Sergio Ricardo Soares, pernambucano, professor do curso de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, lançou o curta-metragem WILLIAM SHAKESPEARE´S MACBETH DO TOCANTINS semana passada no evento Cinema Off - Tocantins.
PF: Sérgio, o que você buscou ao fazer o curta? Como veio a idéia de ambientar uma história da antiga Escócia no Tocantins?
SÉRGIO RICARDO SOARES - A ideia veio da vontade de continuar realizando cinema em outras terras. No caso do Tocantins, tudo me é um pouco estranho, desabitual: hábitos, temperamento, sotaque, clima, paisagens, etc. Então eu quis trazer esse estranhamento pro cinema, claro, com resultados cômicos.
Aí foi só prosseguir no trabalho com o absurdo: primeiro, condensar Macbeth em menos de 15 minutos. Segundo, colocar elementos locais que nada tinham a ver com a peça original. Terceiro, manter alguns elementos da ambientação européia, medievais, para aumentar ainda mais o absurdo. Houve então um cuidado muito grande para fazer algo surrealista, algo sarcástico, mas que não levasse a uma visão agressiva sobre o lugar, que respeito (embora não me encaixe nele) procurei usar sobretudo algumas características da fala local que me soam muito engraçadas ou bizarras, atribuindo cada aspecto desse a um personagem diferente. Creio que no final tudo soou como uma homenagem bem humorada
PF: Como foi a escolha dos atores?
SRS: Como em quase todos os outros trabalhos, contei com a boa vontade e os esforços dos alunos do curso. Não houve financiamento algum. Então, tudo foi na base dos empréstimos e do improviso. Isso incluiu o elenco, que conta com apenas dois profissionais.
PF: Qual a importância do uso do Facebook durante as filmagens?
SRS: Usei para chamar o pessoal pras reuniões e ensaios, é mais fácil do que usar email. E, claro, como divulgação para os teasers do filme.
PF: Como você foi parar em Palmas? É uma cidade feita por migrantes? A ideia que eu tenho é das cidades amazônicas fundadas nos anos 70/80, cuja população veio de longe...
SRS: Prestei concurso para professor na Universidade Federal de Tocantins. Vivi a vida inteira em Recife - com um breve intevalo, durante a infância, quando minha família morou no Rio de Janeiro. Já são 3 anos em Palmas. E sim, na gênese da cidade tem isso. Porém, esse fato é aproveitado de forma distorcida pelo poder local, dando a impressão de que há uma diversidade e que a cidade é de todos e para todos. Na verdade, ela foi criada por uma elite goiana e, culturalmente, embora haja gente de todos os estados, a natureza goiana é quem acaba dominando. Está no sotaque, na culinária, na geografia e há ainda uma força imensa das culturas do Maranhão e do Pará, porém, em geral essas duas faces sejam tratadas com preconceito e remetam mais às classes menos privilegiadas. Em resumo: ricos são pós-goianos, pobres são pós-paraenses e principalmente, maranheneses. O resto dos estados, no máximo forma guetos, sobretudos os gaúchos. A maior evidência disso tudo: só há uma música aqui - pseudo-sertanejo.
PF: Quais seriam, então, as opções culturais de Palmas para quem não curte o modelo churrasco-pescaria-cerveja-música sertaneja? Existe contracultura em Palmas?
SRS: Fraquíssima. E o que contam aqui é que já houve mais. Já houve muito punk, muito gótico, shows de heavy metal, mas tudo isso vai perdendo terreno pras pecuárias (coisas tipo rodeio) e bares sertanejos. Até pouco mais de um ano atrás só havia um cinema, e que ainda por cima tirava férias. Hoje já tem Cinemark e Lumière, com péssimas programações. A referência cultural da cidade cada vez mais é o SESC, com bom teatro, bom cinema, concertos e exposições. Agora está acontecendo uma imensa feira literária, a FLIT (Festa Literária Internacional do Tocantins) e é a melhor opção cultural anual.
PF: Dentro deste contexto, a sua iniciativa com o curta é ainda mais significativa. Já tem planos para novos filmes? (William Shakespeare´s Macbeth do Tocantins é o quarto curta-metragem de Sérgio Ricardo Soares, que já dirigiu Pulga D´Água, Os Beijos Que Não Te Dei e Reduto, enquanto morava em Recife).
SRS: Sim, vários, mas batem no financiamento. Sem dinheiro, não pretendo fazer mais nada. É muito desgastante e com pouco reconhecimento. Há um grande projeto de documentário pra participar dos editais (desde que alguém faça o projeto por mim, pois tenho alergia aos formulários). Sobre os curtas anteriores, Pulga D´Água teve quatro prêmios no festival de cinema digital da FUNDAJ, creio que em 2004; Os Beijos Que Não Te Dei foi o melhor roteiro no FAM - Festival Audiovisual Mercosul em Florianópolis, em 2006 e Reduto não teve carreira, foi excluído de todos os festivais em Pernambuco.
PF: Qual a aceitação de William Shakespeare´s Macbeth do Tocantins?
SRS: MACBETH foi limado do maior festival daqui, o CHICO, que está ocorrendo essa semana. Foi considerado de baixa qualidade, o que falaria mal contra o cinema local.
PF: Você pretende inscrever o curta em mais algum festival?
SRS: Certamente. Mas ainda vou investigar o que há de mais recomendável.
PF: Por que você decidiu colocar o filme no youtube, uma vez q pretende divulgá-lo em festivais?
SRS: Vou mandar pra festivais, mas não conto com eles. Acho que pra um produto deste tipo a internet é o melhor meio de divulgação.
PF: Qual o seu conselho para quem se sente exilado culturalmente na cidade onde vive?
SRS: Nade contra a corrente para se sentir vivo culturalmente. Sempre haverá duas ou três pessoas que te ouvirão.
A ambição de uma mulher,
a fraqueza de espírito de um homem
e uma profecia maldita.
Essa combinação mancha de sangue
os pequis de um reinado marcado pela loucura.
Uma produção LaMélèque livremente inspirada
na obra "Macbeth", de William Shakespeare.
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