sábado, 7 de julho de 2012

LEVE-ME AO SEU LÍDER!

Carlos Frederico Abreu

Você gosta de Ficção Científica? - Parte 1


Você gosta de Ficção Científica? Você gosta de Ficção Científica daquelas com naves espaciais, robôs inteligentes, espadas de energia, monstros alienígenas e guerras interplanetárias?

Se logo na primeira pergunta você respondeu que não, bem, tenho uma dica bem legal de um site sobre como matar lesmas do jardim para você. Clique aqui.

Se você respondeu "sim" para as duas perguntas, caro leitor, então serei obrigado a lhe dizer que você, muito provavelmente, não sabe o que é Ficção Científica.

Mas não fique chateado, pois antes que você acabe de escrever um comentário pedindo a minha cabeça, vou tentar explicar o por que da afirmação.

Não mude de canal !

A Ficção Científica (vamos chamar de FC, que é bem mais chique e pressupõe que entendemos do assunto) pertence ao campo literário, apesar de não podermos imaginar Hollywood sem ela.

Por mais evidências de que ‘A Utopia’ de Tomas More incendiou as mentes dos navegadores do século 17, ou que os sumérios foram seus primeiros escritores, vamos convencionar aqui, que seu batismo ocorreu somente no início do século 20.

Revista Radio News, novembro de 1928

“A Ficção Científica é uma mistura de romance, ciência e profecia.” (Hugo Gernsback).

No início da década de 20, o editor e inventor frustrado, Hugo Gernsback, estava atrás de uma idéia para vender uma nova linha de revistas (até o final de sua vida, ele foi responsável por publicar quase 50 diferentes revistas).

Publicações baratas (“pulp magazines”) já tinham enorme penetração nos lares americanos, e o próprio Hugo publicava uma revista intitulada Modern Eletronics, sobre rádios e promovendo novas descobertas eletrônicas, ‘puxando a brasa’ para sua própria empresa, que importava componentes eletrônicos da Europa.

Famoso por seu espírito empreendedor, Hugo (que depois daria nome ao mais famoso prêmio de FC) vislumbrou a possibilidade de injetar nos jovens americanos uma nova droga, tão inspiradora quanto um sonho e tão viciante quanto açúcar. Esta revista se chamaria Amazing Stories,e nos quase nove anos de sua existência, foi responsável por popularizar a Ficção Científica naquele país, fomentando talentos e estabelecendo não só parâmetros, mas também criando seu primeiros ícones.

Para entender melhor o sucesso (nem tanto financeiro, mas como gênese de um movimento duradouro), precisamos lembrar que no período compreendido entre as décadas de 20 e 50, os Estados Unidos da América passava por um processo de crescimento acelerado que se apoiava no trinômio ‘futuro, ciência e consumo’.

O início do século 20 foi marcado por um crescimento tecnológico extraordinariamente rápido e avassalador.
A ciência passava a ser apontada como a nova salvação - eletricidade, aviões, rádio, cinema e a imprensa (responsável pela disseminação dos “Novos Tempos”).

Em cada lar americano, o rádio (invenção para as massas sedentas por diversão barata) despejava doses maciças de propaganda, vendendo o “Sonho americano” de um futuro Jetson, logo ali na esquina.

Ao mesmo tempo, em cada garagem, hobistas e adeptos do “faça-você-mesmo”, (por definição um sujeito comum com ambições maiores do que sua capacidade inventiva), trabalhavam dia e noite em uma idéia revolucionária que mudaria o mundo.

Porém, o fermento para esta receita de sucesso foi sem dúvida o medo.

O mundo lá fora era agora perigoso, e os inimigos do país espreitavam esperando uma oportunidade para transformar o sonho em pesadelo.ao longo do tempo, os inimigos recebiam novos nomes... "comunistas", "marcianos", "a bomba"!

Neste ambiente propício, era apenas uma questão de tempo para que a FC crescesse.

Quatro anos após o lançamento de Amazing Stories, não havia mais uma única revista dedicada ao fantástico, mas 18 delas, disputando o mesmo público e basicamente com os mesmos escritores (escondidos atrás de pseudônimos). Aquelas mais bem sucedidas, vendiam um milhão de exemplares por número e empregavam um exército de escritores.

Sem dúvida são números impressionantes, ainda mais para a época (sem esquecer da Grande Depressão de 1929), e fizeram mais do que fundar um gênero de sucesso até os dias atuais, mas eternizaram estereótipos que estão vivos dentro de nossas cabeças.

Por este motivo é tão difícil, ao vermos um robô ou um alienígena nojento, não imaginarmos que estamos diante de Ficção Científica, não é mesmo?

Mas e se eu lhe disser que não é bem assim, e que Ficção Científica não é exatamente isso?