quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA COM O PREFEITO LUIZ CARLOS PINTO: EFEITO RASHOMON

                                                               Prefeito Luiz Carlos Pinto



Esther Lucio Bittencourt

“Parece que estamos vivendo aqui em Caxambu, com algumas pessoas, o efeito   Rashomon. Explico: Rashomon é o nome de um filme do diretor japonês Akira Kurosawa que sugere a impossibilidade de se obter a verdade sobre um fato quando há conflitos de interesses.  A indicação foi utilizada pelo antropólogo americano Karl G. Heider.


Este efeito retrata com precisão as interpretações  da pessoa que olha um fato pela ótica que lhe é conveniente. Portanto, olha-se para ver o que ser quer ver.
Na psicologia, o efeito Rashomon informa que é possível que existam versões diferentes e contraditórias sobre um mesmo objeto de estudo. Tudo depende do ator e da perspectiva. Deve-se pois, sempre que possível, triangular a informação. E esta é a função do jornalista e das pessoas que realmente desejam obter a informação correta.”

Assim começa a entrevista com o Prefeito de Caxambu,o médico Luiz Carlos Pinto.
Sucessor de gestores municipais anteriores que se alternavam no poder, o atual prefeito quebrou um paradigma: um pinto no terreiro disputado e conseguido pelas mesmas pessoas durante anos.

“As pessoas que estão me criticando publicamente  precisam fazer o trabalho completo do jornalista: ouvir o meu lado. Na imprensa local somente é publicada a versão que interessa para promover  insatisfação contra esta gestão que já passou por pelo menos três tentativas de impedimento. Em quatro anos! É muita sede de poder! Estou às ordens para quem desejar conversar comigo com o mesmo respeito que devoto a todo ser humano.”
Informou Luiz Carlos Pinto que esteve , pela terceira vez submetido a impedimento pela Câmara de Vereadores da cidade sob acusação de problemas na folha de pagamento do pessoal da prefeitura municipal.

A entrevista é longa. Vamos tratar do caso do abono pecuniário , primeiramente.

ABONO PECUNIÁRIO

“É o abono concedido ao trabalhador que vende parte de suas férias.  Eu, como médico da prefeitura, se quiser vender dez dias de férias e ficar aproveitando 20 dias, posso fazer. E isto serve para qualquer funcionário público, estadual, federal ou municipal. É legal. Aqui na Prefeitura sempre foi feito assim até com os secretários que não fazem parte do quadro do funcionalismo. Quando se viu o erro, que vem se arrastando por várias gestões anteriores a minha, imediatamente resolvi o problema. Determinei que o dinheiro já recebido fosse devolvido aos cofres público. E isto foi feito.

Em nenhum momento o RH _Recursos Humanos- alertou que isto não poderia ser feito. Ora, nas outras gestões todos tiravam 20 dias de férias e vendiam os outros dez . Mas quando veio à tona o problema com o pessoal do RH , cujos nomes não posso informar pois a questão ainda está sub judice, -são as pessoas do RH que estão envolvidas realmente em desvio do erário, do dinheiro público, e são funcionários da prefeitura de muitos anos, foi então que o Sr. Sergio Bassi, que faz auditoria da Prefeitura há vários anos, desde outras gestões, falou: não pode fazer isto! E o Sérgio Bassi que é um orientador do município, já estava prestando auditoria desde o tempo do Sr. Isaac Roshental, que foi prefeito antes de mim e em gestões anteriores.

O interessante é que nunca ele falou que isto não poderia ser feito. Deixou o barco correr! Então, para nós, estávamos seguindo uma linha correta em proceder da mesma forma. O cargo de Secretário de Governo é cargo de confiança então, em tese, não poderia vender 10 dias de férias.
Quando o Sr. Sergio Bassi deu o alarme os meus Secretários de Governo devolveram o dinheiro recebido e vão gozar férias  dos dez dias que venderam. Agora, estamos levantando sobre os Secretárias das antigas gestões que receberam e também serão obrigados a devolver o dinheiro. Não existem dois pesos, duas medidas.

Fui informado de que a declaração do Sr. Sergio Bassi na CPI da Câmara foi a seguinte: “Com a colaboração de Rodolfo e Augusto que me passaram os dados porque o Departamento de Dessoal não estava passando , começou-se a desconfiar  que havia problemas na folha de pessoal.” Rodolfo e Augusto são Secretário de meu Governo.
 Eu, prefeito, não tenho a senha do sistema. Então , meus secretários conseguiram entrar no computador e recuperar todas as folhas de pagamento.  Inclusive o Sr. Sergio Bassi disse no depoimento que ele já trabalhava para a antiga gestão e que foi o vice-prefeito, que também trabalhou na antiga gestão, quem o indicou.

Imediatamente pedi uma auditoria nas folhas de pagamento e informei ao Tribunal de Contas o que ser passava e solicitei que fossem tomadas medidas cabíveis. Tudo está sendo apurado. Infelizmente é um processo lento, que precisa seguir a ordem judicial para preservar nomes de inocentes e apontar os verdadeiros culpados sem inconsequências, ou leviandades. Tudo precisa ser muito consistente.”


PENSAR EM CAXAMBU

“Quando fui eleito a primeira coisa em que pensei foi em fazer crescer a minha cidade, que ela sobrevivesse por ela mesmo. E pensei comigo, qual seria o melhor  caminho? Uma Universidade. Foi feito o projeto da UFLA -Universidade Federal de Lavras- que tramitou no Ministério da Educação, foi aprovado mas eis que o MEC e os Reitores de sete Universidades Mineiras resolvem criar o primeiro consórcio brasileiro de Universidades. Um fato inédito. A partir de meados deste ano será iniciado o funcionamento aqui na cidade no prédio da antiga FUNABEM, -Fundação Nacional do Bem Estar do Menor- que pertence ao Governo Federal.

Como isto irá fazer crescer a cidade? Os pesquisadores que aqui estarão, com projetos novos, estudantes, o que permitirá que o município tenha algumas indústrias a partir destes projetos. Além disto, com o decreto de criação do Geoparque de Caxambu , que assinei em janeiro deste ano, a pesquisa sobre o valor curativo das águas minerais da cidade será fundamental para que a Crenologia possa ser melhor entendida e difundida.”

O partido do prefeito Luiz Carlos Pinto é o PHS, Partido Humanista da Solidariedade, que foi criado em 1966. É um partido pequeno no sul de Minas Gerais e o Dr. Luiz Carlos Pinto não fez coligações políticas de maneira a ter uma base sólida da Câmara de Vereadores.


Moro aqui, em Caxambu, por opção, desde que me aposentei da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, portanto há quase 20 anos e nunca vi um político ser tão prejudicado em suas ações como o atual prefeito. Ele quebrou a hegemonia que a há anos vigora nesta cidade: os mesmos prefeitos se alternavam no cargo ou elegiam as pessoas que indicavam.


Mas, a entrevista continua. Até sexta-feira.