Esther Lucio Bittencourt
A revista Bravo deste mês publica matéria sobre Clarice Lispector e cartas pornográficas que James Joyce escrevia com constância para sua mulher.
O nome da matéria sobre Clarice é "Jornalista de Carteirinha" porque, afinal, ela foi jornalista e trabalhou também no DIP de Getúlio Vargas. O departamento de Imprensa e Propaganda que tinha por objetivo disseminar as ideias do Estado Novo. Isto, por volta de 1941.
Suas crônicas, entrevistas, reportagens sobre moda e matérias, reunidas em coletânea. "Clarice na Cabeceira-Jornalismo", editado pela Rocco já está à venda. São pesquisas feitas por diversos profissionais que resgatam ditos e escritos de Clarice Lispector, excluindo os que circulam pela internet, nos quais, certamente, nunca se deve confiar.
Em 2006, a escritora e jornalista Cora Rónai lançou o livro "Caiu na Rede" onde expõe, como diria Eduardo Galeano, as veias abertas da rede: textos apócrifos que circulam pela www. É uma coletânea de escritos apócrifos sobre amor, fama e poder, alguns deles assinados por Clarice Lispector.
Pois é. Tenho uma revista Senhor de 1963, que não foi para a fogueira que fiz de meus escritos quando saí da prisão política, pois sabia que minha vida estacionara ali, desde que até o direito de fazer um curso sobre comunicação no exterior me foi negado, em que na seção O Jacaré, editada pelo cartunista Jaguar, com suas páginas amarelas. Mesmo que a revista hoje esteja amarelada pelo tempo, dá para reconhecer a cor amarela das páginas- há um Children´s Corner, página da Clarice Lispector em O Jacaré da Senhor.
E atrás dela quem escreve: eu. Que prazer isto me causa até hoje. Foi quando Jaguar me lançou como cartunista com "A História Trágica de Lili, ou O pai sem paciência ou a máquina de fazer ruídos".
No seu Children´s Corner, Clarice comenta o seguinte sobre o livro publicado à época pelo jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento, O Pelé: " - No livro de Pelé as coisas vão acontecendo, e depois acontecendo, e depois acontecendo. É diferente do seu, porque você fica só inventando. O seu é mais difícil de fazer, mas o dele é melhor. " ( Atenção: nesta época a palavra dele era acentuada assim: dêle, com acento circunflexo. Depois , muita reforma ortográfica passou sob a ponte e os acentos perderam seu lugar para o vento).
E então, Clarice trabalhou com o Alberto Dines no Jornal do Brasil. Eu trabalhei no Jornal do Brasil sob a chefia do mesmo Dines que dizia: a boa reportagem não é sobre quem o cachorro mordeu, mas sobre por quem o cachorro foi mordido; e o lide, obrigatoriamente deveria ser escrito em três linhas de 72 toques cada uma e o sub lide deveria ter no máximo quatro.
A revista Senhor acabou de desmanchar suas páginas que se desfolharam em minhas mãos. Amanhã preciso providenciar que seja colada por um encadernador. Terá algum em Caxambu? Rimou!
Como perceberam não tenho o poder de crítica da Deda Amorim, divago e acabei de lembrar que não falei sobre Joyce e suas cartas pornográficas. Fica para a próxima, tá? Já passa da meia noite.