domingo, 20 de janeiro de 2013

SENHORA DO TEMPO: ACORDANDO

Vera Guimarães

Certa amiga, retornando de circuito envolvendo Washington, New York e Miami em curto espaço de tempo, diz que nem sempre sabe onde está acordando.  Ao acrescentar a esse roteiro a Carolina do Norte, onde passou dois meses, chegou a dizer que não sabia direito onde era a casa dela.

Minha mãe também era assim. Tinha declarada afeição por viagens, relatada aqui. Guardadas as devidas proporções do perímetro do périplo, no caso da minha mãe às vezes circunscrito a Sete Lagoas, Jequitibá, Pirapama, chácara da irmã  e fazenda do irmão, isso não vem ao caso, o fato é que ela se perguntava ao acordar: Onde estou? 

Eu também sou acometida desta e de outras confusões envolvendo sensações espaciais. Em cidade desconhecida, quando vejo que minha simples percepção não basta para me levar de volta ao hotel, tenho que apelar para a lógica irretorquível: confiro se a numeração da rua sobe ou desce, boto o mapa no chão e sigo naquela direção, morta de medo, contrariando meus fracos instintos. Ufa, cheguei ao hotel, veja, mamãe, sem as mãos!

Hoje com certeza esse transtorno já foi classificado, nomeado e tem tratamento. Acho que não preciso, convivo bem com ele.

Ademais, tenho gostado muito de passeios que envolvam barco em rios. Por mais cidades que eu visite, minha cama é sempre a mesma.



Se barco não for possível, o máximo que pode acontecer é eu acordar em Amsterdam e reclamar: Uai, a Oude Kerk estava do outro lado ontem à noite!


Imagens:

Mapa de Washington: www.viaje.es
Amsterdam: wikimedia