sábado, 8 de setembro de 2012

LEVE-ME AO SEU LÍDER - UTOPIAS E DISTOPIAS

Carlos Frederico Abreu


Tão cativantes quanto o tema do primeiro contato com seres alienígenas são as utopias e distopias, um capítulo à parte na literatura de Ficção Científica (FC).

O estudioso de FC, Darko Suvin, definiu utopia como uma 'alternativa histórica desejável'.

A palavra utopia (bom-lugar) apareceu pela primeira vez em 1516, quando Thomas Moore a usou para descrever a descoberta do Novo Mundo, e estabeleceu o padrão para narrativas utópicas, se tornariam muito comuns no século 18, através de escritores como Daniel Defoe e Jonathan Swift.

No século 19, metrópoles como Londres, destinadas a servir como exemplo de modernidade, chafurdava no crime, prostituição, epidemias, sem falar da crescente poluição - as utopias então deram lugar às distopias, um termo que sugere o mau funcionamento de uma utopia.

A eclosão da Primeira Guerra Mundial, o fortalecimento dos regimes totalitários e o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, serviram para incendiar a mente dos escritores do século 20, e particularmente 5 livros foram muito felizes ao capturar a essência da literatura utópica/distópica.


'Admirável Mundo Novo' (1932) de Aldous Huxley

'Admirável Mundo Novo' teve sua origem em uma visita de Huxley aos EUA em 1926, da qual retornou convencido de que o futuro dos EUA seria o futuro do mundo.

O livro oferece uma visão global a partir da americanização, da racionalização dos métodos de produção em massa (Fordismo), onde a quantidade e a eficiência da produção eram de suma importância, e a manipulação genética (não se falava de clonagem ainda) seria peça importante para uma sociedade em que o destino era determinado antes mesmo de se nascer. Uma distopia satírica, onde a monogamia é repreensível e que cria dois mundos - o Estado Mundial racionalizado, e o mundo "primitivo" da Reserva - separados um do outro e, é claro, ambos desajustados.



'The Shape of Things to Come' (1933) de HG Wells

Estudo utópico mais elaborado de Wells, 'The Shape of Things to Come' apresenta uma tentativa de abranger todo o século 20 através da narrativa de convulsões sociais que culminam em outra guerra mundial, do colapso do nacionalismo europeu e do surgimento do Estado Mundial, assim como o rápido desenvolvimento de meios de comunicação e a melhoria do bem-estar físico da humanidade. Ao longo do caminho, Wells inclui piadas contra Aldous Huxley (segundo ele, "um dos mais brilhantes escritores reacionários).


 
'1984' (1949) de George Orwell

"Orwelliano". O adjetivo tornou-se padrão para descrever regimes totalitários. O livro evoca a austeridade do pós-guerra na Grã-Bretanha sob um regime brutal, que combina ecos nazistas (Semana do Ódio) com a Rússia de Stalin (o aparelho de inteligência do Estado e a adulteração da história).

'Fahrenheit 451' (1953) de Ray Bradbury

Já em 'Fahrenheit 451' de Bradbury, Montag, um bombeiro, é também um agente da ordem,  responsável por queimar livros, executando parte do plano maior de "limpeza cerebral". O personagem principal de '1984' (Winston Smith), assim como Montag, é um agente dentro do mecanismo estatal. Enquanto Bradbury descreve a televisão como entretenimento; Orwell concentra-se em sua utilização para o controle, já que câmeras escondidas estão por toda parte. Uma sociedade cujos membros estão o tempo todo um espiando e reportando o comportamento do outro, e mais perturbador do que isso, nunca se sabe quando estão sendo observados pelo Big Brother, a imagem extrapolada desta supervisão estatal eletrônica.

Diferente de Montag, que encontra maneiras de conduzir seu próprio destino, Smith, sombrio, se rende à inevitabilidade diante dos senhores que controlam os meios para moldar o pensamento e a percepção daquela sociedade.


'A Laranja Mecânica'  (1962) de Anthony Burgess.

Fortemente influenciada pelas questões públicas e sociais que nos anos 60 eram debatidas nas esferas governamentais britânicas, 'A Laranja Mecânica' aborda a delinquência juvenil e também incorpora na sua narrativa, experimentos sobre condicionamento comportamental, que estavam na época sendo realizados secretamente.
A linguagem criada por Burgess, combinando russo, americanismos e gíria britânica vulgar, é um atrativo extra ao protagonista Alex, o líder de uma gangue de rua, e que acaba por dividir a narrativa em três fases: a hiper violência recreativa que o levou à sua prisão, a terapia de reabilitação e por fim seu retorno à sociedade distópica futurista.

Mais recentemente nos anos 80 e 90, vimos diversas distopias chegando principalmente ao cinema, graças ao gênero cyberpunk. Mas esta é uma conversa para outro dia...


Do livro de David Seed ‘Science Fiction: A Very Short Introduction’