domingo, 30 de dezembro de 2012

SENHORA DO TEMPO - "E SE..."

Vera Guimarães
 
Marido anda maravilhado com maciços de árvores de grande porte cobertas de ouro amarelo que, neste dezembro, se exibem por muitas vias de Brasília. Ao admirá-las mais uma vez, agora ali perto do Corpo de Bombeiros da Esplanada, esclareci: Canafístula! 


Por que preciso dar nomes às coisas, principalmente às da natureza ? Por que gosto de saber quem é quem? Por que não me basta o encanto do canto do passarinho, por que tenho necessidade de saber que é uma garrincha?  Apesar de não dar a mínima para horóscopo, já ouvi dizer que taurinos são chegados a uma classificação, a ordenamentos, categorizações. Sou taurina e sou assim.


Acho que esse interesse por nomear as coisas me veio nas muitas andanças com minha mãe, quando ela naturalmente ia dizendo o nome de uma planta, de uma raiz, de um animal, de uma pessoa, de um lugar...

Quando terminei o hoje denominado ensino médio e quis me encaminhar para Letras, tive que fazer o que se chamava adaptação, uma espécie de nivelamento ao então Científico (ou Clássico), já que eu havia feito o curso técnico de Contabilidade. As matérias que escolhi foram Latim (muito coerente com o que eu pretendia) e Biologia. Biologia? Por quê? Acho que me agradava exatamente o ordenamento, as classificações, a taxonomia.

Ainda hoje me pergunto por que não fui estudar Biologia. E se...? Essa bobagem de ficarmos pensando na vida que não vivemos teima em nos assaltar de vez em quando, principalmente quando estamos deprimidas, insatisfeitas com algo, nostálgicas. Recentemente, escutei de uma amiga, das pessoas mais admiráveis que já encontrei, pessoa que vive de forma arrojada, que enfrenta o senso comum, pessoa que faz história por suas ações, que faz diferença na vida de muita gente, que se lança em empreendimentos que lhe consomem o tempo, a saúde e a sanidade, pessoa que se dedica a atividades variadas,  desde criação de cavalos de raça até canto erudito, pois bem, ouvi dela que às vezes acha que deveria ter feito tudo diferente. Ora, Esther, faça-me o favor!
 

Deixe isso para pessoas fracas ou para a literatura e as artes. Uma de minhas autoras preferidas, a Lionel Shriver, escreveu um livro sensacional explorando exatamente esse “ E se...?”  Em O Mundo Pós-Aniversário ela nos conduz pela vida dos protagonistas, ora na perspectiva do que aconteceu a partir de determinada decisão, ora na perspectiva do que aconteceria se a decisão tivesse sido outra. Possibilidades infinitas e fascinantes! E a gente torcendo para que o caminho tivesse sido esse ou aquele.
 
No cinema também tem disso. Corra, Lola, Corra! é feito de cenas que repetem determinado fato e a cada repetição se avança mais um pouco no tempo, quando os fatos se alteram  e mudam a história, num ritmo  aflitivo, desastroso, tenso, com um desfecho muito bem construído.  

Outro filme nessa mesma linha é De Caso com o Acaso, relatos paralelos da vida da protagonista, um na hipótese de ela ter conseguido entrar no vagão que fechava a porta, outro na hipótese de ela ter perdido a viagem.
 

Por que mesmo estou falando de livros e filmes? Ah, por causa do tormentoso “E se...?” Então, e se eu tivesse feito Biologia? Talvez não gostasse tanto de descobrir o nome das coisas, como de fato gosto.


Fontes:

Fig. 1 - Canafístula
Fig. 2 – Garrincha
Fig. 3 – O Mundo Pós-Aniversário
Fig. 4 – De Caso com o Acaso