domingo, 4 de agosto de 2013

INTRODUÇÃO



Dade Amorim

Ao participar de ações promocionais de saúde em comunidades do município do Rio de Janeiro, observa-se que muitas pessoas desenvolvem doenças por desconhecer alguns cuidados básicos de saúde. Porém, alguns alegam que o problema de saúde é devido à dificuldade de acesso aos serviços oferecidos pelo SUS em hospitais de grandes emergências ou nos centros de atendimentos primários. “Qual atendimento procurar? Como marcar uma consulta? Como ter um próximo atendimento?”
Esses questionamentos despertaram o interesse em verificar as formas e meios utilizados de comunicação nos serviços oferecidos pelo SUS, levantando a questão: será que as formas utilizadas para a divulgação dos serviços de planejamento prestados são suficientes, adequadas, eficazes e objetivas?
A dificuldade da população quanto ao acesso aos serviços é fato inquestionável, apresentado em noticiários que apontam problemas do atendimento, filas e falta de vagas. O presente estudo deseja saber se o problema poderia ser minimizado com uma nova política de comunicação ou se a comunicação realizada atualmente já esgota as possibilidades de ação.
Para tal, serão analisados alguns estudos científicos, mediante pesquisa bibliográfica sobre o tema da política de planejamento familiar, sua estrutura e abordagem. Utiliza-se, como amostragem da atuação dos postos de saúde municipais, a experiência vivida no Centro Municipal de Saúde Jorge Saldanha Bandeira de Mello, observada a atuação dos profissionais, suas opiniões e experiências, com base no desempenho da divulgação de informações e serviços. Incluiremos, também, a opinião da clientela que participa do programa.
No primeiro capítulo será apresentado o conceito de saúde pública, desde seus primórdios até que tenha sido percebida sua importância para o desenvolvimento econômico. Incluem-se ainda comentários acerca da estruturação da saúde pública no Brasil e a reforma de Oswaldo Cruz enquanto medida de saneamento econômico, ressaltando-se a Revolta da Vacina como fruto do desconhecimento popular sobre os benefícios da vacina.
Apresenta-se aqui a mudança gradual da assistência social no país até a promulgação da Constituição de 1988, a criação do Sistema Único de Saúde e o projeto da participação popular.
O capítulo ressalta o lançamento do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e do Programa de Planejamento Familiar em 1983 e as dificuldades de continuidade e avanços nessa área durante longo tempo, mencionando alguns pontos da lei 9.263, que define o planejamento familiar. Expõe estudos e pesquisas realizadas sobre o funcionamento deste programa, seu entendimento por parte dos funcionários e usuários do sistema, a incidência de gravidez não planejada e abortos, além do perfil dos usuários.
O segundo capítulo tratará de esclarecer o que é comunicação segundo diversos teóricos, os processos utilizados, a comunicação de massa e sua segmentação. Chega ao entendimento do uso da comunicação como instrumento estratégico, do desenvolvimento de uma comunicação eficaz e da importância da comunicação interna e do feedback.
Finaliza comentando sobre um estudo científico que trata da política pública de comunicação no Brasil, e outro estudo que apresenta problemas do SUS para receber as queixas dos usuários.
Já o terceiro capítulo apresentará a experiência no Centro Municipal de Saúde Jorge Saldanha Bandeira de Mello, acerca do trabalho dos profissionais que atuam no programa de planejamento familiar e dos usuários do serviço; o que foi observado quanto à forma de comunicação aos usuários do posto em outros serviços; a opinião dos profissionais quanto ao suporte oferecido pela Secretaria; as dificuldades de obter material didático, insumos ou profissionais para atuarem no serviço. Analisa ainda as ações de planejamento visando a comunicação com o público – jovens, adolescentes, homens ou mulheres sem filhos –, as capacitações fornecidas pela Secretaria Municipal, e como é percebida a atenção do SUS relativamente ao programa.
Será analisado o perfil dos usuários que participaram do grupo de planejamento familiar formado durante o estudo, como chegaram a ter conhecimento sobre o serviço e que atendimento lhes foi prestado.
Na conclusão, apresenta-se uma problematização com base nos estudos científicos expostos no primeiro capítulo e na realidade experimentada no Centro Municipal de Saúde Jorge Saldanha Bandeira de Mello, confrontada com a teoria da Comunicação, em paralelo com um planejamento estratégico de comunicação.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

SENHORA DO TEMPO: CINEMAS DA MINHA VIDA

Por Vera Guimarães


Agora, com ilustração de Patricia Caetano.
Esta crônica foi publicada no Primeira Fonte em 13 de fevereiro de 2011. 



Muito cedo as salas de cinema me encantaram. Na minha cidade no interior de Minas, cresci sabendo da existência daqueles dois cinemas. Eles já estavam lá antes de mim.


O Cine Theatro Trianon, situado num extremo da rua do footing, velho e pequeno, era composto de uma platéia e das galerias. A platéia, provida de poltronas de madeira fixadas no piso, se situava no nível térreo. As galerias eram estruturas de madeira localizadas acima e nas laterais da platéia, formando praticamente um teatro elisabetano, o que descobri muito tempo depois, ao conhecer o teatrinho de Sabará.  Os pilares de madeira entalhada que sustentavam as galerias laterais saiam diretamente da platéia e criavam poltronas indesejáveis, das quais não se enxergava a tela. Quem se assentasse ali, ficava com o pescoço torto para se desviar do pilar e ver o filme. Azar de quem chegasse tarde, o que não ousávamos, já que ver e ser visto fazia parte do programa.

Na praça no outro extremo da rua do footing,ficava o Cine Meridiano, maior e mais novo, amplo, um vão enorme (eu gostaria de conferir esse “enorme” hoje, mas o prédio não existe mais). Neste as poltronas já eram estofadas e a tela era grande, permitindo a projeção de filmes em cinemas cope.

Logo que pude sair de casa sozinha, isto é, sem a companhia de meus pais ou irmãos, lá pelos 8 anos, ia com amigas para a porta do Trianon e dávamos  um jeito de nos irmos esgueirando para dentro do saguão, com a desculpa de vermos mais de perto os cartazetes, e aos poucos estávamos vendo pedaços do filme pela greta da cortina. Por várias vezes o porteiro veio nos dizer que aquele filme não era para nós. No passeio e na rua procurávamos por pedacinhos de filmes, fotogramas que guardávamos como tesouro quando encontrávamos uma cena inspiradora ou o galã dos sonhos.

Lá pelos 10, 11 anos, já familiarizada com as salas de cinema, comecei a ir, às terças-feiras, à Sessão das Moças, cujo ingresso custava “um dinheiro”, provavelmente Cr$1,00, valor que eu conseguia vendendo vidros e garrafas para a farmácia, vendendo jornais velhos, entregando marmita, ou, bênção, ganhando um trocado de algum irmão mais velho ou de algum tio em visita à cidade. E principalmente de minha mãe.

Pouco tempo depois, eu devia ter uns 14, 15 anos, anunciou-se a construção de outro cinema, esse, sim, prometendo tecnologia, conforto e charme. Ainda mais que a vizinha cidade de Curvelo, tida como rival de Sete Lagoas, tinha acabado de inaugurar seu Cine Denise, que diziam ser uma maravilha. Existir lá um cinema assim era um desaforo para os setelagoanos. Perto da inauguração, já pronto o prédio de amplas dimensões e linhas modernas, os donos lançaram um concurso para escolha do nome do cinema. Espalharam urnas pela cidade, e as vitrines de uma loja de tecidos exibiam alguns dos palpites. Eu me lembro de ter ficado ansiosa pelo resultado que, quando veio, para mim foi absolutamente decepcionante: Cine Rivello. Como?  Por quê? Revelou-se, depois, que Rivello era a cidade italiana de onde vieram os ascendentes dos donos do cinema. Não importa, era um nome simpático e passou a fazer parte da minha vida.


Conheci, depois, muitas salas. Na Capital, freqüentei cinemas que ainda exibiam o luxo de arquitetura art déco, cortinas de veludo, pisos de mármore e granito, ferragens preciosas, lustres e arandelas bem desenhados, jogos de luzes, trilha sonora para antes e depois do filme. Frequentei também as salas mais modestas de cineclubes, instalados em centros acadêmicos, na Imprensa Oficial, ou mesmo em algum cinema que se dispusesse a carregar o título, para o bem e para o mal, de “cinema de arte”. Vi, depois, os cinemas darem lugar a igrejas e migrarem para os shoppings, onde hoje se encontra a maioria delas. Embora o bulício e a desconcentração que reinam nas salas de hoje não me agradem, continuo amando ir ao cinema.

Mas foi naquelas salas da minha infância que conheci a magia do cinema. Nos filmes que vi viajei por lugares inacessíveis e inimagináveis, aprendi História e acompanhei histórias, chorei por amores contrariados, torci por mocinhos, vibrei com cowboys falsos, copiei modelos de vestidos e cabelos, ri demais com O GORDO E O MAGRO, desejei tanto saber dançar sapateado, me afligi com o destino da mocinha em seriados que se interrompiam em horas cruciais, me meti  a falar inglês embromation...


Mas, principalmente, comecei a considerar a possibilidade de uma vida que, até ali, eu não sabia ser possível.


domingo, 14 de julho de 2013

SENHORA DO TEMPO: LADEIRAS DE BH





 Vera Guimarães




 A cidade do interior onde vivi até os 18 anos era (é) relativamente plana, e até o final da década de 1960 tudo ali se fazia a pé.

Já Belo Horizonte é cidade não apenas cercada de morros, mas seus bairros se espalham por colinas, serras, elevações diversas. Enfim, as montanhas alterosas.

Lá vivi dos 18 aos 52 anos, e foi ali que ocorreram todos os eventos de minha vida adulta: fazer faculdade, trabalhar, me divertir, ir e vir, abastecer a casa, levar filhos a médico e escola... Então, transitar pela cidade.

Morando na Serra (olha o nome) e estudando na então FAFI-UMG no Santo Antônio, fiz muitas vezes o percurso casa-escola a pé, freando para descer a Contorno, na altura do Cruzeiro, e bufando para subir a mesma Contorno para chegar à Carangola. Mesmo em outros endereços, sempre encontrei uma ladeira para vencer. Mas eu era jovem...

Mais tarde, já de carro, conheci verdadeiras pirambeiras. Até hoje ainda me espanto com o declive da rua Carlos Gomes para desembocar na Prudente de Morais. Por que eu me aventurava por ali? Com certeza haveria alternativa menos estressante. Da Barroca para o Gutierrez, havia também uma descida assustadora, não me lembro mais em qual rua.

Sobrinhos cariocas, acostumados à planura de Ipanema, quando em férias conosco, ficavam aterrorizados sempre que descíamos a Contorno no chamado Tobogã.

Até agora só falei das descidas apavorantes. Já as subidas demandavam motoristas habilidosos no controle de embreagem, já que não existiam carros com transmissão automática.

Para levar as crianças ao colégio, tínhamos que vencer o violento aclive da rua Campos Elíseos, na Barroca. Em uma manhã chuvosa, patinamos e não saímos do lugar. Na época, tínhamos a querida Belina amarela, amarela, não, mostarda, de tração dianteira. Marido, engenheiro mecânico, manobrou e pôs a frente do carro na direção contrária à que nos dirigíamos, e assim, de ré, ridiculamente subimos a ladeira escorregadia. (Ele tenta me explicar a lógica da coisa, peso sobre o eixo motor, aderência etc...) Só sei que por diversas vezes fiz essa manobra bizarra e não faço ideia do que os passantes imaginavam à visão de um carro cheio de crianças subindo a rua de ré.

Essa não foi a única circunstância em que a dócil Belina andou pra trás. Voltando de chácara que tínhamos, o câmbio quebrou de tal maneira que só aceitava ré e ponto morto. Quer dizer, nos 16 quilômetros entre Funilândia e Prudente de Morais, andávamos de frente nas descidas e no plano, até onde nos levava o embalo; depois virávamos o carro para vencer o plano e os aclives. Se nem todas as crianças se divertiram com isso, tenho certeza de que o mais novo, até hoje aficionado por carros e suas manhas, se interessou pelo caso, deu palpites, ajudou e curtiu as manobras, não foi, Lucas?

Hoje morando no Planalto Central, exatamente em Brasília, mais ando de carro que a pé. Sempre se disse que o brasiliense tem cabeça, tronco e rodas. Se eu for andar, mais encontro planuras que ladeiras.

Neste julho de 2013 passei uns dez dias em BH. De onde eu estava tudo se alcançava como pedestre: supermercado, cinema, praça, shopping, restaurante, clube. E muito andei, com prazer. Mas, velha que sou, confesso que sofri todas as vezes que tive que enfrentar a última ladeira até chegar ao apartamento da minha filha.

Por coincidência, antes que me viessem essas lembranças, e a propósito de outros assuntos, consogra me conta que meu genro sofreu violenta contratura na panturrilha e que, cheio de dor, ao encarar a referida última ladeira, se vira e completa o trecho de fasto.

Não é que nós, bípedes humanos, tal qual os automóveis quadrúpedes, também temos tração dianteira?

 Fig. 1- www.notícias.r7.com
 Fig. 2 – do acervo familiar: filha mais velha, a Belina, a chácara no cerrado, talvez 1980.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

SENHORA DO TEMPO: LEQUES, ABANOS E VENTAROLAS



Patricia Caetano, ilustra mais uma crônica de Vera Guimarães, publicada em 16 de dezembro de 2012, e republicada hoje. As cores de Patrícia, seu traço, remetem-me à exuberância de Frida Kalo, ao calor, à vida. Esta menina precisa ser entrevistada.
elb



 Ilustração de Patrícia Caetano


Vera Guimarães

Amiga me conta que em recente confraternização de fim de ano foi assediada como nunca, e atribui o fato à circunstância de estar usando um leque. Bobagem! Linda e na exuberância de seus 40 anos, nada mais natural que os moços quisessem se aproximar dela.


Ah, o leque! É mesmo! Na minha adolescência, década 1950, ele era acessório natural e obrigatório nas sessões de cinema e em outras ocasiões. As salas não eram climatizadas e sempre queríamos acrescentar um charme à produção. O meu leque era branco, pequeno, varetas de madrepérola, e, nelas, vazados formando arabescos. Perdeu-se no desgaste das fitas que uniam as varetas, nas mudanças de casa, no desuso.

Depois dele, em passeio num parque aquático dos EUA, precisei espantar o calor e comprei numa das lojinhas de souvenir um abano feito de palha trançada, com a etiqueta Made in Philippines. Esse está comigo até hoje e compõe um painel de outros objetos de fibra, a maioria chapéus.
Há cerca de dois anos ganhei um leque. Na ocasião fiquei agradavelmente surpreendida com a escolha do presente, nem cogitava que eles ainda existissem assim corriqueiramente. Apesar de apreciá-lo, nunca o usei. Vou corrigir isso.

A importância desse objeto utilitário, estético e testemunho de épocas fica patente no complexo de Greenwich, onde existe um museu dedicado exclusivamente ao leque. E a prova de que ele continua despertando interesse até mesmo econômico está nessa sofisticada loja. Ali você pode encomendar leque personalizado para o seu casamento, leque com estampa moderna ou clássica, há linha exclusiva para homens, para publicidade, para comemorações.


Recursos para refrescar o indivíduo ou o grupo existem desde sempre. Na caverna quente, alguém pegou uma folha grande ou talvez as asas de um pássaro e as agitou na frente do rosto, produzindo um ventinho gostoso. À medida que se descobriam novos materiais e que se desenvolviam novas habilidades, com certeza esses objetos foram aperfeiçoados. O que nunca faltou foi inspiração na natureza.

Leques foram e são largamente utilizados no Oriente. Há registros antigos deles na Assíria, China, Japão, Índia e Oceania. Eram confeccionados em madeira, bambu, papiro, seda, madrepérola, cascos de tartaruga, fibras vegetais, plumas. Eram entalhados, pintados, bordados, esculpidos, pirogravados.
Foram trazidos para o mundo ocidental por ocasião das Cruzadas. Muito tempo depois, se sofisticaram e passaram a compor o vestuário e os rituais sociais das cortes dos séculos XVII, XVIII e XIX. Vejam aqui mais detalhes curiosos.

Cria-se, no contexto mundano e frívolo de certas cortes, a linguagem do leque, um complicado sistema de comunicação baseado no posicionamento do adereço em diferentes partes do corpo, no grau de abertura das varetas, no ritmo da abanação etc., através do qual se mandavam recados. Alguns desses códigos:

• Colocar o leque junto ao coração: Conquistaste meu amor.
• Tocar com a mão no leque ao abaná-lo: O meu desejo era estar sempre junto de ti.
• Acariciar o leque fechado: Não sejas tão imprudente.
• Tocar com o leque meio aberto nos lábios: Podes me beijar.
• Tocar o leque na face direita: Sim.
• Tocar o leque na face esquerda: Não.
• Fechar e abrir o leque várias vezes: És cruel.
• Abanar o leque muito depressa: Estou comprometida.
• Segurar o leque na mão direita e em frente à face: Segue-me.
• Colocar o leque junto da orelha esquerda: Quero ver-me livre de ti.
Passar o leque pela testa: Tu mudaste.

Aqui tem mais códigos.


Algo me ocorre! Embora eu sustente veementemente que minha amiga foi assediada em função de seus dotes físicos e de sua sensualidade, fico pensando: como será que ela teria usado o leque?! Passou com ele alguma mensagem de que nem ela mesma se deu conta? Não! Não pode! Por mais explícito que pudesse ter sido o recado, duvido que algum cavalheiro de hoje fosse capaz da sutileza de decifrá-lo.

Fig. 1 - http://belissime.blogspot.com.br/2010/08/leque-glamour.html
Fig. 2 - http://petarnews.blogspot.com.br/2010/11/fauna-e-flora-do-petar.html
Fig. 3 - http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c8/Pontes_Collection%27s_fans.jpg


quarta-feira, 10 de julho de 2013

SENHORA DO TEMPO : EU E A BICICLETA

 

A crônica de Vera Guimarães, Eu e a Bicicleta, foi publicada em 11/12/2011. Faz tempo!

Hoje está republicada porque Patricia Caetano fez a ilustração abaixo, para a mesma:  

 

EU E A BICICLETA

Por Vera Guimarães


Recentemente, em Pirenópolis, GO, visitamos o   MUSEU RODAS DO TEMPO .
Num espaço muito bem cuidado e agradável, estão expostos veículos de duas rodas, motos de diversos países e épocas. E como a moto se originou da bicicleta, um bom pedaço do museu é dedicado a ela, a magrela, a bike. Os idealizadores do museu tiveram a gentileza de acionar artesãos, verdadeiros artistas, que fizeram réplicas das primeiras engenhocas, o celerífero, a draisiana e a bone shaker (chacoalhador de ossos). 



“A história da bicicleta começa de fato com a criação de um brinquedo, o "celerífero", realizado pelo Conde de Sivrac. Construído todo em madeira, constituído por duas rodas alinhadas, uma atrás da outra, unidas por uma viga onde se podia sentar. A máquina não tinha um sistema de direção, só uma barra transversal fixa à viga que servia para apoiar as mãos.” 
roberto-menezes.blogspot.com



elquivalleyclub.cl/cic
“O alemão Barão Karl von Drais, engenheiro agrônomo e florestal vindo de família de posses, pode ser considerado de fato o inventor da bicicleta. Em 1817 instalou em um celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas e com isto manter o equilíbrio da bicicleta quando em movimento. Além do mais a "draisiana" vinha com um rudimentar sistema de freio e um ajuste de altura do selim para facilitar o seu uso por pessoas de diversas estaturas.”



“James Starley, um apaixonado por máquinas e responsável pelo desenvolvimento das máquinas de costura fabricados pela Coventry, decidiu repensar este biciclo e acabou criando um modelo completamente diferente. Tinha construção em aço, com roda raiada, pneus em borracha maciça e um sistema de freios inovador. Sua grande roda dianteira, de 50 polegadas ou aproximadamente 125 cm, fazia dela a máquina de propulsão humana mais rápida até então fabricada.”
presenteparahomem.com.br






O mais incrível é que Leonardo da Vinci já havia feito projetos muito mais elaborados para um veículo de duas rodas, provido de muito mais recursos que os dos modelos acima. Será verdade? 
“O primeiro projeto conhecido de uma bicicleta é um desenho de Leonardo da Vinci sem data, mas de aproximadamente 1490. Só foi descoberto em 1966 por monges italianos. 
Os princípios básicos de uma bicicleta estão lá: duas rodas, sistemas de direção e propulsão por corrente, além de um selim.”

Estas e muitas outras histórias compõem a memória da bicicleta, contada aqui: escola de bicicleta




Já as MINHAS lembranças, suscitadas pela visita ao museu, incluem as bicicletas como as conhecemos hoje e remontam aos meus verdes anos, lá pelos seis, sete anos. Meu irmão mais velho, muito meu amigo, me botava no quadro da bicicleta e me levava com ele quando ia namorar. Eu adorava esses passeios. Naquela casa agradabilíssima, de pessoas gentis, era servido um delicioso café com quitandas. Quando o sono me vencia, eu ia para o quarto de passar roupa e desabava na cama onde se empilhavam perfumadas roupas recém-lavadas. Não sei como ia embora.

Algum tempo depois, já com turma, inventávamos passeios pelos arredores, piqueniques, idas ao Posto Agropecuário, tudo fora da cidade. Eram passeios deliciosos, alegres, festivos e... arriscados, claro, que a gente abusava do Anjo da Guarda. Não tínhamos bicicleta feminina, então eu calçava a cara e pedia emprestada a de alguma amiga da família. Obrigada, Ilma Francisco!


Aos 15 anos, já trabalhando, uma irmã e eu nos associamos e compramos a desejada bicicleta a prestação, uma linda PHILLIPS inglesa, cor vinho, aro 26. Com ela íamos ao trabalho, minha irmã visitava as muitas amigas, eu ia aos treinos de vôlei na Praça de Esportes, à igreja, dava voltas na lagoa. Que linda ela era! 


Até os selos espalhados pelos componentes da bicicleta atestam como tudo era feito com carinho e requinte.
«http://www.8p.com.br/bestservice/flog/a60001949/#a60001949

Nas décadas 1940/1950 nossas ruas exibiam profusão de bicicletas, usadas não apenas para lazer. As pessoas iam e voltavam pedalando no trajeto casa-trabalho, pais levavam crianças à escola, verdureiros transportavam sua mercadoria em bicicletas, mensageiros se deslocavam de um ponto a outro da cidade. A via pública era democrática e acolhia a todos com generosidade, fossem caminhões, bicicletas, automóveis, carroças, pedestres, cavalos. Era a política do compartilhamento do espaço urbano, com grande dose de paciência e respeito a todos. 

Infelizmente isso aqui desapareceu. Já em grandes cidades europeias incentiva-se cada vez mais o uso de transporte não poluente e não atravancável. Em Paris, o projeto VÉLIB como alugar uma bicicleta em Paris é um sucesso. Em Amsterdam, executivos bem arrumados transitam vestidos com elegância, portando suas pastas executivas, em bicicletas bem velhinhas, nem um pouco ostentatórias. Jovens mães atrelam caixotinhos às suas e ali colocam as criancinhas, e compartilham a via pública com carros e enormes trens urbanos.

Por falar em bicicleta e Amsterdam, uma brasileira foi morar ali por perto e precisava se deslocar do bairro dela até o centro da cidadezinha. Mas aos 60 anos nunca havia andado de bicicleta. Uma amiga se dispôs a ajudá-la a desvendar os segredos do equilíbrio com impulsão. Aquilo virou atração, já que as pessoas não concebiam que algum adulto não soubesse andar de bicicleta. Supunha-se que já se nascia sabendo. Sei que, no dia em que finalmente a amiga a soltou e ela saiu pedalando, de uma construção próxima vieram estrepitosos aplausos e vivas!
Da mesma maneira como lamento o desaparecimento dos trens, lamento a hoje inviável convivência de carros e bicicletas. Aqui, por supuesto. Porque em Amsterdam... ai! (suspiros de inveja)


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Papel de presente





Uma linda folha de papel de presente dá vontade de presentear alguém. Parece um pouco com o que se convencionou chamar de vocação: a tendência que motiva uma pessoa a fazer o necessário para realizar seu desejo.

Houve tempo em que a palavra era entendida de modo mais radical; dizer que alguém tinha vocação pra isso ou aquilo devia ser entendido como um chamado irresistível vindo não se sabe bem de onde. Até do céu, no caso da vocação religiosa. Hoje é ponto pacífico que qualquer vocação dispensa apelos transcendentais: a coisa vem de dentro do intrincado individual das características genéticas e adquiridas.

Um chamado divino dificilmente explicaria a quantidade cada vez maior de padres, pastores e freiras que um dia se cansam da vida dedicada exclusivamente ao Senhor e à igreja de que fazem parte. A vocação deles foi um engano? E – muito pior que isso – quando padres, pastores ou freiras se deixam levar pela tentação mais hedionda e, em vez de apascentar suas ovelhinhas como se esperava que fizessem, as usam como pasto? Por que esses religiosos deixam de agir como líderes espirituais para trair a confiança de seus seguidores? Humano, demasiadamente humano.

Vocação para o magistério é outra expressão que soa meio grandiosa, diante das dificuldades da carreira – salários baixíssimos, condições precárias de trabalho, clientelas difíceis de lidar. Os próprios alunos criam obstáculos ao trabalho do professor, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares: uns ameaçam pelo potencial agressivo dos podres poderes a que estão às vezes muito ligados; para outros, nas escolas “da Zelite”, o aluno sempre tem razão, porque sem ele não haveria recursos para manter a escola, pagar salários e obter lucro. E o professor vê seus lindos conceitos relegados a segundo ou quarto plano por conta de interesses, digamos, bem mais concretos.

Nas carreiras liberais ou artísticas, pode haver grandes compensações, talentos reconhecidos em áreas diversas, políticos realmente íntegros e dedicados ao bem comum (são raros, mas existem). Mas as frustrações são mais frequentes. Depois de todos os esforços e investimentos, se a carreira não deslancha, é preciso desistir do caminho escolhido e suportar o tédio de um trabalho que nada tem a ver com o desejo de quem sonhou muito alto ou, como é comum, ficar patinando na sombra sem o reconhecimento que se imaginava conseguir. Numa sociedade que sonha continuamente com a fama e o sucesso, pode ser deprimente.

Um dos exemplos mais gritantes de fracasso que se conhece foi Vincent Van Gogh, que viveu à custa do irmão generoso sem conseguir vender um quadro, enquanto realizava uma das obras mais grandiosas de que se tem notícia nas artes plásticas de todos os tempos. Tomara que exista vida depois da morte, para que ele veja o tamanho de seu triunfo. Não poucos nomes famosos tiveram destino semelhante ou sofreram limitações que os impediam de trabalhar: Beethoven ficou surdo; Kafka, sempre enredado em seus labirintos de desespero e depressão; nosso Aleijadinho, trabalhando mesmo com o corpo deteriorado pela hanseníase que o devorou em vida. Gente que tentou e conseguiu ir além do que se pode esperar de um ser humano, como Nietzsche, Galileu e tantos mártires de origens e naturezas diversas, provam o quanto é temerário ignorar os poderosos e ousar ir além da mentalidade de seu tempo.

Vocação não é tudo: é só o papel bonito, que dá vontade de embrulhar um presente. Mas nem sempre se encontra ou se pode comprar um presente à altura do papel. Mais importantes são a persistência, a tolerância diante dos fracassos eventuais, saúde e realismo para contornar as dificuldades e a incompreensão. Mesmo sem grandes glórias, resta o papel bonito para contemplar, renovar o sonho e proteger a auto-estima.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

HELLO, DOLLY!




ESCREVER EXORCIZA O MEDO 



Dorothy Coutinho 


 
 siga o celular! (segundo Dorothy) 


Acreditava possível uma vida privada, sem partilhar com ninguém meu comportamento pessoal, incluindo as minhas esquisitices – afinal elas não são da conta alheia.

 Encarava como um pesadelo distante e evitável o mundo descrito por George Orwell em 1984, com e sua super tela sempre ligada para escrutinar a vida dos governados.

Nos dias atuais, essa tecnologia descrita no livro de Orwell parece cena das velhas séries de Flash Gordon. Minha aspiração a uma vida privada não passa agora – ao menos parcialmente - livre do controle do Estado e de grandes organizações. E no futuro, provavelmente muito mais. Viverei daquela lembrança nostálgica dos mais velhos.

A tecnologia acelera as mudanças, e chega sem avisar.

Muitas vezes faço tudo para ignorá-las ou até mesmo hostilizá-las, mas sei que não adianta.

 Imaginemos um vírus que afetasse todos os computadores de um país, no Brasil, por exemplo, o caos seria absoluto. Não teríamos comunicação, água, energia elétrica, bancos e comércio funcionando, hospitais, nada mesmo. O vírus resultaria muito mais eficaz que um bombardeio pesado. Programas de sabotagem eletrônica são nas suas essências importantes armas de guerra, porque não há como escapar da malha informática.

Lembro-me dos filmes policiais com a cena da saída de um suspeito em seu carro, quando o detetive dentro de um taxi dava a ordem ao motorista “siga aquele carro”. Hoje? – Bem, hoje provavelmente a ordem é “monitore esse celular”. Dependendo do caso podemos ter a nossa vida completamente espionada. Grampear telefone celular ou não é coisa do passado.

 O mais comum agora, talvez até normal, seja aceitar a perda de privacidade em troca da segurança individual. Até porque não me dão escolha e o medo é uma força muito grande, bem mais difícil de vencer que outras emoções.

Medo, por exemplo, de encontrar na internet dentre tantos sites alguns que mencionam a venda de impressoras 3D, com aplicativo que instrui o interessado a “imprimir” e reproduzir o objeto “tal”, objeto esse que se encontra dentro da casa do futuro comprador, ou seja, sem a necessidade do entregador. Esses programas já estão em funcionamento, aprimorados diariamente. Fantástico!

A Ana Maria Brega mostrou em seu programa na TV aberta um vendedor instruindo como fazer direitinho, passo a passo. Fantástico, de novo! Mas só é fantástico até a gente fuçar num outro site e descobrirmos que já existem empresas desenvolvendo programas, materiais e impressoras 3D para oferecer armas de combate. Isso é fantástico??????

Qualquer um, do bandido ao psicopata, poderá comprar e “imprimir” quantas quiser, sem numeração ou registro. Ah, dirão alguns especialistas e defensores da tecnologia: o material utilizado é um tipo de plástico, portanto não se trata de armas de verdade. Sim, sim, você “pagaria prá ver” num lance de um assalto??? Eu, não.

E a gente fica sem saber o que pensar. Dá medo. Por isso escrevo. Escrever exorciza!


quarta-feira, 15 de maio de 2013

JÉSSICA DANS LE MÊTRO




Jéssica Gonçalves Lobo



 A MENINA QUE ESCOLHEU LER



   




Longe de tudo e de todos. Tinha para si, todo silêncio e estrelas do mundo. 
Mas ainda sim, escolhia como música de fundo, as canções de Cash. 
De olhos "fechados" ao som das letras, nada mais importava. Mal sabia que tinha de voltar para escolher a sua estação... 
E apesar de preferir o inverno, não tinha medo de se molhar nas águas de verão e se divertir com as folhas que voavam em outono. 
Tudo tão fascinante por lá, que nem ao menos notava o passar do tempo enquanto vivia em suas mãos historias incríveis. 
De vez em quando, esbarrava com pessoas que tinham visões fantásticas sobre algo que ainda não notara. 

Mas, diferente de muitos, não precisava entender como as estrelas brilhavam, para admirá-las por tal efeito. Nem ao menos sabia se o vento dançava, mas dançava com ele... Dançava. Sorria. Amava. 

Às vezes sentia-se deslocada em meio a tantas pessoas depressa. E ficava inconformada quando percebia que tempo não havia para uma flor. E sofria com isso. 
Mas tentava sorrir para poder então, escolher a estação que a obrigava a fechar o livro em suas mãos.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Quase iguais



Não há como fugir: os dias são diferentes, mas iguais no que se sucede – manhãs tardes noites madrugadas horas batendo martelo nos segundos. Os dias são como um leilão do que você quer, mas só vai levar se perceber a música do martelo.
As cores mudam, porém, tanto as do céu como as do coração, e os tons são inacreditáveis, de uma pessoa para outra e até para a mesma. As diferenças na mesma pessoa são mais claro-escuro, ton-sur-ton, porque o fundo é meio repetitivo mesmo, fazer o quê? Cada um se faz recaindo no refazer do que mais procura evitar. E quando o sol aparece, por causa desse estado de mesmice, pode dar a sensação de que tudo está igual. Mas até o sol tem matizes e variações, é só prestar atenção para ver: o sol não mostra sempre a mesma face, e às vezes está furioso e queima com raiva, mas às vezes acaricia a pele que nem homem enamorado.
As diferenças de uma mesma pessoa se devem a que os poros deixam entrar sempre o que lhes interessa mais. Além disso, o nunca tem muitas frestas. Se digo “nunca”, na mesma hora meus poros se abrem. Daí advém toda contradição do ser humano, e também suas repetições inesgotáveis e seus melhores prazeres.
Os dias podem parecer iguais naquilo que os outros exigem da gente.
A coisa acontece assim: a gente se repete e recai e refaz o que já andou fazendo a vida toda. Quem vive a nosso lado também recai e repete. Quando alguém refaz seu refazer e ressoa em nossa alma como repetição, é a rotina. A rotina não é o que eu faço, mas o que os outros querem que eu faça, e eu faço, repetindo – não o que eu quero e repito por minha própria conta, porque é meu e é como eu sou, mas o que os outros querem que eu refaça por eles. Nisso consiste o poder de uma pessoa sobre a outra: ser capaz de ressoar sua própria repetição no outro. E quanto maior o poder, maior o número de pessoas a refazer a repetição do poderoso. O que obviamente não é justo nem salutar para ninguém.
Quem apenas ressoa o que o outro repete e o refaz sem conseguir deixar de refazer é um candidato a passa humana. Quem não se libera da gaiola da repetição do outro, é pássaro morto dentro da gaiola sem ninguém para chorar por ele. Quem não olha em volta e procura sintonia para ouvir melhor a música do outro, chama-se submisso e nem merece muito que se chore por ele.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

CULUNÁRIA DE RISCO

CHUCHU É COISA PERIGOSA
Por Sylvie Tigel

Chuchu em brotação
 
Alô, amiga dona de casa! :)) Preciso de esclarecimentos. 

Adoro chuchu, mas nunca tinha tido um contato mais íntimo com ele como tive agora há pouco. 

Eu, cheia de boa vontade pra fazer um almocinho saudável, peguei o chuchu, lavei o chuchu, descasquei o chuchu, tirei uma coisa meio branca q tem dentro dele (eu nem sabia que tinha), cortei e coloquei na panela pra cozinhar. 

Percebi na hora de cortar q ele é um pouco estranho e melequento e q minhas mãos estavam meio estranhas e melequentas também, mas não me preocupei muito com isso. 

Lavei um monte de louça e minhas mãos continuavam com aquela gosma. 

Eu, cheia de esperanças, fui ao banheiro e lavei com o sabonete mais hidratante do universo pra ver se resolvia o problema. Nada! Ainda tem uma coisa estranha e umas casquinhas de chuchu em mim. Estou condenada a isso? Não vai sair nunca mais? Agora o chuchu está lá na panela cozinhando e confesso q estou com muito medo dele. 
 

Almoço de amanhã: lasanha congelada!