Por Dorothy Coutinho
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Assim como o Latim Vulgar, o Português Vulgar vingará plenamente um dia. Afinal é o povo que faz sua língua. Falo dos palavrões que não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos que surgem ao longo das nossas vidas para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos, sem que isso signifique a “vulgarização” do nosso idioma e sim a aproximação com as ruas, escritórios, com as emoções, nosso jeito, nossa índole.
“Pra Caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade? “Pra Caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas Pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o Universo é antigo pra caralho e eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do “Pra Caralho”, para expressar a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!” que vem a ser o “Não, Não e Não” que substituiu o “Não, absolutamente não” - expressão já sem nenhuma credibilidade. “Nem fodendo” liquida o assunto e te deixa com a consciência tranquila para outras atividades de maior interesse em sua vida.
Por sua vez, o desabafo “Porra nenhuma” atende plenamente as situações onde nosso ego exige a definição de uma negação, e é também o cinismo, o escárnio contra descaradas mentiras. Exemplo: “aquele cara” não é “PHD porra nenhuma” o que nos causa sensações de incrível bem estar interior, ao fazer a tardia, mas justa denúncia pública de um canalha.
Pensemos na sonoridade de um “Puta Que Pariu!”, ou seu correlato “Puta-que-o-pariu”, falado assim cadenciadamente sílaba por sílaba, diante de uma notícia irritante. Um “Puta-que-o-pariu” dito assim te coloca outra vez em seu eixo, da aos seus neurônios o devido tempo para se reorganizar e sacar a atitude que permitirá o merecido troco ou se safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso e charmoso “Vai Tomar no Cú?” e da sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cú!”? Já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus, quando passando o limite do suportável, se dirige ao canalha interlocutor e manda essa reação: “Chega! Basta! Não aguento mais – Vai tomar no olho do seu cú!”. Pronto, você retoma as rédeas de sua vida, sua auto-estima.
Seria uma injustiça não registrar a expressão de maior poder de definição da Língua, do nosso Português Vulgar: “Fodeu” e sua derivação mais avassaladora ainda. “Fodeu de vez!”. Não conheço definição mais exata para uma situação que atingiu o grau máximo de uma ameaçadora e perigosa complicação, algo assim: você está dirigindo bêbado, sem documento do carro e sem carteira de habilitação, quando ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar. O que você fala??: – “Fodeu de vez!”.
Lembrando que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala. Não existe nada mais libertário do que o conceito do “foda-se!”. O “foda-se!” aumenta a auto-estima, torna uma pessoa melhor, reorganiza as coisas, liberta: “Não quer sair comigo? Então foda-se!” Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo? Então foda-se!”. O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal. “Liberdade, igualdade, Fraternidade e Foda-se!”. E, se a língua é viva, inculta, bela e mal-criada, nem o melhor professor do mundo explicaria melhor. “Nem fodendo!”
Grosseiro, mas profundo!