Por Dorothy Coutinho
Amigas,
Acabei de terminar o texto UMA DENTADURA INTEIRA cheio de revolta com a guerra recheada de jovens nas cidades. Mais uma vez, fiquem muito à vontade para colocar no ar ou não.
Estou meio arrasada. O meu cão o Farofa, anda tendo muitos altos e baixos no quadro de sua saúde. A suspeita agora é de uma úlcera. O sacana come de tudo além da ração. Quer dizer, de quase tudo que comemos um pequenino pedaço é dele, o que veio somando ao longo dos seus 13 para 14 anos de vida terrena.
Está chegando o fim do seu companheirismo por aqui.
Dizem que a média de vida dessa família de bassê é de 14 anos.
Daqui prá frente é só colocar o coração na mesa e esperar. Quando ele morrer, ele terá um enterro decente, uma missa de 7º dia, uma sepultura bem bonitinha com um arco-iris pintado na lápide. Só não prometo rezar um terço pela sua alma.
Está chegando o fim do seu companheirismo por aqui.
Dizem que a média de vida dessa família de bassê é de 14 anos.
Daqui prá frente é só colocar o coração na mesa e esperar. Quando ele morrer, ele terá um enterro decente, uma missa de 7º dia, uma sepultura bem bonitinha com um arco-iris pintado na lápide. Só não prometo rezar um terço pela sua alma.
Eu? Bem, eu vou seguir em frente. Fazer o quê? A morte, essa araruta, estará sempre agendando o seu dia de mingau entre nós, os seres vivos!
Beijocas
Dorothy, Ana e Farofa – agora um ancião.
Detalhe: ainda não sei enviar anexo. Por isso fiz essa mensagem separada do texto.
Detalhe: ainda não sei enviar anexo. Por isso fiz essa mensagem separada do texto.
UMA DENTADURA INTEIRA
Estamos à sombra de uma guerra, explicitada nos meios de comunicação, com cenas em close-up, e o uso de todos os recursos tecnológicos à mão para que possamos assistir à matança nos quatro cantos da Terra.
Algumas pequenas guerras são mais ou menos ignoradas, mas elas estão acontecendo em países, cidades, casas, aqui e ali. O impulso destrutivo se espalha protegido por leis confusas, modelos escusos e permissividade que vem do berço e acaba no trono. O ser humano não é original. Se recobre de algum requinte, mas continua feroz. Contempla a violência atual, pensando na violência na Idade Média, nas Cruzadas ou durante a Santa Inquisição.
Nos idos tempos de infância presenciei meu único tio esticar uma minhoca e dividi-la em duas partes para serem espetadas no anzol de sua pescaria. Era a maldade permitida. E agora que tudo se quadriplicou, voltamos à prática diária da lei de Talião. Dente por dente.
Esses garotos e garotas possuem algo mais que a rebeldia natural da idade. Os jovens estão sem argumento. Trata-se de uma rebeldia vinda do desespero. Eles cresceram assistindo uma quantidade exagerada de violência na tevê, no cinema, no computador e idolatram músicos que traduzem coisas como “eu escrevo minhas próprias leis com a morte”. Eles têm pouco contato com o pai e a mãe, mantém amizades de faz-de-conta e são soterrados pela avalanche de informações que mal conseguem filtrar. A felicidade não se concentra mais em amor, saúde, e dinheiro. Agora é sexo, popularidade e muito, muito, muito dinheiro. Mas nada é tão preguiçoso do que procurar um motivo aparente, para transformar um ato estapafúrdio ou macabro em espetáculo.
A sociedade não dá chance aos invisíveis, derruba valores éticos e morais sem substituí-los por algo que valha a pena. Quem tem uma vida modesta se frustra e conclui que é uma pessoa que não existe, que não conta, que não vale. Muitos resolvem dar o seu recado na marra. Uma arma na mão e na cabeça a lei de Talião. Dente por dente.
- No emprego o homem não consegue que lhe paguem o que ele precisa, mesmo sabendo que está despreparado para o cargo. Fica furioso e fácil, fácil mata uma pessoa.
- O jovem casal viciado não consegue a droga sem grana. Bingo! É só assaltar o jovem que está chegando do trabalho ou da faculdade e pegar seu celular, seu par de tênis, seu boné e o que possa ser moeda de troca. E se lhes der na telha ainda são capazes de dar um tiro na barriga da vítima.
- No escritório onde trabalha o chefe tem motorista, carrão, mulher capa da revista Playboy, e ele, não tem nem para pagar o cata-corno e voltar para o seu “cafofo”. Num sinal de trânsito assalta o casal dentro do carro, simula a posse de uma arma e no dia seguinte ficamos sabendo do resultado: “casal é assaltado com violência e estupro”. A lista de vítimas da guerra urbana é infinita. Mas a grande maioria dos adolescentes que aí estão não conseguirá ganhar fortunas, não vai virar artista nem doutor, não vai casar com homens com barriga de tanquinho nem com mulheres capas de revistas: eles vão ter uma vida normal. E se o normal seguir não servindo pra eles, pobres de todos nós. Dentes por dentes. Quem sabe logo uma dentadura inteira!