Por Ana Laura Diniz e Flávia Pereira
Parque do Ibirapuera, São Paulo, em dezembro de 2011 Google Images |
As ruas, repletas de luzes, ganharam há dias um cenário mais alegre, colorido. E as pessoas que as transitam parecem carregar um semblante mais sereno e harmonioso, afinal, é tempo de Natal!
Mas será que é sempre assim? “Depende. Essa ideia que a sociedade alimenta de que as pessoas são mais felizes com as festas do final de ano nem sempre espelha a realidade. Em geral, essas datas servem para aumentar as disparidades sociais – entre aqueles que têm e os que nada têm. Toda essa obrigatoriedade imposta (in)diretamente pelo comércio, pela mídia e pelas pessoas de que não importa o que tenha acontecido durante o ano que finda, Natal é Natal e o Ano Novo trará apenas dádivas, é falsa. Ah, mas é preciso ter esperanças de dias melhores? Claro! Mas isso é sempre, e não é o Natal que deve fazer a diferença. A gente é o que é, independente de presente, dia, hora, local. É importante não confundir as estações”, diz o administrador de empresas, Rômulo Gonçalves, de 38 anos. “Apesar disso, veja bem, não passarei a data em branco, pois reunirei a família e os amigos... mas Natal, hoje em dia, existe como sinônimo de lucro mercadológico”, acrescenta.
Luan: "Eu só gosto dele (Papai Noel) porque é ele quem me traz brinquedos. Se ele não trouxer, paro de gostar." |
PF: E você por acaso conhece o papai Noel?
Eu nunca o vi, mas acho que ele é um homem que se fantasia, por isso eu não sei se ele realmente existe. Eu só gosto dele porque é ele quem me traz brinquedos; se ele não trouxer, paro de gostar. Esse ano eu ainda não sei se ele vai passar na minha casa, até porque eu não tenho uma chaminé.
Mas para garantir o tão indispensável presente, como de costume, Luan irá para Aparecida do Norte comprá-los com um tio, e depois jantará em casa com toda a família. “O presente pelo presente nada significa”, diz o advogado Carlos Almeida, de 41 anos. Ateu, garante que a data é um dia a mais no calendário, mas aceitou convite para um suntuoso jantar. “Gosto apenas de estar com os amigos, pois não vejo sentido algum em todo esse agito. Não resta dúvida de que a cidade fica muito mais bonita, mas ir ao cinema – por exemplo – é complicado, pois é inimaginável pensar em tirar o carro da garagem rumo a qualquer shopping. A não ser que se queira ficar irritado”, acrescenta. “E tem mais. As pessoas andam muito perdidas. Elas cometem mil atrocidades o ano inteiro e porque é Natal e 2012 se aproxima, acham que simplesmente isso as redimem de todo possível mal. Não vejo senso nesse raciocínio”, complementa o advogado.
No entanto, há os que sentem a data de outra maneira. “Essa é uma época de união entre as pessoas. Pra mim, significa felicidade”, diz a pré-adolescente de 12 anos, Yasmin Pereira Baldi Da Silva. “No passado eu achava que Natal só servia pra ganhar presentes, o que não acontece atualmente, porque eu creio que além disso, o mais importante é ter a família por perto”, diz. “Além disso”, acrescenta Kelvin De Souza Castro, de 20 anos, “o Natal é quando paramos para lembrar do nascimento de Jesus. Quanto mais maduro eu fico, mais forte é o sentido disso para mim. Até uma certa etapa da minha vida, significava apenas o nascimento de um menino, contudo, atualmente, representa o nascimento do meu salvador”, enfatiza.
Giselle Ribeiro Santos, de 41 anos, pensa de maneira parecida. “O Natal é paz, união, confraternização entre povos... Como sou católica, para mim também simboliza o nascimento de Jesus”. E conta: “quando eu era criança, todos esperávamos ansiosamente a hora de abrir os presentes e logo depois jantar com toda a família. Depois que perdi o meu pai, a família se desestruturou um pouco, entretanto, ainda comemoramos a data. Mas naquele tempo eu era criança e acreditava em toda magia do Natal, e hoje eu posso espalhar esse espírito natalino para outras crianças”, diz. “Sem dizer que as missas eram celebradas em latim: o padre ficava de costas para os fiéis, não tinham folhetos”, acrescenta Carmen Silva Pereira, de 69 anos. “Mas veja, muita coisa mudou: antes, os filhos obedeciam aos pais, o que hoje acontece raramente. Na minha casa, quando eu era criança, não havia comemoração, contudo, atualmente, eu, meus filhos, meus netos, todos comemoramos juntos”.
É verdade. “No final, basta o pretexto de estarmos juntos àqueles a quem desejamos. E se existe a tal magia do Natal, eles certamente estão nos encontros, nos abraços, no convívio, e principalmente, na lembrança daqueles que amamos, mas raramente estão perto da maneira como desejávamos. É isso! Eis o verdadeiro milagre de todas essas festas: sabermos transpor a matéria para estarmos verdadeiramente com quem amamos”, finaliza Maria Fernanda Biribebe, de 57 anos.