quarta-feira, 25 de julho de 2012

DO FEUDALISMO PARA A PARANOIA CONTEMPORÂNEA








Dorothy Coutinho









Imagens Google

Aproxima-se o dia em que seremos filmados, fotografados e monitorados em absolutamente todas as circunstâncias, inclusive no banheiro. Imagino que, num futuro em que a água será escassa, cada morador terá quotas para todo tipo de uso da água e sofrerá penalidades diversas, se ultrapassá-las. Facilmente a monitoração saberá quantas vezes e com que finalidade você usou o vaso sanitário.
Essa estatística – maldita estatística – será indispensável para a formulação de políticas sanitárias e de saneamento básico. Claro, reconheço que deliro um pouco, mas somente um pouco.

O que outrora foram as torres do muro de um castelo, hoje, na verdade, são as guaritas de condomínios fechados com guardas armados de câmeras potentes.
Ao entrar em qualquer elevador é fácil perceber gente olhando para as câmeras e se ajeitando como se fosse entrar no ar dentro de alguns instantes. As periguetes passam a mão na nuca e ajeitam faceiramente os cabelos, como nos comerciais de xampus. Em seguida, tiram a poeira da bunda e sobem os mini vestidos que já estão próximos do estômago.
Se dependesse delas o clipe entraria on line no You Tube, com dezenas de “visualizações”, inclusive da família da vizinha.

Na área da segurança as câmeras vêm quebrando o galho da polícia, que assim consegue botar a mão nas sardinhas do crime organizadíssimo, onde só os tubarões não são filmados.

Outro dia, num noticiário de tevê, presenciei o primeiro making of de um ato criminoso.
Um seqüestrador numa ação de seqüestro relâmpago filmou tudo com seu celular. Qual a razão? Psicanalistas afirmam que diversos tipos de ações criminosas despertam o orgulho autoral. Pois bem, eles agora têm muitos recursos para documentar seus feitos para a História.

Só espero que essa atividade não seja considerada uma nova forma de arte. É possível que algum gênio de uma agência governamental veja nisso algo científico e termine por premiar com absoluta impunidade qualquer assalto, ou semelhante, para o qual seu autor tenha preparado um making of de qualidade, gerando empregos e estimulando a arte. E pior ainda, que venha a ser considerado o melhor diretor de filmagem de assalto do Brasil, tablete de 12 megapixels, tudo muito profissional.

E eu aqui me preocupando em responder à minha neta por que a Cinderela não deu o número do celular dela pro príncipe.
Tarefa difícil para quem pulou do feudalismo para essa paranóia contemporânea, sem etapas intermediárias!