes e alimentação, o empregador paga metade da previdência. Há outra categoria, os funcionários públicos taxados pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello, como os marajás deste mercado. Podemos pedir licença, entrar em crise, temos aposentadoria integral etc. Com relação aos trabalhadores CLT nós temos benefício que eles não têm. Uma desigualdade importante entre estes dois mercados de trabalho. Há um outro regime que não oferece nada para seus trabalhadores, amplamente desprotegidos. A previdência é paga por eles mesmos, não tem direito às férias remuneradas, etc.


Está na agenda de vários países, como a França, a Itália e a Holanda, a ruptura com este modelo de desigualdade, que segmenta as diversas categorias de cidadãos por distintos
status profissionais. Esta reforma é chamada de conversão do vício em virtude visto que se propõe a acabar com as desigualdades. São os países de esquerda que mantém esta proposta visto sua capacidade de negociação com os sindicatos e reunir bancadas políticas favoráveis a seus projetos.


Em 2003, o presidente Luís Inácio Lula da Silva enviou ao parlamento a reforma previdenciária e do trabalho, mas ela não anda. Em 2007, o presidente enviou para o parlamento o PL 19 que tentaria criar a previdência complementar para os servidores públicos e ela não foi à votação. Dentre as reformas esta foi uma que pagou o preço do mensalão, dada as composições políticas que o presidente precisou fazer.


Hoje, comemoramos com relação às desigualdades trabalhistas entre os que têm carteira assinada e os que não têm; caiu de 4 para 1, de 3 para 1, segundo os dados da pesquisa de emprego e desemprego que se concentra nas regiões metropolitanas, explicada pelas auditorias do mercado de trabalho e pela expansão da economia.


Com isto, estou querendo dizer que reformas mais profundas na questão de desigualdade do sistema social brasileiro exigiria uma coalizão menos heterogênea que aquelas que os presidentes brasileiros têm tido dada a fragmentação do sistema partidário. Na verdade, a transformação das desigualdades tem se dado mais por transformações do mercado de trabalho do que por capacidade do presidente em aprovar uma reforma que reduziria a desigualdade do ponto de vista do desenho dos sistemas.”



Portanto, enquanto os municípios não conseguirem atender a demanda de seus moradores para formação profissional e com empregos que possam ocupar e tocar a vida, as cidades continuarão inchando e enfrentando os mesmos problemas de hoje. Em todo o país, o índice de desemprego continuará crescendo, pois a cada ano novos profissionais são jogados num mercado de trabalho inexistente sem conseguir ressarcir sequer seus gastos com os estudos empreendidos para sua formação profissional. Este é um caso sério para ser pensado, pesquisado e solucionado. Mas quem o fará?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A TEORIA DA HIERARQUIA EM SALA-DE-AULA

Por Ana Laura Diniz

A educação tradicional prega: aluno de um lado, professor de outro. Como água e óleo, ambos até coexistem, mas jamais se misturam. E cria-se aí, um fosso de relacionamento. Mas será que a prática atual é mesmo essa? “Hoje, a ultra-democratização de tudo, criou um gap de respeito irreversível. A aura de ‘professor’ se esvaiu. Pode ser retrógrado, mas respeito é bom e se perdeu. O mestre sabe mais. O discípulo pode saber diferente, mas ainda não percorreu o caminho do mestre. E todos nós ainda precisamos de mestres. Não interessa de quem é o poder, interessa o poder que o saber confere”, afirma a tradutora Elaine Pereira, 44 anos, de São Paulo, capital.

Vera Guimarães, 68 anos, de Brasília/DF, corrobora e acrescenta: “tenho saudade do fosso”. Claudia Lyra, 42 anos, de Resende/RJ, bacharel em Direito e funcionária pública, lembra que hierarquia, em priscas eras, se chamava respeito a autoridades escolares. “Esse respeito anda muito raro, o que traz prejuízo para todos os envolvidos. Se pudesse, cavaria um fosso mais fundo e largo para ver se as pessoas se emendam”.
Jorge Fernandes: "O professor ideal
é aquele que ouve o aluno"


SALA-DE-AULA - Para Jorge Luiz Silva Fernandes, 23 anos, estudante de Pedagogia da Faculdade Victor Hugo, em São Lourenço/MG, o distanciamento entre professor e aluno prejudica o aprendizado. “As coisas só funcionam a partir do momento em que há interação entre elas -, e não existe interação sem consentimento”, diz. “O professor ideal seria aquele que não absorve o problema do aluno nem a realidade dele, mas que tente ao máximo ouvi-lo”, acrescenta.

Dos sete professores em seu terceiro semestre na faculdade, segundo Fernandes, dois apenas promovem essa interação. “Como conseqüência, a aula torna-se produtiva, o assunto flui. Do contrário, fica extremamente chata, pois ou o tema não se desenvolve ou se desenvolve, não estimula o aluno à pesquisa, ao desenrolar da matéria, ao desejo de se trabalhar dentro daquela área, seja ela qual for.”

Caio Penha: "A hierarquização é coisa
do passado"
No entanto, nem todos nutrem o mesmo sentimento. O estudante Caio Luiz Carvalho Penha, aluno do 2º ano do Centro Educacional Genny Gomes, em Caxambu/MG, garante que não existe mais a hierarquização em sala-de-aula. “Isso é coisa do passado, pois a realidade social e a própria concepção dos jovens hoje em dia, favorece para a construção de um ambiente de troca. Claro, que respeitando o universo acadêmico e intelectual de cada um. Respeitando essa premissa, há espaço para perguntar, para aprender, sem que nos sintamos inferiores.”

INTERNET – O estudante ainda crê que a tecnologia, a tamanha amplitude dos meios de comunicação e a informação, faz com que os alunos sintam-se suficientemente preparados para obter conhecimento não da principal fonte – que é o professor – mas da Internet, que serve de complemento ao ensino. “Hoje o google é também uma espécie de professor. O wikipedia, dentro desse universo, seria um professor bem mediano, uma vez que qualquer pessoa pode alterar o seu conteúdo e, muitas vezes, de forma errada. Parece loucura, não é?”, questiona enquanto sorri. “Ou seja, é preciso cuidado para lidar com esse tipo de professor, mas eu diria que todos esses artefatos cibernéticos abrem espaço e quebram aquela antiga realidade de que o professor é detentor do saber imparcial e universal. É fato que o professor detém o conhecimento numa escala muito maior que a do aluno, mas se o aluno tiver acesso ao cronograma da matéria estudada, pode pesquisá-la com facilidade e, por conseguinte, questionar e perguntar ao professor de igual para igual – lapidando o seu conhecimento”, finaliza Penha.