Carlos Frederico Abreu
COMO SE CONSTRÓI UM PAÍS SEM CRIANÇAS
Está no Washington Post: o baixo índice de nascimentos no Japão nas últimas décadas se tornou uma crise de governo. Comissões foram criadas para estudar medidas para reverter o quadro.Não é brincadeira, trata-se de uma questão de sobrevivência, com implicâncias catastróficas a longo prazo. Atualmente, grande parte dos efeitos são amenizados pelo ingresso de estrangeiros, suprindo posições e cargos, mas esta solução nada garante, já que não se criam raízes, nem se preserva a cultura.
Difícil trafegar nesta via de muitas mãos, sem esbarrar com o psique, com a natureza de um povo que ainda preza a estrutura familiar, tendo como fundamento o casamento tradicional.
Hoje, as mulheres solteiras com menos de 30 anos querem construir sua independência, planejando construir sua família após os trinta anos. As mulheres com mais de 30 anos se queixam que os homens querem substituir uma mãe por outra e acumulam tarefas e obrigações no trabalho - incompatíveis com criar filhos (sem a ajuda do marido).
Por sua vez, as empresas são relutantes em contratar ou manter mulheres com filhos, apesar das leis que proíbem esta discriminação.
Acompanhando uma tendência similar a Taiwan, Singapura e China e Coréia do Sul, o número de mulheres solteiras dobrou em 10 anos e, de acordo com estudos da saúde feminina, a fertilidade vem caindo nas últimas três décadas.
Entre as medidas adotadas pelo governo está a orientação para que as empresas de não mantenham seus funcionários homens até tarde no escritório, procurando assim, melhorar a qualidade de vida da família e, conseqüentemente, aumentar o número de bebês.
Para piorar a situação, culturalmente a mulher japonesa tende a largar o trabalho com o nascimento do primeiro filho e não consegue retornar anos depois.
Um japonês trabalha em média 60 horas por semana e apenas 0,5% se utiliza da lei que garante o descanso com a família. Na Suécia o número é de 17%.
Dentro do trabalho, os homens permitem que as mulheres se expressem, desde que não tenham que obedecê-la. Outra pesquisa diz que os homens divorciados voltam a casar em menos de 2 anos, enquanto as mulheres divorciadas raramente o fazem.
Ainda assim, os casamentos continuam populares: somente 4% das mulheres com mais de 45 anos nunca se casaram. Mais raro ainda são aquelas que tiveram filhos sem estarem casadas, menos de 2% de todos os nascimentos. Mães solteiras ainda são um tabu, assim como casais vivendo juntos sem estarem casados e também a adoção por solteiras.
A adoção não é uma opção para casais sem filhos, por questão de laços sanguíneos, perpetuação do nome de família, etc.
Apesar do seriado Sex and the City fazer grande sucesso no Japão, a iniciativa romântica por parte das mulheres é bastante mal vista pela sociedade.