sexta-feira, 10 de agosto de 2012

84, CHARING CROSS - ROMA

Elaine Pereira



Eu fui a Roma. E tive muitos dias para namorar Roma. Porque em Roma não se anda de carro, e pouco em metrô e ônibus. Roma foi percorrida pelos donos do mundo no passado a pé, e suas marcas estão em todos os lugares. E é assim que se conquista Roma, a pé.

Não há lugar não interessante em Roma. Esta foi minha terceira vez, mas eu sou obviamente uma terceira pessoa diferente das outras duas que foram antes. Esta vez foi muito calma e muito bem aproveitada em muito boa companhia. E ainda era lua cheia.

A cidade transpira passado, a geografia, as Colinas, o calçamento do Forum Romano, a Via Appia antiga, pisar nas pedras por onde passaram exércitos vitoriosos. Sentir a traição a Cesar, respirar fundo e ouvir as feras no Coliseu, os gritos da multidão, o cheiro de sangue. A indefectível moeda na fonte, eu já nem sabia o que pedir, tenho feito tantos pedidos errados e tenho sido atendida…



Piazzas, piazzas, piazzas, cafés com flores, sol escaldante, a escadaria da Piazza di Spagna, como se o mundo não estivesse andando, só existissem aqueles degraus, de tantos, tantos passos.

E as igrejas. O Vaticano não é Roma, mas nem poderia ser. É interessante ver quando mudam os donos do poder. Em alguns pontos, só se vê os Imperadores em toda sua pompa e glória. Em outros, os Papas, os que mais se consideram donos do mundo, da verdade, da infalibilidade. O Papa vivo não vi, só os mortos.



Porém o que mais me impressionou das outras vezes e desta de novo foi que apesar de Roma ter uma igreja a cada 100 metros que se anda, o lugar mais religioso de Roma não está em nenhuma delas. É nas catacumbas que se sente o que realmente foi ser cristão. Elas serviram à nobreza também, mas sua função de abrigar os crentes silenciosos de boca amordaçada deixou as marcas em suas paredes, chão, afrescos, a 10, 20, 40 metros abaixo do céu. Faz pensar onde verdadeiramente é o inferno.

Poder tocar as paredes, pisar as pedras, olhar de frente a Pietà, ainda que através do vidro, e o Narciso a um palmo de distância, pôr a mão na Bocca della Verità, que não funciona mesmo, eu tenho dito muitas mentiras; a pasta, o gelato, il vino, in vino veritas, nem todas as verdades foram ditas em Roma.


A noite na cidade, a qualquer momento pode aparecer um legionário, um gladiador, um imperador, um constructor de Pantheons, meu Deus como aquilo pode estar lá, e não ter caído ainda?

Dentro de mim estava uma arena igual ao Coliseu. Eu briguei comigo mesma para no fim, na volta, perceber que foi tudo em vão. As escolhas foram feitas por si mesmas.  Veni, vidi sed non vici. A vitória é fugaz, mas quem foi rei nunca perde a majestade. Quem já foi Império Romano nunca perde a imponência, a pujança, aquilo que devíamos ter dentro de nós para vencer os leões que matamos todos os dias.