quinta-feira, 7 de abril de 2011

CORRESPONDÊNCIA URBANA

O COTIDIANO DE TODOS NÓS; DEPOIMENTO DE JULIANA SALLES D`ALCANTARA




Querida Juliana,

Parece que o frio já está chegando. Pelo menos aqui em Caxambu esfriou muito. E chove, chove, chuva parideira, miudinha , daquela que pede para abrir um bom livro e ficar na cama entre cobertas macias. Aliás, os dias aqui vivem tão nublados, mesmo quando não chove, que acredito estar me aclimatando para morar na Suécia ou em Londres, onde visitaria minha amiga Sonja.
As ruas desta cidade estão esburacadas por demais. por qualquer canto que você ande precisa fazer malabarismos para desviar dos buracos e, nem sempre, isto é possível. Quando você acredita que pode melhorar nada vinga por aqui, que coisa, não?
E aí por seu lado, em Sampa, como vão as coisas? Como vai você Juliana, o que me conta da vida já vivida e do hoje? Gostaria de saber mais sobre você amiga, sua vida, seus anseios, trabalho, os encontros familiares.
Quando de nossos encontros, sempre entre muitos amigos, a conversa pessoal nunca prosperou. Mas por seu temperamento, o amor pelos animais, dá para sentir de longe sua índole. Quem dera o mundo fosse recheado de pessoas como você, amiga.
Saudades.

Beijo

esther

,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.


Juliana D`Alcântara to me

minha querida!

A vida por aqui é de mudanças! Eu, que passei meus 34 anos morando exatamente no mesmo lugar, na mesma casa, na mesma rua, mudando unicamente de quarto, para a casa dividida por paredes; a única solução que encontramos para que a vinda de minha avó para nosso convívio pudesse ser um pouquinho melhor.

Quando eu nasci, era uma rua e uma vizinhança muito tranquilas (meus pais dizem que quando se mudaram pra lá, mal havia asfaltamento nas ruas do bairro) e não se podia construir prédios de mais de 3 ou 4 andares, porque era na área do Palácio do Governo de São Paulo.
Anos depois, muito (para não dizer tudo, mudou) e eu brinquei muito e ralei os joelhos naquela rua. Ainda tinha medo dos terrenos baldios e hoje, todos viraram prédios de mais de 20 andares!

E, em alguns meses, tudo na minha vida mudou. Primeiro mudei de emprego. Ainda estou com um pé no outro, mas meu coração está em outra função, em outro cargo. Depois, mudei de endereço. Completamente. Saio do Morumbi para a Mooca, um bairro clássico e típico de SP. E, em breve, mudarei de estado civil também.
Na verdade, essa condição já está mudada no meu coração, na minha mente. Agora sou "esposa". Agora tenho "marido". E agora tenho casa. MINHA casa.

E tem a mudança também de sair de uma casa e morar num apartamento, coisa que nunca tinha feito antes. É todo um mundo a ser descoberto. Assim como devo descobrir o melhor supermercado, a melhor lojinha de badulaques (que eu chamo de 1 real), a melhor farmácia, o melhor caminho. Um novo bairro inteirinho (olha que delicia!) a ser descoberto nas minhas caminhadas (que eu AMO)

Muda também a minha condição de NÃO ter bichos (pelo menos por enquanto, até as coisas se equilibrarem um pouco mais). Coisa esta que tem me deixado saudosa. Eu sempre tive bichos. Um cachorro, um gato, todos ao mesmo tempo, e os amo, como você bem sabe.
Dificil chegar e não ter um rabinho abanando, uma orelhinha se levantado, uma lambida, um carinho. Mas é fase. Acho que primeiro é preciso colocar a casa em ordem, a vida em ordem. Ter um bicho é uma grande responsabilidade e eu sei disso muito bem. Até lá, faço dos bichos das ruas da Mooca, da vizinhança, das caminhadas, os meus bichos, converso com eles, acaricio-os (se eles me permitirem, claro, que não sou boba e tenho amor aos meus dedinhos).

Minha vida agora essa, minha Esther querida. E estou muito feliz de te contar. Pergunte o que mais quiser, sempre! (e espero que um dia eu possa te contar tudo o que você quiser saber, olhando novamente nesses doces olhinhos, no aconchego da sua casa deliciosa!)

amo-te!

beijos
Juju



Juju "coppertone"


Esther to Juliana

Juju, me conta como foi morar nesta casa cheia de pais , avó, irmãos. Conte com detalhes, por favor. Os gostos de cada um.

beijo

esther

.,.,.,.,.,.,.,.,.


Juliana D`Alcantara to me


Amada, eu acho que a melhor coisa da minha infancia, foi ter crescido numa casa cheia. Eu tenho dois irmâos (Daniel e Andrea) e nós sempre dividimos um único quarto, e quando a vó vinha (ela morava no Rio), era aquela briga né? Quando éramos crianças era uma delicia, mas depois fomos ficando maiores e começou a ficar inviável.

Por isso, quando tivemos que trazer a vó para realmente morar conosco, resolvemos alugar uma casa colada a nossa (geminada) e aí, passei a ter um quarto enorme só pra mim e minha irmã. Ela casou logo, aí fiquei com uma "mini-casa" dentro da casa. Era meu mundo. Um mundo enorme com um guarda-roupas azul....

Claaaaaro que quando dividamos o quarto, a gente brigava MUITO. Cada um tinha seu jeito, suas manias. Minha irmã sempre foi a mais organizada, e acho que era a que mais sofria. Eu sou bagunceira até hoje, mas uma hora me canso da minha bagunça. Meu irmão nunca ligou mesmo, era briga atrás de briga. Depois, vinham as brigas por conta da televisão. Cada um queria ver uma coisa, sempre todo mundo ao mesmo tempo. E aí, vinha pau! Meu irmão, muito sacana, usava do "privilégio" e "prioridade" que ele tinha, para estudar o seu trumpete. Aí, quando queria tirar a gente do quarto, dizia que ia estudar.... malandragem explicita!

Mas era uma casa alegre. Sempre foi. uma casa de músicos, de música, como você sabe. E a gente sempre tinha amigos, primos e afins por perto.
Era uma rua que tinha muitas crianças mais ou menos da mesma idade, vizinhos, amigos, família.
Brincamos muito na rua, curtimos bem uma época tão boa, que não existe mais (hoje em dia a criançada joga bolinha de gude no carpete, né?) eu tive uma infância muito feliz. E para ilustrar, te mando uma série de fotos que eu chamo de "coppertonne", você vai entender porque.... e também uma foto dos irmãos de pijaminha esperando o papai noel....

Bom, como vc sabe, nossa familia é de músicos há muitas gerações. bisavô, avô, pai, irmão, tios e primos..... a grande maioria vive de música até hoje.
Nosso "núcleo" familiar nasceu e cresceu pela música. meus pais se conheceram através dela e nossa família se manteve por ela. Não é nada fácil, mas sobrevivemos. Hoje meu pai dá aulas para futuros (ou apenas amantes) trumpetistas. Se achou nesse ramo de ensinar e é muito feliz.

Meu irmão também dá aulas, até em algumas faculdades de música (ele é formado em música pela ECA-USP), toca em muitos lugares em SP, acompanha alguns artistas em turnês, toca em casamentos e festas, (porque músico nao pode se dar ao luxo de nao aceitar trabalhos né?) e agora se prepara para fazer parte do elenco do musical New York, New York, que estreia em breve (dia 14, se nao me engano) aqui em SP. Ele é considerado um dos melhores músicos da geração dele no Brasil, é já tem muitos pupilos seguindo o mesmo caminho.


                                              Juju "Coppertone"


                                                         Juliana


                                                              irmãos de pijama

Os bisavós paternos de Juliana , Daniel e Andréa tocavam em salas de cinema no tempo dos filmes mudos: ela, flautista e ele, mestre de banda no interior de Minas Gerais, tocava um pouco de tudo. Seu avô paterno tocava violão, contrabaixo, piano e, principalmente, saxofone, tendo tido diversas orquestras de baile no interior de Minas e de São Paulo. O pai, Magno D’Alcântara, também é trompetista e seus tios, Nilson Alcântara e Carlos Alberto Alcântara, tocam bateria e saxofone, respectivamente. Daniel D'Alcântara tem, ainda, outros parentes músicos: o saxofonista Vitor Alcântara e o baterista Maguinho, seus primos.



Como podem constatar, caros leitores, a vida de Julina foi de música dos pés à cabeça.

                                       Juliana, ou Juju para os que tem o privilégio de sua amizade.