sábado, 30 de abril de 2011

84, CHARING CROSS. ARTISTAS DE (OU NA) RUA

Por Vera Guimarães

Será que eu não tenho andado pela cidade ou por aqui nao existem artistas de (ou na) rua? De dentro do carro, vejo malabaristas e sopradores de fogo, crianças jogando bolinhas pra cima, um velho cego tocando seu instrumento. Quando em férias, sou abordada pelos cantadores nas praias do Nordeste. Os primeiros me dão uma tristeza..., enquanto os segundos me aborrecem e eu me sinto constrangida e invadida por ser obrigada a lhes dar algum dinheiro, mesmo não querendo.

Em praticamente todas as cidades da Europa por onde passemos, em cada trecho de rua tem um violinista, um trio, um quarteto, um artista sozinho. Quase todos conseguem público. A maioria deles parecem bons. Ainda que esteja solando um allegro manjado, para fazer isso o indívíduo se esforçou muito, repetiu muita escala, tentou e tentou muitas vezes até conseguir aquele milésimo de segundo que define o andamento certo. E dentro desses artistas algum dia teve uma chama.

O que os levou à rua? Quantos sonhos foram desfeitos, em que momento da jornada eles concluíram que esbarraram no limite do talento e da capacidade de ir adiante, quantas urgências os obrigam a isso, e só lhes resta a rua? 

Chorei ali parada numa esquina fria de Viena, noite chegando, ao ouvir as três meninas vestidas de preto, muito compostas, duas delas  com traços orientais, tocando a Ária da 4a. Corda, de Bach. Não as registrei. Não tive coragem.