Por Dorothy Coutinho
Se me sinto rígida feito um membro da guarda real, levanto a bunda da cadeira, ocupo a sala, aumento o som, esqueço os vizinhos, e por meia hora, sob o olhar curioso, às vezes de protesto, do meu cão Farofa, libero os meus movimentos e me entrego ao embalo da dança. Esse tem sido um dos meus momentos para ficar feliz.
No entanto, ser ou estar feliz, no contexto que conheço significa o cumprimento das metas tradicionais: bom emprego, ganhar algum dinheiro, casar e ter filhos. Conseguir se enquadrar como o esperado. A vida tal qual manda o figurino. Feijão com arroz.
Mas, o que fazer com minhas outras ambições e com o meu lado transgressor? Ser feliz é tão importante que passei a entender que mais vale uma vida sem fricote. E se o meu apocalipse cair numa sexta-feira, só pra me esculachar, ainda haverá tempo para eu dizer coisas como: esperei aí! E o dinheiro da Loteria vai ficar com quem?
Já troquei de cidade, investi em projetos sem garantia, interessei-me por gente desinteressante, aceitei estranhos convites, mudei a minha cor preferida, troquei meu prato predileto, comecei do zero, não me assustei com a passagem do tempo, tosei o cabelo, fiz loucuras por amor, e continuo subindo no palco com a minha passagem só de ida.
Inconseqüente? Não. Não precisamos perder nada disso com a passagem do tempo. Quero que o fato de ter uma vida simples e prática não me roube o direito ao desatino e que eu nunca aceite a idéia de que a maturidade exige um certo conformismo. A vida interessante não é prerrogativa de nenhuma classe. Ela é acessível a todos que assimilam bem as regras do jogo – trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir pro céu.
E vai estar tudo lá: o suicídio do Titanic, o naufrágio do Getúlio, a história do terrorista Bin Laden, o Nem do Paquistão, Homero, Sarney - o 4º escritor mais velho do mundo, cuja idade ninguém sabe por que ele tinge o bigode, e muito mais.
Mesmo com a urucubaca da idade, eu não sou velha: eu sou vintage!