domingo, 3 de fevereiro de 2013

SENHORA DO TEMPO: ASSOCIAÇÕES MENTAIS, TABELA PERIÓDICA E PALAVRAS CRUZADAS

Vera Guimarães

Certo dia, uma de minhas filhas chegou do colégio contando que, enquanto o professor discorria sobre gases nobres, o radônio isso, o hélio aquilo, o xenônio..., um colega ficava insistentemente com o braço levantado pedindo a palavra. Numa pausa, o menino despejou: “Professor, professor, eu tenho um primo que chama Hélio!”

Essa situação é o famoso palpite infeliz, o off-topic , o nada-a-ver,  o por-falar-nisso, o data venia. Eu, imatura aos 70 anos, incapaz de me conter, péssima ouvinte, intrometida e exibida, confesso que já protagonizei vários “Professor, professor, eu tenho um primo que chama Hélio!”, do que me envergonho e pelo que peço desculpas a quem foi indevidamente interrompido por minha ansiedade. Vamos mudar de assunto.

Entre meus irmãos, ninguém foi para o ramo das Ciências Exatas ou Biológicas. Então, de Química, só temos rudimentos. Só tínhamos. Hoje estamos íntimos da Tabela Periódica dos Elementos. E do hélio, naturalmente. Tudo por causa das Palavras Cruzadas, o jogo de tabuleiro. Desde que apareceu para nós, acho que final da década de 1950, ainda com o nome de Mexe-Mexe, o jogo de palavras cruzadas encontrou, na nossa casa, participantes entusiasmados.



Uma de minhas irmãs e um amigo da família, ambos inteligentes, estudiosos e competitivos, disputavam animadas partidas em que nós, os outros, éramos apenas coadjuvantes. Eles eram imbatíveis. Mas entrávamos no jogo assim mesmo. Minha mãe, por exemplo. Cansada de tentar inutilmente aliciar algum dos filhos para o truco, de que era aficionada, ela acabou aderindo às palavras cruzadas. Embora de poucas letras, era dotada de enorme percepção e fazia frente às filhas letradas. Na sua última semana de vida, recuperando-se de uma intervenção cirúrgica na minha casa, ganhou de nós. Danadinha essa D. Didi!

Naquela época, o jogo que havia lá em casa era esse da ilustração acima e ríamos bastante da imagem da caixa, principalmente da cara de concentração do menino, sem saber que aquela era a nossa cara ao jogarmos. Hoje em dia, nas minhas idas a Minas, minhas irmãs e eu jogamos até cansar. Quando encontro minha filha mais velha, também saem faíscas na competição. Da última vez ela levou a melhor.

 imagem: arquivo pessoal

No jogo, a pior hora é quando se aproxima o final, a hora do “ninguém-larga-o-osso”, quando já não dispomos de espaço, nem que tenhamos boas letras. É aí que apelamos para a Tabela Periódica. Assim como já usei o π (Pi, aquele 3,1416) para confeccionar uma cartola num carnaval, a Tabela Periódica também está servindo para alguma coisa na vida de pessoas cujas atividades normais prescindiriam dela.

Pois bem, quando nos restam poucas chances de formar uma palavra, que tal usar Zn (zinco, pois!) na horizontal, e ze (o nome da letra -z-) na vertical, de preferência o Z no tríplice valor da letra? Ou Pb (chumbo) e Sb (antimônio)? Ou He (o nosso hélio, vejam que belezinha!), na horizontal, e há, do verbo haver, na vertical.

Agora a Tabela Periódica é essencial para nós. Tanto quanto para os nerds do seriado The Big Bang Theory, o físico quântico Sheldon, o físico experimental Leonard, a astrofísico Raj e o engenheiro Howard.  Já reparou que a cortina do banheiro dos dois primeiros é estampada com a Tabela Periódica?


Imagens:

Jogo Caça-Palavra: Mercado Livre
Cortina de Chuveiro com Tabela Periódica: Coolt Blog