segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE NINGUÉM OWENS

Por Dade Amorim



Neil Gaiman. O livro do cemitério. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

Escrever histórias fantásticas não é para qualquer um. Mas é, com toda certeza, para um autor chamado Neil Gaiman, que parece ter nascido com esse destino. De textos como Coisas frágeis – o melhor que já li dele, em minha opinião – a histórias em quadrinhos como Sandman, verdadeira obra-prima no gênero, Gaiman agrada sempre aos aficionados desse tipo de narrativa.
No livro em questão, o do cemitério, ele vai além do trivial (quase sempre vai) para narrar a história de um menino que escapa, ainda bebê, da sanha de um assassino que extermina toda sua família, pai, mãe e uma irmã pequena, mas poupa o garoto, que é levado para o cemitério local. Daí se inicia o que podia ser um caso funéreo, pois o neném fica entregue aos mortos, tendo como pai e mãe um casal morto há centenas de anos, como guardião um morto sui-generis, Sila, que cuida dele onde estiver, depois que começa a andar e deslocar-se pelo terreno. Mais tarde Nin, como é chamada a criança, começará a explorar os arredores, sempre sob a proteção de Sila, até que complete quinze anos, são, salvo e bem alimentado, já que os habitantes das tumbas têm a preocupação de mantê-lo saudável.
Porém a história não acaba aí, porque os assassinos de sua família ainda o procuram para completar sua obra nefasta.
Impressionante de verdade nesta obra de Gaiman é o (sur)realismo com que se podem apreciar os atos e sentimentos dos mortos, a maioria dos quais protegem o menino com uma dedicação difícil de encontrar ente os vivos.
No início da leitura, achei que talvez não valesse a pena continuar. Afinal, fantasia tem limite, e a narrativa talvez não levasse a momentos muito empolgantes. Aos poucos, no entanto, fui me interessando mais e mais. Gaiman sabe o que faz, e não escreve só para garantir sua posição consolidada pelo mundo todo. Seu talento dá conta de casos à primeira  vista impossíveis de levar a bom termo.