terça-feira, 31 de janeiro de 2012

GEOPARQUE DE CAXAMBU TERÁ PARCERIA DA CODEMIG

Esther Lucio Bittencourt







Reunião de sexta feira,sexta feira, 27 de janeiro, ás 11h00min entre o Prefeito de Caxambu, Luiz Carlos Pinto, o Secretário do Meio Ambiente, Gilberto Rossi, E Adriana Franca com Dr.Marcelo Nassif (diretor de operações) e Martinho Rezende (gerente de minas) da CODEMIG.


Em matéria publicada aqui no PF, dia 26 de janeiro deste ano, foi informado que o prefeito de Caxambu, Luiz Carlos Pinto, assinou o decreto de número 1768, de 18 de janeiro de 2012 que dispõe sobre a criação do Geoparque Cidade das Águas de Caxambu. No domingo,29 de janeiro, publicamos na íntegra o projeto do Geoparque de Caxambu. Mas isto basta para que o Geoparque exista e tenha sentido como tal? Qual a função de um Geoparque? São perguntas que o Secretário do Meio Ambiente da Prefeitura de Caxambu, Gilberto Rossi responde:



PF- Como se inicia a implantação de um geoparque? O que vem primeiro? Será preciso a publicação de um livro?


Gilberto Rossi- O Geoparque já está implantado. O decreto assinado pelo Prefeito já fez isso. Agora, os estudos demostraram o nossos valores ambientais, historicos, culturais e artísticos. A parceria com a  UFLA -Universidade Federal de lavras- trará a comprovação cientifica das propriedades crenoterapicas de nossas águas, será realizados a publicação de um livro que irá ser distribuidos nas escolas para estudos e, ápos isso, o Geoparque terá o reconhecimento da UNESCO. Daí o processo segue para os que virão, dar continuidade nas áreas que se interessarem.


PF-Quanto de verba será necessário para implantar o geoparque? A prefeitura poderá arcar com isto?


Gilberto Rossi- Esther, na realidade esta foi a procura. O executivo nao tem verba para tal trabalho. Como a Codemig é proprietaria de duas áreas que compõem o Geoparque: area da represa do Jacaré e Área do Parque, e quando recebermos o titulo da UNESCO ou seja o reconhecimento de Patrimonio Mundial Hidromineral Carbogasoso ela também será beneficiada, o assunto foi conversado com ela que topou no ato bancar com os custos do Projeto.


PF- Então a Codemig arcará com as despesas do Geoparque? Ela Topou?


Gilberto Rossi- A Codemig  topou arcar com o Projeto do Geoparque.


PF- Quanto de verba será necessário para implantar o geoparque?


Gilberto Rossi -Foi realizada uma pesquisa de preço para solicitar a parceria com a CODEMIG, o valor da proposta foi de R$ 482.000,00 para ser licitado por ela para os levantamentos e estudos, o mesmo valor foi aprovado pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em consulta por telefone.

Quem detém o valor comercial da Agua Caxambu á a Codemig que terá, portanto, a única água mineral do mundo envasada dentro de um Geoparque. Motivos eles tem muito para serem nossos parceiros e é isso que queremos para melhorar nossos valores, assim como eles.



PF- O que é Geoparque e seu significado?


Gilberto Rossi- O Geoparque é uma classificação, então aquela área (como está no projeto) é definida como tal e mais do que nunca teremos de fazer cumprir as leis já existentes sobre o meio ambiente. É uma área de patrimônio geológico com desenvolvimento sustentável econômico, o que ajudará o desenvolvimento da comunidade local.


Por exemplo, para o geoparque prevemos o treinamento de guias turísticos, dentre outras atividades.


Com a vinda do consórcio das universidades mineira para caxambu iremos receber 3 mil alunos, 1200 de profissionais no campus, serão então 4200 pessoas , fora as que trabalharão de forma indireta. Com toda esta perspectiva de crescimento é preciso proteger a Bacia Bengo, o Caminho das  Águas de Caxambu para que não aconteça na área de recarga de nossas águas o que aconteceu na invasão do morro Caxambu que foi iniciada há 30 ou 40 anos e que há 10, 15 anos tomou maior proporção. Precisamos estancar isto. E medidas já foram e continuam sendo tomadas.

Classifiquei quatro áreas no projeto, as matas do município , que é a do Jacaré, a represa do Jacaré onde fica a cabeceira de nossas águas, depois as áreas de moradia legal; a área do Centro de Convenções que começa onde um dia foi feito um desmatamento para que fosse construído um centro de treinamento, o Geoparque preservará esta área, mais o Parque das Águas e a área do morro. Então são três áreas públicas e uma privada, com vários proprietários. A represa do Jacaré e o Parque das Águas pertence a Codemig, o Centro de Convenções e o morro à Prefeitura . São áreas de domínio de governo.


É bom frisar que para os que tem área particular nada seria alterado a não ser a delimitação e classificação. Por exemplo, a pessoa poder dizer que sua área está dentro do Geoparque. A delimitação já é imposta por leis ambientais. O Geoparque não fere as leias federais, estaduais ou municipais.
O IPHAN necessitou do decreto que foi assinado dia 18 deste mês que determina a criação do Geoparque . Enviei o projeto para o IPHAN e fui comunicado que ele foi muito bem aceito . É o único que defende as águas carbogasosas .

"A Secretaria de Meio Ambiente já delimitou geodésicamente os pontos que existem hoje com a cerca existente . A meta próxima agora é fazer um aceiro contra o fogo para proteger a cerca, a mata do parque e que funcione também como delimitação da área que já foi ocupada. Este projeto está passando pelo CODEMA para que possa ser realizado. É urgente, para que não ocorram mais queimadas, como esta no Morro de Caxambu"- Gilberto Rossi

"É preciso proteger o caminho das águas de caxambu para que não aconteça na área de recarga de nossas águas o que aconteceu na invasão do morro Caxambu que foi iniciada há 30 ou 40 anos e que há 10, 15 anos ganhou maiores proporções. Precisamos estancar isto."-Gilberto Rossi

Não ha outro Geoparque com o conceito hidromineral carbogasoso, este será o primeiro no Brasil e no mundo. Há no Brasil o Geoparque da região do Araripe, no Ceará. A concepção do GEOPARQUE ARARIPE segue as recomendações do GEOPARK PROGRAM UNESCO e está apoiado na legislação ambiental e cultural de preservação de sítios e paisagens. E o do quadrilátero ferrífero em constituição.

Há também a proposta de criação de um “Geopark” na Serra da Bodoquena e Pantanal, por iniciativa do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com uma área de aproximadamente 32 km2.



PF- Como surgiu a proposta de criação do Geoparque?

Gilberto Rossi- Mostrando a cidade e Parque das Águas a Equipe do IPHAN,  DR. Carlos Fernando Delfim -  do IPHAN e conselheiros da ANA- Agencia Nacional das Águas,  passei o conhecimento que adquiri durante a Restauração do Balneário de Caxambu e demonstrei o potencial turístico, arquitetônico cultural e cromoterápico da nossa cidade,  que deveria ser resgatado, estudado, preservado e aplicado.


Poucos estudos foram realizados até agora, existem relatos históricos, livros que documentam os acontecimentos, depoimentos de populares que se disseram curados de algum mal pelo efeito das águas, estudos realizados pelos grandes médicos da crenologia da época, que relatam as propriedades físicas e químicas de nossas águas. 


A conclusão da nossa conversa foi que através de um Geoparque conseguiríamos realizar e preencher todas as nossas necessidades, pois assim será  realizados todos os estudos necessários com as nossas águas, comprovada a atuação na cronologia e, conforme explicou um dos professores da UFLA, poderemos até descobrir fatos novos . 


Então,o Dr. Carlos Fernando Delphim - Técnico em Patrimônio Natural do IPHAN, sugeriu que o projeto de um Geopark poderia ser executado para criar uma identidade forte para o nosso município.O que foi feito através do decreto, do projeto e estamos viabilizando."



Vitraux do Balneário recentemente recuperado
Visão parcial da lateral do Balneário
Interior do Balneário do Parque das Águas de Caxambu

SOBRE GEOPARQUES NO BRASIL

Geoparques no Brasil

QUITANDA DA VIDA 62

Telinha Cavalcanti

Aprendi esta receita no twitter!

Twitter é um site onde as pessoas conversam através de pequenos posts que contém até 140 caracteres; cada participante escolhe com quem falar, e tudo funciona como um imenso bate-papo em um "mural" que é continuamente atualizado.

Os participantes se identificam com nomes que têm @ na frente; eu sou a @telinha e, se você quiser, pode me seguir por lá :D

Mas qual a utlidade do twitter? Quando Amado Marido me perguntou isso, quase não soube explicar. Vai da conversa fiada mais boboca a movimentos políticos, como o que gerou a Primavera Árabe e foi o estopim para a derrocada de diversos ditadores. É pelo twitter que a gente fofoca, reclama da vida, do trânsito, da fila no banco, dá risada, fala sério e se informa.

E, agora, foi pelo twitter que eu aprendi uma omelete light, facinha de fazer e deliciosa. A receita foi improvisada por uma amiga que tem o twitter fechado com cadeado, ou seja, só lê quem ela permite. Então, vou chamá-la de Amiga Misteriosa :) Ela garantiu que a receita é boa. E como ela não dá ponto sem nó, atesto e assino embaixo :D

 Omelete do Twitter

3 ovos
sal
pimenta
cebolinha picada
iogurte natural
aveia em flocos finos
queijo branco

Misture bem tudo, leve à frigideira com um tiquinho só de margarina. É meio difícil de virar sem quebrar, então pode transformar num ovo mexido metido a chique :)

fonte da imagem: Low Fat Cooking

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ZÉ RENATO NO CAXAMBU MAIS JAZZ



Cinema da cidade de Caxambu,no sul de Minas Gerais, em estilo neoclássico. A Associção Caxambu Mais, todo mês de Janeiro apresenta um grande festival de Jazz e MPB. Fechou o encontro Zé Renato

Filosofia e poesia se encontram

Por Dade Amorim

Reflexões acima de qualquer ortodoxia, artigo do antropólogo Hermano Vianna, que tem livros dedicados à cultura popular sobre o funk e o samba. Nesse artigo, no entanto, ele trata de um tema bem diferente: o texto tem por título “A nova metafísica”, e fala do livro Depois da finitude, editado em Paris, pela Seuil, em 2006, escrito por Quentin Meillassoux, que começa assim: “A teoria das qualidades primeiras e segundas parece pertencer a um passado filosófico irremediavelmente caduco: é tempo de reabilitá-la.” A partir daí, dado o sucesso que o livro tem alcançado, passa a comentar o fato de que o pensamento filosófico pós-68 já não anda tão firme como se tem propalado desde que Deleuze e Derrida publicaram suas obras. Ideias como o “correlacionismo” perdem sua força. O “correlacionismo”, numa explicação grosseira, defende que só conhecemos das coisas o que experimentamos pelos sentidos, que traduzem nossa relação com elas, mas não temos como conhecer as coisas em si mesmas. Ou seja, sentimos gostos, cheiros e vemos imagens, mas o que está “do lado de lá”, o real ou coisa “em si”, seria para sempre impossível de conhecer.
Mesmo levando em conta as teorias que a elite intelectual tem defendido desde aquele período, e admitindo a influência dessa linha de pensamento sobre o comportamento das sociedades ocidentais de modo geral, acredito que a ideia da metafísica tenha estado sempre infiltrada na visão de mundo das pessoas comuns e que sua influência nunca tenha se diluído completamente na vida dessas pessoas.
Em parte, talvez principalmente, isso acontece por causa dos conceitos religiosos, que remetem à existência de uma realidade extrassensorial. Se grande parte aceita a relativização da ideia de realidade, por outro lado existe para muitos a noção de seres a que se deve obediência, e acima de tudo a noção da criação, que dá às coisas que nos cercam um sentido sagrado. E se alguma coisa é sagrada, ela existe e é governada por leis que estão acima de nós. A enorme diferença é que nesse caso não se trata de uma convicção racional, mas de uma crença baseada na fé. E como a fé religiosa tem cores emprestadas da experiência infantil do desamparo e sua motivação é predominantemente afetiva, ligada à presença do pai e da mãe, percebe-se que, mesmo não se tratando exatamente da metafísica de cunho filosófico que vem dos gregos, elas, as duas formas de metafísica, se comunicam.
Cada qual a seu modo, ambas existem por causa da fragilidade humana, pela necessidade de alguma certeza em que se possa confiar: a dos gregos, falando figuradamente, a certeza de que se pisa num chão verdadeiro, que não vai nos engolir de uma hora para a outra numa ilusão de solidez; no caso da religião, a certeza de não estar sozinho e abandonado no mundo, mas sempre poderá contar com a ajuda de um Pai ou de uma Mãe em que se acredita incondicionalmente.
Mas lá no início do texto eu falava de uma coincidência. Pois aqui está o segundo termo dessa coincidência: descobri, alguns dias depois do artido de Vianna, o poema de Nílson Galvão, em que ele fala desse mesmo fenômeno na linguagem da boa poesia:


O peregrino dos dias
                        Nilson Galvão
 
A eternidade está morta,
dizia o filósofo com os dentes
cerrados. Quanto a mim,
creio ter assistido a seu enterro
naquele dia fatídico. As pessoas,
inocentes, não suspeitavam de nada
e seguiam cultuando esse grande
e poroso espírito, a eternidade.
Fiquei ali perplexo, enquanto bebia
a morta. A eternidade exalava
distâncias. Meu coração escutava
miríades de estrelas e mistérios
da luz. Cantava junto com as
carpideiras, imitava seu ofício.
E ali a eternidade, em meio às
 flores amarelas e brancas
a murcharem. Meu coração escutava
o trespasse, fiquei velho da noite
para o dia, fiquei cego como têm se
tornado cegos os que insistem. Andei
pelo mundo com a lanterna inútil,
clamei por algum alento e nada:
a eternidade estava morta, era
inarredável, estávamos órfãos
em definitivo.

domingo, 29 de janeiro de 2012

PROJETO DE PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL E AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE CAXAMBU – MG (GEOPARQUE CIDADE DAS ÁGUAS)

Por Esther Lucio Bittencourt


Na íntegra, a publicação do projeto do Geoparque de Caxambu

Foto do prédio original do balneário de CAXAMBU MG

Foto das Fontes Duque de Saxe e Fonte Beleza

Perpetuar a história das águas de Caxambu
antes que suas águas se tornem história.



1. INTRODUÇÃO

Este projeto tem por objetivo demonstrar a relevância da implantação de um Geoparque no município de Caxambu – MG, para posterior implantação de Unidades de Conservação da Natureza e Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural no município. A história de Caxambu dissolve-se em suas águas e é transportada por seus rios aos rincões de Minas Gerais e do Brasil. Do Império à República as fontes de águas minerais inspiraram e ainda exercem fascínio para líderes e personagens políticos, artísticos, intelectuais ou para os desconhecidos, brasileiros e visitantes.

Fontes de crenças místicas, fontes de curas milagrosas, fontes de propriedades químicas e físicas, o Parque das Águas evoluiu junto da cultura nacional. Holístico, oferece democraticamente suas bênçãos a todos os credos, todos os desejos, toda a fé e a toda cientificidade. Benevolente, satisfaz a toda sede de conhecimento, a toda curiosidade. Humilde, respeita e acaricia com o seu murmurinho constante a toda fé, a toda esperança. Suntuoso, maravilha aos olhos mais sofisticados, convida à contemplação, explora a intimidade de seus hóspedes, conduz à reflexão.
Foto da Fonte DOM PEDRO

A história de Caxambu, nós não a conhecemos lendo, nós a conhecemos bebendo, saciando nossa sede de conhecimento em suas águas. Sua história é solúvel e é contada por suas cascatas, sua linha de tempo segue o curso de seus rios, sua contemporaneidade é encontrada em suas nascentes, sua complexidade em seu ineditismo científico. Somente em Caxambu, a natureza oferece ao homem, em um só lugar, tantas composições minerais, somente em Minas Gerais poderíamos encontrar a história diluída em água e minério.

Mas a história deve ser perpetuada. Como o passado dos próprios personagens históricos que não pode ser perdido para entendermos a construção de suas ideias e ideais, também o regresso das águas de Caxambu deve ser preservado para que as gerações vindouras saciem-se em suas fontes. O berço das águas de Caxambu está em suas nascentes, em suas matas, em seus morros, em sua fauna, que como guardiões do tempo, fornecem à natureza as condições para guardar a chuva em seus solos e preparar ali a mistura mágica que jorra nas fontes de águas minerais.
Foto da Fonte Duque de Saxe

Porém, os guardiões do tempo têm um inimigo implacável. O homem. O homem que por ignorância ou por ganância se intromete no meio que não lhe é próprio, despedaça o equilíbrio que garante a fluidez do tempo, destrói sobre as águas a ponte entre o passado e o futuro. E qual melhor instrumento para desfazer a ignorância que o conhecimento histórico e, qual melhor instrumento para desfazer a ganância que a lei?

Este é o objetivo desse projeto. Implantar unidades de conhecimento para preservar o patrimônio histórico e cultural, ao mesmo tempo em que a Lei determine essas unidades como Unidades de Conservação da Natureza, preservando e perpetuando assim a essência da história de Caxambu, ou seja, as suas águas. O nosso desafio? Sermos agentes históricos nos tornando agentes ecológicos sem interferir na história perene das águas de Caxambu...
Foto da Fonte Conde D’EU e Fonte Princesa Isabel

2. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

2.1. ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E ADMINISTRATIVOS

O município de Caxambu tem a sua história ligada à descoberta das jazidas de água mineral no início do século XIX. De acordo com a história oral do município, o escritor mineiro Diogo de Vasconcelos ao subir ao alto do morro conhecido como Caxambu, escutou o ressoar das batidas de seus passos no solo, retumbando como um tambor africano, o que ensejou o batismo do local já que “caxambu” significa tambor de música em dialeto africano. Na Fazenda do Caxambu, posteriormente foi construída uma capela em homenagem a Nossa Senhora dos Remédios e em torno dela se formou o povoado. As fontes de água mineral foram descobertas em 1814 e a as propriedades curativas da água consolidaram a fama local.

Com a divulgação da existência dessas águas, o local passou a receber a visitação de pessoas atraídas pela possibilidade de curas de moléstias diversas através da ação das águas minerais. Dentre essas pessoas destacou-se a figura da Princesa Isabel, que buscou nas águas a fertilidade para a concepção de um herdeiro. Assim, o local passou a ser a instância hidromineral favorita da família imperial o que influenciou os aspectos culturais e arquitetônicos da região. Aspectos esses até hoje conservados. O município de Caxambu foi emancipado do município de Baependi em 1901 pela Lei 319 de 16.09.1901. Hoje o município tem no turismo a sua principal atividade econômico. Além dos banhos e das propriedades medicinais de suas fontes, maior concentração de fontes com propriedades curativas diferentes do mundo, a cidade oferece passeios de teleférico, o Parque das Águas com inúmeros atrativos – inclusive um balneário totalmente remodelado recentemente – e ótima estrutura de hotelaria.
O município tem como municípios limítrofes os municípios de Baependi, Soledade de Minas, Pouso Alto e Conceição do Rio Verde.

2.2. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS
Caxambu pertence à região do Circuito das Águas, que por sua vez está inserida na microrregião homogênea de São Lourenço, esta contida na região de planejamento Sul de Minas. O Sul de Minas é a região do Estado de Minas Gerais que apresenta maiores indicadores socioeconômicos.
O turismo desempenha importante papel econômico no município, atraindo principalmente turistas advindos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Um fator importante para o crescimento da atividade turística foi a descentralização industrial ocorrida em São Paulo desde a década de 80, que fez migrarem para o Sul de Minas diversas indústrias daquele Estado, aumentando a densidade demográfica da região e contribuindo para o incremento do poder aquisitivo da população e sua disposição para o turismo. Segundo DINIZ E CROCCO (1996), este fato, ocorrido em São Paulo desde a década de 80 foi “... relativamente contido dentro da região centro-sul, em um grande polígono que vai da região central de Minas Gerais ao Nordeste do Rio Grande do Sul...” Outro fator de importância para o turismo em Caxambu foi a modernização e duplicação da Rodovia Fernão Dias (BR-381), que colocou a região como uma das mais visitadas pela sua posição estratégica entre São Paulo e Belo Horizonte.

As principais atividades econômicas do município de Caxambu estão relacionadas com a exploração de suas jazidas de águas minerais. Seja pelo consumo das águas engarrafadas, seja pela exploração de suas propriedades medicinais em banhos de imersão, o município tem a maior parte de sua economia voltada para o turismo e a identificação de sua marca “CAXAMBU”. Obviamente a indústria do turismo acaba por incentivar outras atividades diretas como a hotelaria e indiretas como o comércio de artesanato.
Os principais quadros econômicos do município são os seguintes:

Tabela 01 – Arrecadação municipal.

ARRECADAÇÃO MUNICIPAL 2001-2008 (reais correntes)
ANOS ICMS OUTROS TOTAL
Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais.

Tabela 02 – Agropecuária.
AGROPECUÁRIA – PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS 2009
PRODUTO ÁREA COLHIDA (ha) PRODUÇÃO (t) RENDIMENTO MÉDIO (kg/ha)


Fonte: IBGE.





Tabela 03 – Pecuária.
PECUÁRIA – PRINCIPAIS EFETIVOS 2009
ESPECIFICAÇÃO NÚMERO DE CABEÇAS


Fonte: IBGE.




Tabela 04 – Produto Interno Bruto.
PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) A PREÇOS CORRENTES – unidade R$(mil)
ANO AGROPECUÁRIO INDÚSTRIA SERVIÇO TOTAL


Fontes: Fundação João Pinheiro (FJP) e Centro de Estatística e Informações (CEI).



Como podemos analisar na Tabela anterior, o PIB de Caxambu cresceu 2,29% no período 1998/2002, mantendo-se no patamar histórico de 2% de crescimento desde a década de 80 que era de 2,8%.

Tabela 05 – PIB per capita.
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS 2008 – CAXAMBU
PIB per capita R$6.636,03
Fonte: IBGE.

Tabela 06 – População ocupada por setores econômicos.
POPULAÇÃO OCUPADA POR SETORES ECONÔMICOS 2000
SETORES NÚMERO DE PESSOAS
Agropecuário, extração vegetal e pesca 558
Industrial 1.430
Comércio de mercadorias 2.102
Serviços 4.643
TOTAL 8.733
Fonte: IBGE.

Tabela 07 – Finanças públicas.
FINANÇAS PÚBLICAS 2008 – CAXAMBU
Valor do Fundo de Participação do Município – FPM R$9.197.284,34
Valor do Imposto Territorial Rural - ITR R$4.317,46
Fonte: IBGE.

Ilustração 01 – Gráficos representativos de participação das Regiões de MG no PIB – 2008.


Fonte: IBGE – Coordenação de Contas Nacionais – Fundação João Pinheiro, centro de estatística e informações.





Ilustração 02 – Gráficos representativos da composição do PIB das Regiões de planejamento de MG – 2008.
Fonte: IBGE – Coordenação de Contas Nacionais – Fundação João Pinheiro, centro de estatística e informações.




2.3. ASPECTOS FÍSICO-AMBIENTAIS
O município de Caxambu está localizado na Macrorregião do Sul de Minas, Microrregião de São Lourenço. O município compreende uma área territorial de 101,06 km2 (cento e um quilômetros quadrados e sessenta metros quadrados). Sua altitude máxima – 1.257 m (um mil duzentos e cinquenta e sete metros) – localiza-se no Alto da Boa Vista; a altitude mínima – 863 m (oitocentos e sessenta e três metros) – localiza-se na Foz do Ribeirão do Taboão; o ponto central da cidade está localizado a uma altitude de 895,37 m (oitocentos e noventa e cinco metros e 37 centímetros).

O tipo climático da Microrregião de São Lourenço, segundo o IGA (1982), na classificação de Köppen, corresponde ao tipo C: Mesotérmico úmido do subtipo Cwb, tropical de altitude, com verões suaves, temperatura de mês mais quente inferior a 22º C e com média anual de precipitação pluviométrica da ordem de 1.400 mm (meses mais chuvosos são dezembro, janeiro e fevereiro e menos chuvosos são junho, julho e agosto). Em trechos mais elevados a área tende ao subtipo Cf: mesotérmico úmido, sem estações secas e com verões suaves. A temperatura média anual de Caxambu é 19,1º C, a média máxima anual é 27,1º C e a média mínima anual é 13,3º C. O índice médio pluviométrico anual é 1.568,9 mm, portanto maior que a média anual de precipitação da Microrregião.

De acordo com dados do Projeto Radambrasil (1983), a Microrregião se apresenta como área de tensão ecológica. O contato Floresta Estacional/Floresta Ombrófila Mista ocupa a faixa altimétrica dos 800 m aos 1.200 m. Segundo os mapas de cobertura e uso do solo do IEF , baseados em imagens Landsat TM, na microrregião se encontram os seguintes tipos de vegetação e ocupação do solo: áreas agrícolas, pastagens, matas de encosta, mata/floresta estacional semidecidual preservada em altos topográficos, matas ciliares, formações vegetacionais em várzea. Segundo o estudo do Projeto Circuito das Águas (1999) do Estado de Minas Gerais:

Predominam as áreas agrícolas e de pastagens, que substituíram a cobertura vegetal nesse ambiente, atestando a ocupação antrópica intensa. Esse fato foi confirmado pelos estudos piloto realizados por Lumbreras & Shinzato (1993b) em Caxambu, onde se conclui que as pastagens ocupam 72,37% da área total com exploração pecuária de forma semi-intensiva. As principais forrageiras utilizadas para pastoreio direto são Jaraguá (Hyparrehenia rufa), Gordura (Melinis minutiflora), Grama-batatal (Paspalum notatum) e as Braquiárias (Brachiaria decumbens e Brachiaria brizanta). O uso constante de queimadas induziu a instalação de gramíneas invasoras de baixa qualidade, tais como Capim Sapé (Imperata brasiliense) e Rabo-de-burro (Aristida pallens).

No município de Caxambu ocorrem florestas consideradas como Contato Floresta Estacional/Floresta Ombrófila Mista, com ocorrência de Araucária (Araucária angustifólia). Segundo o Inventário Florestal de Minas Gerais/IEF o município de Caxambu possuía em 2007 12,54% de sua área coberto por Floresta Estacional Semidecidual Montana correspondente a 1.247,22 ha.

O município de Caxambu está localizado na sub-bacia hidrográfica do Rio Verde (GD4), Bacia Hidrográfica do Rio Grande. Os principais afluentes do Rio Verde são os rios Passa-Quatro, Baependi, Lambari, Peixe, Palmela e Esperança. Destes, o Rio Baependi, além do Ribeirão Taboão e Ribeirão João Pedro – também afluentes do Rio Verde – banham o município. Na área dos municípios que compõem o Circuito das Águas – Cambuquira, Caxambu, Conceição do Rio Verde, Lambari e São Lourenço – os cursos d’água praticamente se desenvolvem no sentido sul-norte. A jusante dessa área o Rio Verde desloca-se basicamente no sentido sudeste-noroeste até a sua foz. Segundo estudos do Projeto Circuito das Águas, realizado pelo Estado de Minas Gerais (1999):

Os recursos hídricos da região, em termos quantitativos, foram avaliados por IGA (op.cit.) utilizando o método de Thornthwaite e Mather (1955). Segundo essa fonte, verificou-se que, em todas as estações meteorológicas usadas para o cálculo do balanço hídrico, o total anual de precipitação pluviométrica é superior ao total anual de evapotranspiração potencial.

O município de Caxambu abrange a Sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Bengo, que é o principal contribuinte da lagoa do Parque das Águas e é afluente das Sub-bacias hidrográficas da Bacia hidrográfica do Rio Verde.

A constituição do relevo do município é caracterizada pela presença dos grandes compartimentos geomorfológicos da região, a Depressão do Rio Verde e a Serra da Mantiqueira. A Serra da Mantiqueira é formada pelo conjunto de alinhamentos de cristais de direção SW-NE, caracterizado por vertentes íngremes e vales encaixados. A região enquadra-se na classe de relevos de dissecação moderada, abrangendo os relevos de dissecação estrutural orientados, com cristas assimétricas e escarpas que coalescem com rampas de colúvio, “mares de morros” e colinas convexas. A depressão do Rio Verde resulta do encaixamento de uma drenagem do tipo paralela, constituída pelo Rio Verde e seus tributários Rio Lambari e Rio Baependi.

No município de Caxambu o relevo caracteriza-se por uma sequência de colinas com vertentes suaves e vales rasos de fundo amplo.
A Sub-bacia do Ribeirão do Bengo está localizada em planície aluvionar representativa da depressão do Rio Verde. Do ponto de vista pedológico há duas situações distintas na fisiografia local: a planície fluvial e as terras altas, com meias encostas aplainadas, tabuleiros, colinas e montanhas. As terras de várzeas possuem solos derivados de sedimentação aluvial e esporadicamente lacustres. As terras da parte alta ocupam a maior parte com relevo suave a montanhoso, elaborado em rochas metassedimentares, pré-cambrianas, com quartzitos, gnaisses e com grande porcentagem de mica e quartzo. Predominam solos profundos , bem drenados, de textura argilosa e média. As terras são muito susceptíveis à erosão, principalmente quando ocorrem solos que apresentam horizonte C (saprólito) próximo à superfície.

As classes de solo na região são Latossolo Vermelho-escuro (com inclusões das classes de solo Latossolo Vermelho-escuro A proeminente e Latossolo Vermelho-amarelo A moderado e proeminente), Cambissolo, Cambissolo Latossólico, Glei Pouco Húmico, Solos Orgânicos, Solos Aluviais, Solos Aluviais Gleicos e Solos Litólicos.

Tabela 08 - Topografia
Topografia Plano Ondulado Montanhoso
(%) 25 40 35
Fonte: Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Caxambu possui uma ocorrência de água mineral carbogasosa situada na área central da sede, inserida na Sub-bacia Hidrográfica do Ribeirão Bengo, onde se localiza o Parque das Águas.
O Parque compreende fontanários que abrigam doze fontes: Leopoldina, Beleza, Duque de Saxe, D. Izabel, Conde D´Eu, D. Pedro II, Viotti, Venâncio, Mayrink I, Mayrink II, Mayrink III e Ernestina Guedes, além de um poço tubular de 60 m de profundidade, que apresenta jorros intermitentes. O Parque das Águas está situado na base do Morro do Caxambu em uma planície aluvionar com cerca de 300 m de largura.







2.4. INFRA-ESTRUTURA URBANA
O município de Caxambu, por ser equidistante dos municípios de Belo Horizonte (361 km), São Paulo (360 km) e Rio de Janeiro (295 km) e por seus atrativos turísticos, recebeu uma malha rodoviária extensa. As principais rodovias que servem de acesso a Belo Horizonte são a BR-040, a BR-267 e a BR-383, além destas o município é servido pela BR-354. Além das rodovias o município conta com aeroporto com pista de asfalto de 1.500 m (um mil e quinhentos metros) de comprimento e 30 m (trinta metros) de largura, cuja administração é exercida pela Prefeitura Municipal de Caxambu. A energia elétrica é fornecida pela Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, como pode ser visto na tabela a seguir:

Tabela 09 – Consumo de energia elétrica.
Fonte: CEMIG.

A concessionária de água e esgoto é a Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA. O município conta com uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto administrada pela COPASA.
Em 2000, segundo a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis – ABIH, existiam 29 (vinte e nove) hotéis no município. As Instituições financeiras que estão estabelecidas no município são o BANCO ABN AMRO S.A., BANCO BRADESCO S.A., BANCO DO BRASIL S.A., BANCO ITAÚ S.A. e a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.

2.5. ASPECTOS EDUCACIONAIS
Conforme a Síntese de Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o registro de cadastramento de alunos no município de Caxambu em 2008 foi o seguinte:

Seguiria uma série de tabelas que ficariam cansativas para o leitor do Jornal Primeira Fonte mas que constam do documento original. Por isto não estão listadas.

2.6. ASPECTOS POPULACIONAIS
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD ), o IDH do Brasil em 1991 era 0,696, evoluindo para 0,766 em 2000. Dentre os índices da microrregião de São Lourenço, o maior era exatamente o de São Lourenço (0,743) em 1991, evoluindo para 0,839 em 2000. No mesmo período, 1991-2000, o IDH de Caxambu cresceu 8,45%. Era 0,734 em 1991 e passou para 0,796 em 2000. De acordo com a classificação do PNUD, o município está no nível das regiões consideradas como de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8).

Dos índices de acesso da população aos serviços básicos – água encanada, energia elétrica e coleta de lixo – o acesso que teve a maior evolução foi a disponibilização á população no período analisado pela PNUD (1991/2000). O índice referente ao acesso do serviço de coleta de lixo era 82,8% em 1991, evoluindo para 94,8% em 2000.
A evolução do IDH referente ao período 2000/2011 ainda não foi definida pelo PNDU, porém, o IBGE já disponibilizou as informações do censo realizado em 2010.
Foto ilustrativa da fonte DOM PEDRO. Removida por problemas construtivos.

3. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS PRETENDIDAS COMO UNIDADES DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

3.1. ASPECTOS GERAIS

As áreas definidas para a implantação das unidades de preservação do Patrimônio Histórico e Cultural e Unidades de conservação da Natureza situam-se a montante do Parque das Águas em Caxambu – MG. São 04 (quatro) as áreas pretendidas:

• Represa do Jacaré. Situada nas coordenadas geográficas Latitude 21°59'44.42" S e Longitude 44°57'33.07" O;
• Parque das Águas. Situado nas coordenadas geográficas Latitude- 21°59'4.49" S e Longitude- 44°56'20.01" O;
• Morro Caxambu. Situado nas coordenadas geográficas Latitude 21°58'48.72" S e Longitude 21°58'48.72" S;
• Parque Ecológico de Caxambu. Situado nas coordenadas geográficas Latitude 21°59'8.34" S e Longitude 44°56'35.16" O.

Ocorrem diversos cursos d’água na região das áreas, sendo o contribuinte principal da lagoa do Parque das Águas o Ribeirão Bengo pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Vede e Sub-bacia Hidrográfica do Rio Baependi. A área de recarga das fontes de água mineral do Parque é o Morro caxambu.

3.1.1. Caracterização hidrográfica

Bacia Hidrográfica do Rio Verde (GD4)

A área pretendida para as UCs encontra-se na Bacia Hidrográfica do Rio Verde que situa-se na mesorregião Sul-sudoeste e abrange um total de 23 sedes municipais, atendendo municípios como Caxambu. Com uma população total estimada de 423.449 habitantes e uma área de drenagem de 6.924 km², a bacia possui clima úmido, apresentando de um a dois meses secos por ano e disponibilidade hídrica entre 10 e 20 litros por segundo por quilômetro quadrado. A média anual do Índice de Qualidade das Águas (IQA) ao longo do Rio Verde em 2005 manteve-se no nível Bom na estação de amostragem localizada a montante da cidade de Itanhandu e Médio nos trechos situados a jusante da cidade de São Sebastião do Rio Verde, na cidade de Soledade de Minas, na cidade de Três Corações e na localidade de Flora. Na estação de monitoramento localizada a jusante da cidade de Varginha, foi registrada média anual do IQA no nível Bom, representando uma melhora em relação ao ano de 2004, quando se observou IQA Médio. O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Verde encontra-se em funcionamento.
A Bacia Hidrográfica do Rio Verde faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Grande que tem cerca de 145.000 km2 de área de drenagem, e está localizada entre Minas Gerais e São Paulo. A Bacia Hidrográfica do Rio Grande é uma sub-bacia da bacia do Rio Paraná, uma das doze regiões hidrográficas do território brasileiro, abrangendo uma área de 879.860 km². O Rio Grande nasce na Serra da Mantiqueira, em Bocaina de Minas (MG), e percorre 1.306 km até o Rio Paranaíba, formando o Rio Paraná. O rio forma a divisa natural de São Paulo com o estado mineiro, a partir do município de Claraval. Os principais afluentes do Rio Grande são os rios Aiuruoca, cuja nascente fica em Itamonte; Rio das Mortes, que nasce entre Barbacena e Senhora dos Remédios; Rio Jacaré, que nasce em São Tiago, na Serra do Galba; Rio Sapucaí, com sua nascente na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, e o Rio Pardo, que nasce em Ipuiúna.
O Parque das Águas de Caxambu está inserido na Sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Bengo que faz parte da Bacia hidrográfica do Rio Verde.
Ilustração 05 – Mapa de Bacias Hidrográficas de MG.


3.1.2. Classificação de águas

A área das UCs pretendida está localizada na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Bengo tendo a seguinte classificação de águas:

Deliberação Normativa COPAM nº 33, de 18 de dezembro de 1998.

Dispõe sobre o enquadramento das águas da bacia do Rio Verde.

14. SUB-BACIA DO RIO BAEPENDI

TRECHO 43 - Rio Baependi, das nascentes até a confluência com o ribeirão Furnas inclusive Classe 1

Incluem-se os rios São Pedro e córregos do Bugio e Sobrado

TRECHO 44 - Rio Gamarra, das nascentes até o limite do Parque Estadual da Serra do Papagaio Classe Especial

TRECHO 45 - Rio Jacu, das nascentes até o limite do Parque Estadual da Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 46 - Rio do Cigano, das nascentes até o limite do Parque Estadual da Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 47 - Rio Piracicaba, das nascentes até o limite do Parque Estadual da Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 48 - Ribeirão do Santo Agostinho ou do Charco, das nascentes até o limite do Parque Estadual Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 49 - Córrego da Serra, das nascentes até o limite do Parque Estadual Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 50 - Córrego dos Coelhos, das nascentes até o limite do Parque Estadual Serra do Papagaio Classe Especial
TRECHO 51 - Rio da Palmeira, das nascentes até a confluência com o córrego Ressaca, inclusive Classe 1
TRECHO 52 - Ribeirão da Cachoeirinha ou João Pedro, das nascentes até a confluência com o córrego Mombaça, inclusive Classe 1
TRECHO 53 Córrego das Laranjeiras, das nascentes até o limite da Reserva Biológica das Laranjeiras Classe Especial
TRECHO 54 - Lago do Parque das Águas de Caxambu e tributários, das nascentes dos cursos d’água contribuintes para o lago até o seu barramento Classe 1
TRECHO 55 - Ribeirão Formoso, das nascentes até a confluência com o rio Baependi Classe 1
TRECHO 56 - Córrego da Conquista/Ribeirão Machado/Ribeirão Taboão/ das nascentes até a captação d’água para o abastecimento doméstico da cidade de Soledade de Minas Classe 1
TRECHO 57 - Córrego da Palha, das nascentes até a confluência com o rio Baependi Classe 1
TRECHO 58 - Córrego da Roseta, das nascentes até a confluência com o rio Baependi Classe 1
TRECHO 59 - Ribeirão Contendas, das nascentes até a confluência com o rio Baependi Classe 1
TRECHO 60 - Córrego da Pimenta, das nascentes até a confluência com o rio Baependi Classe 1
A seguir é apresentado uma imagem de satélite (Google Earth) com a indicação das áreas pretendidas como UCs:
Ilustração 06 – Imagem com indicação das áreas pretendidas como Unidades de Conservação da Natureza.

4. CONCEPÇÃO DO PROJETO DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E AMBIENTAL DE CAXAMBU

4.1. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL

A preservação da história do município de Caxambu deve ser realizada utilizando todo o conjunto de instrumentos de conservação da memória disponível. Os registros literários, documentais, a história oral através dos recursos audiovisuais, os acervos fotográficos, mas, não pode ser deixada de lado a preservação do meio em que a história se desenvolveu.
Estendemos nosso olhar para um pouco mais longe, para a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Berço de todo o arcabouço político do Brasil, incrustada de joias históricas como a Biblioteca Nacional e o Museu Histórico Nacional, a cidade outrora cercada por uma deslumbrante Mata Atlântica, onde as quintas inspiravam obras como o legado de Machado de Assis; floresta que permeava a metrópole de então com a poesia do tropicalismo brasileiro em todo o seu esplendor natural, hoje não passa de pequenas manchas em sua paisagem. Onde havia o verde, que era tão verde, que os olhos se perdiam de tanto verdejar – citando as cartas de Caminha – agora seus morros abrigam casebres toscos, reduto de um povo triste, que perpetua a sua condição misérrima por não conhecer a sua própria história. O Rio de Janeiro perdeu junto com o desaparecimento de sua Mata Atlântica parte de sua história, bem como a proteção que a natureza emprestava às suas encostas que hoje se vingam deitando sobre a cidade sua fúria em forma de lama.
Caxambu também tem a sua história entrelaçada com o seu meio, a começar pelo próprio nome que lhe foi emprestado pelo morro suntuoso que humilde esconde toda a sua grandeza, a qual o viajante só percebe quando em seu topo é descortinado um horizonte formado pelo tapete de morros com matizes de cores diversas. A cidade também tem a sua mata a lhe rodear, a brisa que corre por suas vias chega ainda trazendo o frescor das árvores e das nascentes que seduziram a família imperial para a região. E ainda, Caxambu tem a peculiaridade de seu conjunto de fontes de água mineral, único no mundo, que atrai constantemente a história para a sua localidade. Mas, o meio físico histórico e cultural de Caxambu também corre perigo. O morro já apresenta escaras em forma de casas que insistem em tentar escalá-lo sem serem convidadas. As matas, por serem puras e não poderem se defender, sofrem com as invasões de plantas exóticas trazidas pela atividade humana que abre falhas onde antes havia memória histórica.
Não somente o acervo arquitetônico do município deve ser protegido, mas também a sua paisagem histórica e a perpetuação de suas águas minerais. E como fazê-lo? Através da cultura. Combatendo a ignorância daqueles que ferem a paisagem e as nascentes da cidade, ajudando-os a entender a importância que a preservação do meio ambiente tem para suas águas e a relevância que a fotografia do município tem para a sociedade local. Importância que transcende a relevância histórica e cultural, para penetrar no viés econômico da cidade, já que esta tem na atividade turística a sua principal fonte de renda. Mas não são somente os ignorantes que invadem a natureza os responsáveis pela perda do acervo paisagístico da cidade, existem aqueles que lucram com essa perda de memória, os gananciosos. Aqueles que lucram através da especulação imobiliária, oferecendo aquilo que deveria ser de todos, a paisagem da cidade, a quem puder pagar por um terreno mais alto, com vistas para o lago do Parque das Águas talvez...
Quando queremos preservar um acervo artístico, quadros, por exemplo, guardamos este acervo em museus. Quando queremos preservar um acervo literário, utilizamos as bibliotecas, mas e quando se trata de uma paisagem? O cenário paisagístico pode ser preservado pelo tombamento como foi feito em Diamantina – MG, quando aquela cidade foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, mas no caso de Caxambu isso seria suficiente? Provavelmente não. As águas de Caxambu fazem parte de um ecossistema complexo e amplo que deve ser protegido como um todo para perpetuar a sua existência e não somente o entorno imediato da cidade. O melhor instrumento então é a elaboração de áreas de preservação permanente através da criação de Unidades de Conservação da Natureza. A UC concede a legitimidade legal para a proteção e preservação permanente de todo o ecossistema.
O ideal então é conceber UCs com Centros de Educação Ambiental, Histórica e Cultural para aliar a preservação da memória local com a preservação do meio ambiente em que esta se desenvolveu. Educando aqueles que hoje não tem conhecimento do valor de sua própria história e criando mecanismos jurídicos de defesa contra aqueles que têm esse conhecimento, mas não dão valor a ele.

4.1.1. Centro Educacional Ambiental, Histórico e Cultural

Este projeto pretende a instalação de um Centro Educacional, Histórico e Cultural permanente dentro da área das Unidades de Conservação da Natureza, onde o visitante receberia informações de cunho ambiental, mas também teria acesso à mostras do acervo histórico e cultural do município, bem como participaria de palestras e projeções de vídeos educacionais, mostrando a importância das águas minerais para a formação cultural e histórica da cidade e sua sociedade civil, criando assim uma identidade da população local e visitante com o seu acervo paisagístico, ambiental e com a necessidade de preservação do meio ambiente, entendido como ecossistema, para a perpetuação do conhecimento histórico do município através de suas águas.
Este Centro Ambiental, Histórico e Cultural, além de ser a sede de divulgação do conhecimento pretendido, seria o centro operacional e administrativo para a fiscalização das UCs, funcionando como sede administrativa das mesmas.


4.2. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Para o fim exposto de preservação do Patrimônio Histórico e Cultural do meio paisagístico e das fontes de água mineral de Caxambu, este projeto propõe a criação de Unidades de Conservação da Natureza, formadas de acordo com o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, com a preservação e proteção das áreas Represa do Jacaré, Parque das Águas, Morro Caxambu e Parque Ecológico de Caxambu, que formariam um escudo ambiental e um corredor ecológico para a proteção do ecossistema local e das áreas de mananciais e recarga de águas minerais.
Cada uma das áreas poderá ser enquadrada nas categorias de unidades de conservação previstas no SNUC, quais sejam:
Unidades de Proteção Integral:
• Estação ecológica;
• Reserva Biológica;
• Parque Nacional;
• Monumento Nacional;
• Refúgio de Vida Silvestre.
Unidades de Uso Sustentável:
• Área de Proteção ambiental;
• Área de Relevante Interesse Ecológico;
• Floresta Nacional;
• Reserva Extrativista;
• Reserva de Fauna;
• Reserva de Desenvolvimento Sustentável;
• Reserva Particular do Patrimônio Natural.

O enquadramento da área dentro das categorias citadas será consequência de Projeto específico para a análise e registro dos meios bióticos, geofísicos e antrópicos de cada área para a correta classificação. Segundo a Lei No. 9.985 de 18.07.2000, que instituiu o SNUC, são estes os fins a que se destinam as unidades de conservação:

“I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.”

Podemos então observar que as áreas que se pretende preservar no município de Caxambu atendem aos objetivos da Lei, ficando tão somente a classificação do tipo de unidade de conservação adequado para cada área condicionado aos estudos ambientais que serão realizados. Mas os atos do Poder Público que criarão cada uma das Unidades de Conservação poderão ser morosos e não atender a urgência de reversão dos processos de degradação que cada uma das áreas está sofrendo. Esta possibilidade, por si só, justifica o objetivo do presente projeto para proteger as áreas, a criação local de um Geoparque.

5. GEOPARQUE CIDADE DAS ÁGUAS

5.1. CARACTERIZAÇÃO DE GEOPARQUE

Segundo o site do Ministério do Turismo do Brasil :

“O Brasil tem um potencial turístico ainda pouco explorado. São as regiões que agregam importância histórica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e científica – definidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como geoparques...”
“O coordenador regional do Projeto Geoparks, em São Paulo (SP), Antonio Theodorovicz, explica que, para se enquadrar como geoparque, é necessário que a região possua excepcionalidade geológica com importância científica e características únicas. “A Unesco, com a criação dos geoparques, pretende preservar regiões que contam a evolução dos continentes, a herança geológica da Terra. E, ainda, aliar a preservação, necessariamente, ao desenvolvimento social e econômico dessas regiões por meio do Geoturismo”.

Vamos então verificar cada uma das características de uma área para determiná-la como Geoparque e analisar se Caxambu se enquadra nessas características:

a) Importância Histórica: como vimos anteriormente, Caxambu foi e ainda é uma cidade inserida nos contextos sociais e políticos desde o Império até os dias de hoje;
b) Importância Cultural: sendo uma cidade em formação desde o império, caxambu possui um rico acervo cultural refletido em seus vitrais, admirado em sua variedade arquitetônica e contextualizado pelo meio artístico que sempre a visitam;
c) Importância paisagística: O Morro Caxambu dentre outras atrações confere panorama único onde as Minas Gerais podem ser apreciadas em toda a sua profundidade;
d) Importância geológica: Suas jazidas de água mineral são uma fonte de recursos inigualáveis para o município e o mundo (face aos atuais problemas de escassez de água);
e) Importância Arqueológica e Paleontológica: Desde a origem da humanidade o homem procura se instalar onde ocorre a abundância de recursos para a sua sobrevivência, obviamente a região de Caxambu deve ter sido sempre povoada desde a pré-história e provavelmente existem sítios arqueológicos a serem pesquisados na região;
f) Importância Científica: O conjunto de fontes de águas minerais do Parque das Águas possui diversas propriedades curativas já comprovadas cientificamente e ainda são pesquisadas;
g) Excepcionalidade Geológica com Importância Científica: A variedade de composições químicas e físicas das fontes de águas minerais no mesmo local = Parque das Águas – é única no mundo e atrai pesquisadores do mundo inteiro, principalmente das áreas da medicina e da geologia para estudar suas propriedades;
h) Por fim, podemos salientar que a cidade de Caxambu já condiciona hoje suas atividades econômicas e sociais às águas minerais e o Geoturismo auxiliaria enormemente a sustentabilidade da região e do Geoparque.

Citando ainda o site do Ministério do Turismo do Brasil: “Os geoparques têm importante papel no desenvolvimento econômico do território, e o turismo é uma alternativa de geração de renda para a comunidade. Com base no tripé conservação, educação e desenvolvimento sustentável, os geoparques estão organizados pela Rede Global de Geoparques (Global Geoparks Network), fundada em 2004, composta por 64 geoparques distribuídos por 19 países”.
Desta forma fica evidente que o município de Caxambu possui áreas com o potencial de integrarem um Geoparque e, como essa área passa a ser uma APA – Área de Preservação Ambiental, as áreas que esse projeto trata estariam imediatamente protegidas até que fossem criadas as respectivas Unidades de Conservação da Natureza por atos do Poder Público.

5.2. ESCOPO DE ESTUDO DAS ÁREAS DO GEOPARQUE

A criação de um geoparque é fruto de um trabalho de pesquisa ambiental de todo o meio físico, biológico e antrópico da área pretendida e de sua área de amortização. A pesquisa deve ser realizada por equipe multidisciplinar, para criar um banco de dados para posterior análise e registro. A equipe deverá observar os seguintes aspectos da área:

a) Delimitação das áreas do geoparque e de suas áreas de amortização:
• Indicação de sistemas viários de acesso.
b) Representação gráfica da área em mapas digitalizados;
c) Descrição dos meios abióticos e bióticos:
• Análise e elaboração de mapas com a representação da cobertura vegetal;
• Elaboração de mapas com a representação da fauna local;
• Elaboração de mapas com as zonas de corredores ecológicos;
• Elaboração de mapas com as zonas de hot spot.
d) Descrição do meio geofísico:
• Elaboração de mapas geológicos;
• Caracterização da água com a representação hídrica em mapas;
• Caracterização do clima;
• Caracterização geológica e geomorfológica;
• Caracterização de relevo.
• Caracterização hidrográfica, hidrológica e limnológica;
e) Descrição do meio antrópico:
• Caracterização da população;
• Elaboração de mapas de representações populacionais na área;
• Elaboração de mapas com representações históricas;
• Análise e mapas de uso e ocupação da terra.
f) Elaboração de projeto de ecoturismo:
• Determinação de áreas de interesse para o ecoturismo;
• Determinação de trilhas de interesses para o ecoturismo;
• Elaboração de mapas temáticos.
g) Elaboração de projeto histórico-cultural:
• Determinação dos aspectos históricos relevantes para formação de acervo do geoparque;
• Mapeamento de sítios históricos, paleontológicos e arqueológicos;
• Identificar áreas de manifestações culturais como as religiosas.
h) Elaboração de relatório descritivo para envio a UNESCO;
i) Elaboração do Plano de Manejo do geoparque.

6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DO LEVANTAMENTO DE DADOS DAS ÁREAS DO GEOPARQUE
Imagem de satélite da área da represa do Jacaré local da nascente do Córrego Bengo

Imagem de Satélite do Parque das Águas de Caxambu


Foto imagem de satélite da área do Morro Caxambu área de recarga em recuperação ambiental.


Imagem de Satélite do Parque Municipal de Caxambu área de recarga a ser recuperada com plantio de mudas da mata nativa.

Aqui está publicado o projeto de criação do Geoparque de Caxambu, quase na íntegra pois faltam algumas tabelas que, no entanto, constam do trabalho. Em breve publicaremos entrevista com o Secretário do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Caxambu sobre o assunto.

SENHORA DO TEMPO- PISANDO EM BRASA

Por Jorge Carrano


Foto de Victor Brasil-Google


Melhor teria sido, no que me concerne, se o encontro fosse uma brisa que tornasse incandescente a adormecida brasa da camaradagem, gerando entusiasmo e excitação pelo reencontro.
No entanto, foi frio, formal e melancólico.

Eu caminhava pelo calçadão de Icaraí, como habitualmente. Ele vinha em sentido contrário, de tênis, camiseta e boné. O rosto com algumas marcas do tempo, mas as feições mantidas intactas. Impossível não reconhecer, já que estudamos juntos no Liceu, morávamos relativamente próximos e fizemos, junto com outros jovens idealistas, um programa radiofônico estudantil. Falo de Eugênio Lamy Filho.
Num ato reflexo pus-me diante dele e perguntei: posso desafiar sua memória? Eis a sequência do diálogo.

- Hummmm!
- Quero desafiar sua memória. Você lembra que há muitos anos, você escreveu uma crônica que falava de um negrinho vendedor de amendoim que morreu atropelado ao descer do estribo do bonde com sua lata de carvão e saquinhos de amendoins já torradinhos?
- Como você sabe disso?
- Ora,eu li esta crônica na rádio Federal.
- É... eu lembro do Carrano e de um outro que é dentista.
- Pois o Carrano sou eu, e o dentista é o Oswaldo. Mas éramos cinco; tinha ainda o Alódio e a Estherzinha. Lembra dela? Eu a localizei recentemente na internet. Está bem, tornou-se jornalista e poeta e, atualmente, aposentada, mora em Caxambu.
- Ahhh! Você tem boa memória.
- E você, como está?
- Me aposentei há dois meses, trabalhava para o estado, e agora tenho só um consultório particular.
- Legal. Agora vai só curtir a vida não é?
- Tenho dois filhos. Um é médico e está fazendo um pós na Universidade da Califónia. O mais novo, está com 29 anos, é advogado e está na Petrobrás.

A caminhada rendeu mais uns três minutos de conversa, até que chegamos à Praia da Flechas, ele ia retornar e despedimo-nos. Sem grandes emoções ou demonstração de alegria. Por fim, uma recomendação médica: você deve caminhar sempre porque estimula o cérebro. Bem, ele é psiquiatra.
Nem mesmo aquele célebre “me liga”, com o qual nos despedíamos de amigos não muito próximos que encontrávamos ocasionalmente.

Nos três minutos aos quais me referi, antes da despedida, fiquei sabendo que não ele não está e nem frequenta a rede, não tem site ou blog, e acabou de ler o livro do Ricardo Amaral, “um empreendedor” segundo qualificou.

sábado, 28 de janeiro de 2012

MÁRCIO THADEU LANÇA HOJE NO TOM JAZZ, EM SÃO PAULO, SEU SEGUNDO ÁLBUM, "NEGRO CANTO II"

Por Ana Laura Diniz

O cantor Márcio Thadeu homenageia Geraldo Pereira e Cartola
foto divulgação
São Paulo é de muita sorte, pois tem a alegria de receber o cantor carioca Márcio Thadeu, que lança hoje, às 22 horas, em única apresentação, o seu segundo álbum, “Negro Canto II”.


MPB e samba - Com vasto conhecimento e repertório musical, o artista homenageou no primeiro trabalho, compositores como Nélson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Leci Brandão, Gonzaguinha, Seu Jorge. Dessa vez, Márcio reverencia Cartola e Geraldo Pereira.


No palco, a plateia ouvirá clássicos como AconteceFalsa BaianaQue Samba BomPisei num/no DespachoCorra e Olhe o Céu e Tive Sim.


Com Dudu Viana na direção musical, arranjos e piano, o público terá a grande oportunidade de ver canções interpretadas de forma única, e rara – porque Márcio Thadeu, sempre, surpreende e supera todas as expectativas.  


Vá e confira! Clique aqui para adquirir o seu ingresso.



"Corra e olhe o céu" de Márcio Thadeu.

FREDZILA - JIHANKI

Carlos Frederico Abreu

Jidō-hanbaiki (jidō = "automática"; hanbai= "venda" e ki= "máquina")ou jihanki para os íntimos!

Estima-se que exista uma para cada 20 habitantes, o que dá quase umas 6 milhões delas. Pra mim são uma espécie de botequim, num país sem eles.

Estão sempre abastecidas e não é por mágica. É possível ver o pessoal de manutenção durante o dia ou de noite, repondo o estoque e as moedas de troco. Não dá pra imaginar o trabalho e a estrutura necessária para mantê-las funcionando.


As máquinas de rua na maioria vendem bebidas (de todo tipo), mas é fácil também encontrar outras que vendem doces, comida semi-pronta e cigarros (estas são diferentes e falo adiante sobre o TASPO).


Existe uma campanha para se evitar excessos, digamos assim. Hoje em dia é difícil ver máquinas vendendo bebidas alcoólicas por exemplo, na rua, ou então ficam desligadas durante a noite.

A maioria dos hotéis possuem, em cada andar, um canto discreto onde se podem encontrá-las, normalmente junto com a máquina de gelo.


 Esta vendia refeições semi-prontas. Foi amor à primeira vista...


Na falta de serviço de quarto e de um restaurante aberto nas proximidades (os estabelecimentos fecham bem cedo na maioria dos lugares), então encontrar aquela máquina foi quase uma intervenção divina.

Jantei uma boa macarronada, com o tempero especial da Nonna Jihanki!


1.Retire o plástico protetor e o anel de papel que envolve a embalagem.

2.Retire a tampa externa, separando os talheres plásticos.

3. Coloque o saquinho com o molho sobre a tampa interna e feche com a tampa externa.
4. Coloque o anel de papel de novo.


5. Com a embalagem sobre uma superfície plana e resistente ao calor, puxe o fio laranja que sai da embalagem, até aparecer a parte azul do fio.


6. Aguarde 10 minutos. (Não se assuste com o vapor saindo, é assim mesmo!)
7. Abra a embalagem com cuidado, retire o saquinho de molho, retire a tampa interna, corte o saquinho de molho e despeje sobre o macarrão.


8. Itadakimasu!


9. Depois de terminar, basta juntar as partes de novo e... lixo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

HOSPITAL EVANGÉLICO BLUES

Claudia Lopes Borio



Domingo, 11 da manhã. Toca o meu telefone, é a minha filha, a cobrar. Desliga. Ligo para ela. É sua amiga, que tem o mesmo nome. Com muito jeito, ela me diz que minha filha não queria me dizer (já gelo ao ouvir isso), mas que está bem (gelo de novo) e que está no hospital (quase desmaiando agora) e vai levar alguns pontos (suor frio sobre o lábio superior) pois caiu de bicicleta, mas não quebrou nada, foi trazida pela ambulância, está conversando, falando e não está rindo pois está bem esfolada. Ta bem, mãe é profissão perpétua, lá vou eu.

Chego no hospital carregando um livro(obrigada Humberto, parte I), um pacotinho de cookies (obrigada Humberto, parte II) e uma garrafa de água, os três amigos dela estão na sala de espera com um ar muito triste e constrangido, mas me garantem que ela está viva e não foi esmagada por um ônibus. Um amigo argentino que a acompanhava no momento do tombo é o mais triste de todos, parece tão constrangido que eu temo que ele mesmo queira se jogar das escadas para compensar sua falha. Mas não há o que fazer e eu abraço o pobrezinho, que evidentemente está passando mal e tem até uma cor meio esverdeada. A essas alturas estou composta e digna. Temos que aguardar um porteiro que abre uma porta fechada com três fechaduras, ferrolhos e chaves, que nos chamará quando uma assistente social vier dar notícias da pobre menina. Fico na sala de espera envidraçada, onde o sol bate (aparentemente quiseram fazer uma estufa e não uma sala para uso humano) e pessoas sofrem com males diversos, aguardando a famosa assistente social. Uma maçaroca de fios de cabelo e sujeira rola pelo chão, movida pelos fracos ventiladores de teto. Um ambiente pouco limpo onde eu reparo também em inquietantes pingos de sangue, já pisados por vários sapatos, que desagradável!!! Um cartaz avisa que o atendimento pelo SUS é inteiramente gratuito. Um pequeno placar na parede oferece folhetos onde Jesus é a Salvação. Que bom.

Finalmente o porteiro abre as fechaduras, a assistente social vem, me pergunta quem sou, sem no entanto vislumbrar qualquer documento, anota meu nome em uma prancheta e me faz entrar. A pobre menina está ensangüentada em uma maca, no corredor, que está limpo, reparo, com o chão brilhando e cheirando a desinfetante. Menos mal. Veste uma camiseta empapada de sangue e tem uma calça de pijama do hospital com várias manchas de sangue também. Segura um pano tipo fralda com o qual tenta conter o sangue que vaza da sobrancelha cortada. Está toda suja de terra. Meu Senhor. Segura na minha mão e começa a chorar misturando sangue com lágrimas. Eu brinco e faço conversa fiada para ela parar de chorar. Agora não adianta mais. Ela terá um fabuloso olho roxo amanhã. Está desconfortável. A assistente me pede gentilmente para deixá-la, pois vai ser costurada e radiografada. Antes dela, alguns médicos costuram um corte feio no couro cabeludo de uma moça que está mais suja e ensangüentada do que ela, sem ter ninguém a acompanhá-la Acho que ela está bem, apesar dos estragos e da sujeira, e retiro-me para a infame sala de espera.

Horas depois, o porteiro já me conhece pelo nome e me conta que a assistente, que é uma só para o hospital inteiro, saiu para almoçar e ainda não voltou. Ataco vários médicos que vêm até a porta, pedindo informações da menina atropelada, ao que eles me prometem verificar o que acontece. Ainda bem que sou advogada e sei por o pé na porta quando quero falar com juízes em sala de audiência, assim consigo usar educadamente a mesma técnica para procurar saber notícias de minha filha. Umas três horas depois, já cansada de olhar o lixo que se revolve pelo chão da salinha, começo a entender porque a porta tem tantas fechaduras e ferrolhos, pois eu mesma já estou com vontade de arrombá-la e pular no pescoço da tal assistente social. Finalmente me chamam, é a mesma assistente, gentil e simpática (perco a raiva dela na hora) que me pede para lavar as mãos, que eu lavo muito bem, e sigo por uma linha amarela desenhada no chão. Passo entre enfermarias onde há pessoas em estado muito ruim, péssimo, horrível ou apenas mal. Ouvi a história de um homem que foi atacado com um extintor de incêndio. Desgraças humanas. Procuro não olhar para não ofender a dignidade dos sofredores. Estão todos ali expostos aos olhares públicos, com os tristes cobertores de soldado que são fornecidos pelo hospital, lençóis impressos, pés de fora. Enquanto não olhamos nos seus olhos, permanecem anônimos.

A filha foi costurada, radiografada, limpa, na medida do possível, está sentada na maca e já conversou com todos que estavam ali por perto. Uma médica examina uma menininha que caiu e machucou seriamente a boca, mas está corajosamente chupando a chupeta de lado e sorri para mim. Um sujeito que tinha entrado pela mesma sala de espera com o pé quebrado está deixando a mulher desesperada quando diz que não vai operar o pé. A mulher que entrou gemendo e passando muito mal em um violento ataque de pressão alta desapareceu no interior do hospital.

A médica ainda suspeita de uma pequena fratura no osso que fica em volta do olho dela e sugere uma tomografia. Eu suspiro. O atendimento é atencioso. Excesso de precauções, penso, mas vamos lá. Ela foi costurada por uma estudante chamada Ágata. Espero que Ágata seja uma competente bordadeira. Vamos à tomografia. Ela me conta que veio na ambulância trazida de maca e que foi uma experiência estranhíssima. Eu sei o que é isso, digo a ela . Preste atenção nas luzinhas na máquina de tomografia que é uma experiência psicodélica. Ela vai e eu fico em uma salinha de espera onde há uma pia muito limpa e uma caixa para lixo especial perfurante. Olho pela janela, vejo um pátio onde vários cabos elétricos imensos se contorcem por cima de um telhado – com certeza essas instalações elétricas não são muito boas, penso distraída, enquanto vejo uma gorda ratazana que vem caminhando sobre os fios e desaparece em direção ao interior do prédio. Suspiro.

Ela sai da tomografia, não tem fratura, e me diz que as luzinhas da máquina eram incríveis. Eu sabia, digo. Ela toma uma antitetânica e finalmente saímos, de braços dados, vazando ainda um pouco de sangue pelos curativos, pela mesma portinha, deixando as pessoas da sala de espera com ar tristonho em solidariedade. Despedimo-nos do porteiro (Antonio). Estamos vivas. Atravessamos a praça, pois ela está disposta a andar e vamos ao meu carro. A água tem gosto de concha, ela me diz, devo lavar a garrafinha. Está tudo bem.