quinta-feira, 2 de agosto de 2012

“O EU É PLURAL. MÁSCARAS SEM ROSTO”

Por Ana Laura Diniz


Imagem do Google
Os labirintos do eu. Quantos eus existem no eu? Em busca constante da essência interior, o Homem permeia por lugares variados. Participa de jogos, de testes e simulados, de credos e muitas vezes busca na psicologia a explicação daquilo que lhe é tão importante e ao mesmo tempo tão distante: o eu.

O eu não existe. Imagina a angústia que isso gera para os que acreditam no contrário? Haja confronto psicológico, pois a maioria das pessoas é criada para ser digna, merecedora - quase que como consequência - de um eu feliz, ético e bem-sucedido.

No entanto, estarão os orientais à frente do tempo? O budismo há vários anos fala da não existência do eu. E por que, ocidentais, não aceitam tal hipótese? Por que há sempre um desconforto nessa afirmação? É como se passássemos a não existir e tudo o que fizemos e dizemos fosse mera ilusão? A desconstrução de Descartes, afinal, se o eu não existe, o que faço aqui?

Máscaras, simulacros e imagens. Daí, os tantos labirintos. Estes mesmos que muitos enveredam com sofreguidão à cata de alguém que verdadeiramente o ame e entenda. Mas como realmente encontrar esse alguém se não passamos de máscaras somadas a outras máscaras que nunca formam um rosto? 

Por outro lado, isso explica frases comuns de se ouvir: "na verdade, nunca sabemos em quem confiar, nunca sabemos como realmente são as pessoas". Na realidade, nunca sabemos quem nós mesmos somos e do que somos capazes de fazer. Em síntese, somos tudo e nada. Uma voz ecoada no abismo da solidão e outra no pico da montanha mais alta, onde o sol adormece por entre as matas. O que vemos é sempre uma pequena parte do todo. É a meia-verdade que Drummond tanto se referiu em vida.

Somos máscaras e não rosto. Temos cenas, mas não diretores ou atores. Os pensamentos independem do ser — e é fantástico.

Para quê então nos preocuparmos tanto? Para quê a pressa se tudo é tão efêmero? Tanta neura, tanto estresse, tanta depressão, a troco de quê? 

Se felicidade é o que se deseja da vida, imagine fazer apenas o que se gosta, e não o que às vezes se vê obrigado a executar. Sem culpa, condenação, julgamento, preconceito: a busca somente pelo bem-estar e pelo prazer. 

O filósofo grego Epícuro elucida isso muito bem ao dizer que é preciso saciar a carne e obedecer sem restrição aos desejos — sem culpa, sem pecado e sem castigo. Fazer o que se gosta com quem se sente bem. Mesmo porque o desejo é a energia que satisfaz os instintos mais básicos e primitivos.

O importante é vivermos — conscientes de nossa máscara real — sem nos preocuparmos com as grandes (e talvez eternas) buscas de amor ou de justiça. Sem buscarmos o que é conceitual, mas não real. E principalmente, sempre lembrarmos que poderemos ser até protagonista de uma determinada história, mas que isso não nos livra de sermos sempre personagens.