terça-feira, 5 de abril de 2011

PLANTAS COMPANHEIRAS




 Por Esther Lucio Bittencourt











Num cocho para alimentar cavalos, que é comprido e fundo semeei agrião da terra. Nasceu viçoso, lindo, com folhas largas de cor verde esmeralda. Cresceu, graças a adubo orgânico, ou como falam os técnicos, substrato orgânico. Junto com ele vingou muito caruru. Há o agrião da água, mas isto é outra história.

Assim como entre as pessoas existem os que se atraem, criam laços de amizade e se defendem, o mesmo sucede com as plantas. No caso do caruru, que também é comestível, ele defende de pragas, pulgões , lagartas, todas as plantas que sem ele e sem produtos químicos ficam suscetíveis ao ataques destrutivos possíveis e inimagináveis.

O trabalhador, que é da roça, criado na roça, destes que dizem diminói, kombida, apá, em vez de pá, finge que não escuta, e não deseja aprender nada pois acha que sabe o mundo, que é a biblioteca de Alexandria, mesmo sem saber o que é isto, e dá aula do errado, todo vaidoso veio me explicar a importância de retirar os carurus que protegiam o agrião.

agrião

Surtei. Por favor, deixe o vaso como está.! pedi. Mas era tarde e o agrião já era vítima de morte anunciada. As lagartas o devoraram em uma noite.
O sabor dele é totalmente diferente do que o que compramos em quitandas e supermercados. Aqui em Caxambu tem quitanda. Aos montes. Ele arde mais, é sumarento e não ressecado como plástico, tem sabor de agrião mesmo e o caruru, que se batido e cozido apresenta um azedinho agradável, acentua o sabor do agrião e seu perfume. Podem crer ao passar pelo vaso carregamos na alma o perfume agridoce dele e, no que o colhemos as mãos recendem , durante algum tempo, ao perfume exótico que ele traz escondido em seu sumo.
Minha mãe sempre fazia para nossas gripes xarope de agrião com guaco, folha de laranja da terra, poejo e o que mais estivesse nascendo na época. Para tosse comprida não: ela nos botava num avião da Pan air do Brasil, a pioneira na aviação brasileira, e subíamos e descíamos para acabar com tosse comprida ou coqueluche. Santo remédio!
Nesta época morávamos na Rua Floresta em Belo Horizonte e ainda se cozinhava com lenha. E lá vinha o homem da carroça pelas ruas preconceituosas de BH, onde em calçada em que passava negro o branco não andava, trazer nossa cota semanal que empilhava no fundo quintal comprido.
E é verdade; foi num vôo da Pan air que tomei minha primeira coca cola e provei o primeiro chiclete adams de hortelã, servido para desentupir os ouvidos, como conta a música de Milton Nascimento e Fernando Brandt que Elis Regina cantava.

Tergiverso. Deixe-me tomar o prumo do assunto: plantas companheiras, como sugeriu Vera Guimarães. Para preservar rosas, couve e brócolis plante junto arruda; se for plantas camomila que vá junto a hortelã. Este vaso está em crescimento mas já dá para bater a hortelã com suco e iogurte light no processador. É uma delícia. Um potinho de iogurte com dois copos de suco e hortelã à gosto. Serve até 3 pessoas. Mas é melhor para duas porque dá para repetir. Cebolinha você pode amigar com todas as plantas, companheirona como o caruru ela também acentua o sabor das outras.

A horta nunca deve ser monótona, é preciso flores para contrastar com os verdes de vários tons . Nada melhor do que gerânios entre as folhagens para repelir pragas. E criar, inventar, ousar deve ser a meta principal de quem planta para uso próprio.
Quando tinha gado plantava junto com o milho o feijão que ozoniza a terra. Depois das favas do feijão colhidas tudo era triturado na máquina para fazer silagem.
E plante alho se desejar ter em casa plantas medicinais como poejo, alcaçuz, anis, arnica, cânfora, cannabis sativa...ops! Cannabis, perguntará o arguto leitor. Não é a maconha? Sim, e Telinha não me deixará mentir: é muito usada no norte e nordeste do Brasil para curar dor de cólica menstrual e, hoje, para aliviar as dores do câncer.
Mas é claro que nunca plantei cannabis na minha vida. Nem sei o que é isto!
Anis, consegui umas estrelas agora e tento fazer germinar as sementes que estavam nelas.
Que os céus, com chuva e calor de outono me ajudem nesta empreita. Depois posso servir chás à rainha de copas e ao chapeleiro maluco. Quem sabe ainda sobra!






E, de quebra, uma casa no campo.