Por Esther Lucio Bittencourt
Foi na Pasárgada, Galeria de arte de Pedro Leal que encontramos um dos irmãos de Ivon Curi. Lembram, o chansonier, o cantor do Retrato de Maria? Ele nasceu e morou em Caxambu e quem nos conta a história dele e da família é Roosevelt Bechara José Curi, meio irmão, por parte de pai do Ivon e o caçula da família que fará 70 anos em agosto.
Nasceu em 1941, em Caxambu onde viveu até março de 1954, quando perdi meus pais, José Kalil Curi e Zilah Miranda de Oliveira Curi.
“Bem, a história é a seguinte: meu pai casou-se quatro vezes. A primeira esposa morreu durante o parto do primeiro filho, que também faleceu. Posteriormente casou-se com a irmã de sua mulher que morrera e que também faleceu da mesma maneira. Aí ele tentou uma terceira vez. Nasceram sete filhos; Geny, Edith, Jorge, Farid, Walter, Adib e Ivon. Mas aí a terceira mulher faleceu também. Ele casou-se com a quarta. E aí eu nasci.
Morávamos todos aqui onde hoje é a Padaria Santa Clara. Não tenho mais casa aqui. Estou comprando um apartamento no Edifício Demétrio Jamal, mas minha cunhada, a mulher do Ivon, mantém uma casa aqui no bairro federal.
Ivon Curi Foto: Google Images |
A família saiu de Caxambu para tentar a vida no Rio de Janeiro. Então, três dos irmãos se tornaram conhecidos no rádio, Jorge foi o primeiro. Era locutor esportivo, mas a profissão original dele era dentista. Como se deu tão bem como radialista deixou a profissão antiga. E o Alberto Curi, que também trabalhou em rádio e o Ivon, que era o mais conhecido.
Despedida de Jorge Curi na rádio Globokhz 1220 em 1984
Vamos recordar a voz do Ivon Curi: ele canta “Delicadeza”, em 1956, no filme “Depois eu Conto” de José Carlos Burle e Watson Macedo. Na cena estão Dercy Gonçalves e Eliana Macedo.
Delicadeza" é um fox de Pedro Rogério e Lombardi Filho, e foi gravado por Ivon Cúri na RCA Victor em 12 de agosto de 1955, com lançamento em outubro do mesmo ano (78 rpm 80-1513-B, matriz BE5VB-0846)
Hoje Roosevelt está aposentado após ter trabalhado muitos anos na Varig, lidando com importação e exportação.
“Venho todo mês à Caxambu onde ainda tenho parentes, primas, primos... então venho sempre. É minha terra e gosto muito daqui.
Nasci aqui durante a segunda guerra mundial, quando ela terminou tinha 4 anos de idade e em Caxambu não houve racionamento, falta de alimentos. Os ecos que aqui chegavam, para mim, passavam desapercebidos. Talvez por ser uma cidade do interior, mais tranquila.
Só sei que meu pai, durante a guerra, ele que era comerciante, tinha uma espécie de armarinho, vendia de tudo, perdeu seu negócio. Mas depois se recuperou.
Hoje todos os irmãos estão mortos, menos eu e o Farid que mora no Rio, mas sempre tive um bom relacionamento com o Ivon. Era o irmão mais próximo. Quando meu pai morreu ele me assumiu, cuidou de mim e me encaminhou na vida. Ele foi um ser humano fantástico! Aliás, uma das características mais marcantes do Ivon, é que gostava de ajudar as pessoas. Não só os familiares como também os amigos. Como tinha muito conhecimento no meio artístico de forma direta ou indireta sempre estava ajudando alguém.
A música que mais gosto das que ela cantava, e ele era um bom compositor também, era “Escuta”, feita por ele, que também foi gravação da Ângela Maria e, agora, a Ângela e o Emílio Santiago fizeram uma gravação desta música que está maravilhosa.
E tem também “O Retrato de Maria”, composição dele e que somente ele cantava. Ele se apresentava no palco com uma foto, fazia pepel de embriagado, fala com o retrato e, no final, ele rasga o retrato e começa a chorar.”
RETRATO DE MARIA - SILVIO BRITO imitando Ivon Cury no "Jô Soares”
Ivon Curi, nascido em 5 de junho de 1928, passou a infância e a adolescência em Caxambu. Em 1940, quando mudou com a família para o Rio trabalhou na Pan American Airlines em terra. Iniciou sua carreira artística como cantor em 1947, contratado como cantor principal da orquestra do maestro Zaccarias, do Hotel Copacabana Palace.Em 1960, gravou, ao lado de Elizeth Cardoso, um jingle para a campanha vice-presidencial de João Goulart.
“O Jorge e o Adib, que era o Alberto, ajudaram o Ivon a iniciar no rádio. Eles já trabalhavam na rádio Nacional e ajudaram-no . Ari Barroso o apreciava muito . Ivon ficou conhecido como chansonnier, por sua voz aveludada, a capacidade interpretativa e porque apreciava o repertório francês, com perfeita pronúncia do idioma.”
A solidão do braço e do vinil girando no prato da vitrola
Ivon Curi aos 11 anos venceu um concurso de calouros em Caxambu e, no Rio trabalhou também no Laboratório Silva Araújo antes de se tornar crooner. Em 1947 foi contratado pela Rádio Nacional e depois pela Tupi. Com “L avie em Rose “ e “Pigalle” estourou nas parades de sucesso.
Sua primeira gravação foi “O Adeus”, música de Dorival Caymmi, mas sem qualquer êxito comercial. Na rádio Nacional era o astro do programa “Ritmos da Panair” Em 50 foi eleito o Rei do Rádio . Na época seus discos 'Me Leva' (com Carmelia Alves), 'Farinhada', 'João Bobo', 'Feijão', 'Ta Fartando Coisa em Mim', 'Amendoim Torradinho' e 'Xote das Meninas' ficaram entre os dez mais vendidos do país.
Nesta ocasião excursionou pelo Brasil e pela Europa e tornou-se, definitivamente one man show, como se dizia á época. Nos anos 60 , com o movimento jovem guarda, deixou de gravar e dedicou-se ao seu restaurante “Sambão e Sinhá” que vendeu em 1984 e foi excursionar por Portugal onde fez enorme sucesso e voltou à televisão e aos discos.
IVON CURI - PROCURANDO TU
PERGUNTAS DE ANA LAURA DINIZ
Ana Laura - O Ivon Curi, faria sucesso no Brasil de hoje?
Roosevelt - Seria muito difícil para ele fazer sucesso no Brasil de hoje porque o tipo de música que se faz hoje não se encaixaria bem no repertório dele
Ana Laura - Qual a sua visão do Brasil de antes e o de agora, na questão musical e cultural?
Roosevelt - Na questão cultural eu acho que houve evolução, mas a época em que ele viveu também foi muito boa, muito rica . A Rádio Nacional na época era considerada como hoje o é a TV Globo. Os melhores programas eram da Rádio Nacional que tinha muitos ouvintes. Ele sofreu como todos os artistas as sanções impostas pela ditadura, mas sobreviveu.
IVON CURY, 1957, DE LUIZ VIEIRA, "ESTRADA DO COLUBANDÊ"
Colubandê, que dá título a este xote de Luiz Vieira, é um distrito da cidade fluminense de São Gonçalo. Ivon Cúri o gravou na RCA Victor em 11 de janeiro de 1957, com lançamento em abril do mesmo ano (78 rpm 80-1767-A, matriz 13-H2PB-0015), e logo em seguida o próprio Luiz também a gravou na Copacabana. "Garotas e samba" tem metragem total de 103 minutos, mas a cópia disponível tem várias cenas cortadas, inclusive números musicais.
Ouça Roosevelt Bechara Curi cantando a capella!