quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

SEVERO SARDUY. HAVANA, PARIS, BELO HORIZONTE




Lilian Zaremba



Havana.

 Severo Sarduy (imagem Google)
Uma paisagem. Um corte na História.
Homens migram de terras a outras terras como aqueles chamados Tainos quevindos do continente norte, central e sul americano, aportaram e habitaram aquela ilha passando a nomeá-la Caobana. Isso, muito antes da chegada dos espanhóis. Mas quando eles chegaram, renomearam os Tainos e a ilha: passaram a ser Arawak e Cuba...
Uma ilha e muitas histórias. Entre essas, as histórias de pirataria.

Quem visita algumas cidades do Caribe pode observar a beleza de sua arquitetura mas também a estratégia sobre a qual foi pensada...ruas estreitas e sinuosas, construídas de forma a guardar um segredo: do mar , sua vista não alcança longe, dando a idéia – falsa – de que ninguém está protegendo aquele território.
Exatamente assim foi resguardada a cidade de Camagüey.
Durante o século 15, erguida a beira mar, após muitas invasões piratas, foi transferida para longe desses olhos da pilhagem. Camagüey, originalmente Santa Maria de Porto Príncipe, é capital da província e uma das mais populosas cidades cubanas. Além disso, foi ali que ele nasceu.

1937.
ali, aonde outros poetas nasceram: Gertrud Avellanada, Nicolás Guillén... também ele veio ao mundo, Severo Sarduy.

Una lâmpada. Un vaso. Una botella.
Sin más utilidade ni pertinência
que estar ahí, que da a la consciência,
un soporte casual. Mas no la huella.

Uma lâmpada. Um vaso. Uma garrafa.
Sem mais utilidade nem pertinência
Além de estar ali, dando consciência
Um suporte casual. Mas não sua marca.

Poeta, autor deste trecho do “Soneto Morandiano” após estudos escolares, em 1956 sai de Camangüey para estudar medicina em Havana. Quando acontece a Revolução Cubana.

Severo participa nos primeiros momentos da Revolução, colaborando em publicações marxistas como o Diário Libre, mas pouco depois, em 1960, viaja para novos estudos, desta vez em Paris.
Ali, conhece François Whal, filósofo editor da prestigiada Editións du Seuil, que viria a se tornarseu grande amigo e companheiro.
Sarduy trabalha um tempo como produtor na Rádio e Televisão Francesa, escrevendo roteiros, ensaios, aonde se podia escutar

“ouço vozes
não me ordenam nenhum sacrifício,
nenhuma obrigação de meu corpo, de minha pessoa.
Só que não escreva mais para esses vozes”.

Brilhante ensaísta, poeta, pintor, narrador, recebendo o Medici Prize em 1972 por sua novela “Cobra”, Severo Sarduy é considerado uma das  mais importantes vozes artísticas do século 20, uma ponte entre a literatura e pintura, poesia e rádio, Cuba e sim, Belo Horizonte –

Duas imagens de sonho escapam
Cada uma de uma íris

Esta ponte construída através de versos (como os acima, presente no livro Modelos Vivos) captados pelo poeta mineiro Ricardo Aleixo.