domingo, 27 de janeiro de 2013

SENHORA DO TEMPO - IL TIRABUSCIÒ

Vera Guimarães

Amigas queridas costumam me trazer lembrancinhas de suas viagens. São blocos de anotação, gloss, elaboradas lixas de unha, marcadores de páginas, calendários, chaveiros, tudo a atestar que se lembraram de mim. Que bom!

Acabo de ganhar lindo ímã de geladeira em forma de tropical sandália, provido de abertura que funciona como abridor de garrafa! Adoro!

Nas décadas 1970/1980, minha filha mais velha e eu fizemos uma coleção de abridores de garrafa. Tudo começou quando, arrumando gavetas, encontrei duas peças que meu marido trouxe na bagagem de volta ao Brasil depois de dois anos de pós-graduação na Europa. Um abridor era uma medalha de Luís XIV e o outro era uma peça de bronze em forma de máscara de teatro grego.




Aí comecei a prestar atenção em abridores de garrafa. Ao me deparar com algum interessante, comprava-o. Ao dizer a algum amigo que colecionava abridores, provocava no (ex-) dono do objeto a obrigação de mo oferecer. Que cara-de-pau, eu! Assim ganhei um lindo gato de metal fundido, bem anos 1950, o animal em posição de estranhamento, o rabo em espiral, pronto para sacar uma rolha! Obrigada, Dilza! Ganhei também um abridor enorme, tipo lembrança de Itu, do colega Mário César. E outro, um chaveirinho-abridor incrustado com peça de porcelana azul e branca de Delft, de Maria do Carmo Quintão. E muitos outros, de muitos amigos. Por onde andarão? Os amigos, bien sûr, dos abridores eu sei.

Voltando à nossa coleção, minha filha e eu nos tornamos obsessivas na busca por abridores. Em viagens, procurávamos por eles. Uma vez, numa loja sofisticada de um aeroporto, vi lindas peças esmaltadas. Perguntei o preço dos dois na vitrine e escutei algo assim: Quienzvint. Perguntei qual custava quinze e qual custava vinte. A moça, bem blasée, esclareceu: “Quinhentos e vinte cada.” Ah, tá! Realmente eram lindos, de uma artista, e comprei um, em tons de cobre.
Colecionismo vira fissura. Passamos a comprar abridores comuns, e passamos a oferecê-los em bares, restaurantes e até em carrocinhas de lanche em troca dos deles. Assim conseguimos abridores de Fanta, Grapette e até daqueles engenhosíssimos feitos de um pedaço de cabo de vassoura ao qual se aplica um parafuso.

Nossa coleção mostrava lindos abridores em forma de peixes, caranguejos, leões, passarinhos; havia barcos, casinhas, moinhos; tinha também aqueles alusivos a uma cidade, bem baranguinhos, estampando todos os monumentos; outros eram comemorativos de algum evento, a coroação da rainha, o jubileu de prata da Feira de Animais; e infinidade de abridores promovendo marcas comerciais.   

Em fins da década 1990, em Veneza, na hora de escolher um restaurante, entre dois desconhecidos, optamos pelo Il Tirabusciò, saca-rolha em italiano, pelo menos falava de algo familiar. Do lado de dentro da porta do meu armário antigo, costumo colar cardápio, porta-copo ou qualquer outra referência a restaurantes de que gostei. Olha ele aí.



Hoje os abridores estão com minha filha. Conservei comigo apenas os de especial estimação, aqueles da foto, e outros que pertenceram à velha cozinha de minha mãe.

Selecionei alguns links bem interessantes sobre abridores. Passeiem por eles e divirtam-se!
  
Não Somos Apenas Rostinhos Bonitos
Cervisiafilia 
Musée Gourmandise