Por Esther Lucio Bittencourt
Projeto Memórias Reveladas
foto recolhida em google, danilo
Quando se fala em primeiro de abril nos reportamos ao dia da mentira. Mas para nós, brasileiros, foi quando as autoridades militares passaram a nos mostrar como era viver na Idade das Trevas, na Idade Média quando a Santa Inquisição queimava e degolava pessoas que eram injustamente acusadas de bruxaria ou não professavam o mesmo credo da igreja católica.
Vivi no Doi Codi de São Paulo momentos de violência que me obrigam até hoje a usar medicamentos. Mas, quando falo do meu caso, até me envergonho, em lembrar de amigas que tiveram seus uteros inutilizados por choques, foram estupradas até com cabos de vassoura, passaram anos presas sofrendo toda espécie e insultos e desrespeito, foram assassinados os meus amigos também, sem que a sociedade brasileira acordasse e tomasse conhecimento do que acontecia.
Enquanto as famílias doavam ouro para a Nação e faziam ouvidos moucos ao clamor das ruas em protesto aos assassinatos em massa, respondendo com procissões em nome da famíliam e da religião.
Quando acordaram, o país já estava encaminhado a uma era de violência que ainda não terminou, que ainda provoca mortes por balas perdidas , quando se tira vida por “ dá cá aquela palha”. Corre na internet uma frase sobre a semana fantástica que vivemos recentemente: “"Na última semana beatificamos um papa, casamos um príncipe, fizemos uma cruzada e matamos um mouro. Bem-vindos à Idade Média!". E todos consideram normal que estes fatos aconteçam. E todos se permitem participar, ser cúmplices destes fatos como meros espectadores, sem questionamento. Hoje como antanho.
Portanto, resgatar nossa memória , que é o que "Senhora do Tempo" busca fazer, dentro de sua humildade de Primeira Fonte é o que o Arquivo Nacional faz este ano. Mas com data marcada. Enquanto a memória precisa ficar impregnada dos erros do passado para que eles não voltem a ser cometidos.
Este é nosso trabalho. E, por isto, o Primeira Fonte existe.
Elb
"Registro de uma guerra surda"
foto recolhida em google, danilo
No Arquivo Nacional
até 26 de agosto deste ano das 8:30 às 18 horas, na Praça da República, 173, Centro, Rio de Janeiro. Visitas guiadas, telefonar para 2179-1273, usando o código da cidade que é 21.A entrada é franca, os contatos podem ser também pelo email pi@arquivonacional.gov.br.
O projeto Memórias Reveladas é uma iniciativa do governo federal, que já canalizou recursos para arquivos regionais em vários estados captados junto à Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Eletrobrás e BNDES. A exposição foi inaugurada em 1º de abril de 2011, na sede do Arquivo Nacional no Estado do Rio de Janeiro.
A mostra audiovisual na cave do Arquivo Nacional, paralela à exposição Registros de uma guerra surda, ocorre às segundas feiras, 10:30 e às quartas feiras, às 15:30.
Os filmes exibidos na mostra incluem imagens de arquivo, curtas-metragem, produções independentes, registros pessoais, e envolvem temas como repressão, militância, movimentos sindical e estudantil, propaganda ideológica, exílio, golpes militares na América Latina.
Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob um regime de exceção que se apoio fortemente em uma legislação autoritária, em um abrangente sistema de vigilância e repressão, e ações extra-oficiais contra opositores do regime, representadas por prisões ilegais, torturas, mortes suspeitas e desaparecimento. Durante o período, grande quantidade de documentos foi produzida pelos órgãos oficiais de repressão política, como sumários informativos, fichas de polícia técnica, relatórios de atividades daqueles considerados "subversivos", fotos de atividades "suspeitas" e pareceres da censura.
Hoje, essa documentação encontra-se guardada no Arquivo Nacional e também em arquivos regionais Brasil afora. O projeto Memórias Reveladas, que busca organizar e divulgar estes acervos e manter viva a memória deste período, traz a público a exposição Registros de uma guerra surda, uma amostra não apenas da documentação oficial, mas também daquilo que foi produzido por órgãos de imprensa e organizações que se dedicavam a combater o regime.
foto recolhida em google, danilo
A partir do sexto ano o interesse do aluno já poderá ser despertado pela temática da exposição. A história recente do Brasil e questões que vêem sendo discutidas ultimamente (inclusive com ecos na grande imprensa, como a condenação do Brasil pelo tribunal Interamericano, em conseqüência da não-investigação de casos de violação dos direitos humanos durante a ditadura militar) representam um ponto fundamental na educação escolar, e parte integrante do currículo. Além da rede regular de ensino, o ensino de jovens e adultos só teria a se beneficiar do conhecimento e das discussões que a exposição proporciona, posto que a educação política é parte crucial da formação cívica dos brasileiros.
A exposição se divide em cinco módulos:
1. Institucionalização de um regime de exceção. A exposição abre com o golpe de 1964; emissão dos Atos Institucionais que pouco a pouco cercearam as liberdades políticas; estruturação do SNI, vigilância e serviço secreto; listas de cassados; o fechamento do Congresso Nacional.
2. Da repressão à reação. As greves e passeatas e a repressão a elas; prisão de manifestantes e militantes; organizações de luta armada: seqüestros, apreensões, prisões, atentados; guerrilha do Araguaia; censura às artes e à imprensa.
3. A face pública do regime. O terceiro módulo mostra a propaganda que os governos militares faziam de si mesmos. O milagre econômico; o patriotismo exacerbado em datas cívicas; o apoio de organizações civis.
4. O começo do fim. O início da abertura; a relutância do governo em abrir espaço para a democracia; o recrudescimento das greves e passeatas; imprensa alternativa; abertura gradual; movimento pela abertura e pela anistia; diretas já.
5. O projeto Memórias Reveladas. Ações regionais patrocinadas através do projeto Memórias Reveladas.
foto recolhida em google, danilo