sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ELIZABETH BISHOP E SUA OBRA




Por Esther Lucio Bittencourt
fotos de Ana Laura Diniz


No momento em que é lançado o filme Flores Raras  , baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas , nada mais propício do que republicar uma série de matérias feitas após visita à casa da poeta Elizabeth Bishop em Ouro Preto. 


Elizabeth Bishop nasceu no ano de 1911, em Worcester, Massachusetts. Bem jovem perdeu o pai, que também morreu jovem. Sua mãe foi internada num asilo para doentes mentais e ela foi morar com os avós na Escócia. Formou-se no Colégio Vassar, em 1934.


Sestina

A chuva de setembro cai sobre a casa

Sob a luz mortiça, a grisalha avó

Senta-se na cozinha com a criança

Ao pé do fogão Pequena Maravilha,

Lendo as velhas piadas do almanaque,

Rindo e falando para esconder as lágrimas

Pensa que suas equinociais lágrimas

E a chuva sobre o telhado da casa

Foram preditas ambas pelo almanaque,

Coisas que pode conhecer só uma avó.

Apita a chaleira no fogão-maravilha

Ela corta o pão e diz à criança

.....................................................

Entre 1935 e 1937 ela viaja pela França, Espanha, Norte da África, Irlanda e Itália. Mora por quarto anos em Key West, Flórida. Lá, prepara seu primeiro livro, “North and South”, publicado em 1946.


Sua obra: 



POESIA


North and South (1946)

Poems: North and South—A Cold Spring (1955)

Poems (1956)
Questions of Travel (1965)
The Ballad of the Burglar of Babylon (1968)
The Complete Poems (1969)
Poem (1973)
Geography III (1977)
The Complete Poems 1927-1979 (1983)
Edgar Allan Poe & The Juke-Box: Uncollected Poems, Drafts, and Fragments (2006)

PROSA

Brazil (1962)
The Collected Prose (1984)
One Art: Letters (1993)

ANTOLOGIA

The Diary of Helena Morley (1977)


LEIA OS LIVROS


       ·         "The Art of Elizabeth Bishop", editado pela Universidade Federal de Minas Gerais, por Sandra Regina Goulart de Almeida, Gláucia Renate Gonçalves e Eliana Lourenço de Lima Reis;
       ·         "Uma Arte", as cartas da poeta;
       ·         "Esforços do Afeto";
       ·         "O Iceberg Imaginário";
    ·    "Poemas do Brasil", todos estes editados pela Companhia das Letras.


Morreu em Cambridge, Massachussetts, em 1979. Mas antes viveu 15 anos no Brasil. Entre um apartamento no Leme, uma casa em Teresópolis, a Samambaia e Ouro Preto, seu derradeiro amor. Sua casa foi comprada por Linda Nemer de sua herdeira Helen Methfessel.



SALA ELIZABETH BISHOP


A Sala Elizabeth Bishop, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB), é fruto de uma parceria da Biblioteca e a Embaixada dos Estados Unidos. Lá tem um rico acervo em língua inglesa, composto de obras de referência, ficção e não ficção norte-americana, de administração e negócios, livros infantis e juvenis, publicações governamentais e material atualizado para professores e alunos de inglês. São oferecidos programas culturais e de aconselhamento de estudos nos EUA, acesso supervisionado sobre o país, por meio de vídeos, CDs e CD-Roms e palestrantes em assuntos de interesse comuns a brasileiros e americanos.

Além disso, traduções em português de autores de literatura norte-americana estão disponíveis no acervo geral da BDB.

A homenageada, Elizabeth Bishop, foi responsável pela tradução para o inglês de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto. Trabalhou no Setor de Poesia da Biblioteca do Congresso (Library of Congress) e se consagrou com uma poética que se tornou obrigatória em qualquer antologia de poesia norte-americana.

Para a maioria dos críticos e seus admiradores, o legado principal de Elizabeth Bishop é exatamente sua obra poética de extremo bom gosto e refinamento, resultado de longo e preciso trabalho de lapidação das palavras. Embora morando em Petrópolis, foi agraciada, em 1956, com o Prêmio Pulitzer de poesia, um dos prêmios literários de maior prestigio nos Estados Unidos, por Poems: North & South - A Cold Spring, junção de poemas já editados com a produção de uma década de Brasil. Após sua morte, em 1979, mais e mais leitores vêm descobrindo seu texto enxuto e denso, de grande prazer de leitura.

A CASA, em Ouro Preto

Pisar o mesmo chão de tábuas corridas, hoje desgastadas pelo tempo, que Elizabeth cansou de palmilhar. Olhar as paredes da casa de pau-a-pique e sentir nelas ainda a vibração de alma da poeta que de tão delicada “pedia licença para respirar”, como nos conta Linda Nemer que com ela conviveu durante alguns anos.

“Perdi duas cidades, eram deliciosas. E, 
Pior, alguns reinos que tive, dois rios, um 
Continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.
- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
Amado), mentir não posso. É evidente:
A arte de perder muito não tarda a aprender,
Embora a perda - escreva tudo!- lembre desastre.
 (do mesmo poema: "Uma Arte")

A vida, é evidente, nos contamina com as perdas e Elizabeth sentiu isto desde jovem. Quando conseguiu alguma coisa de seu foi a poucos anos de sua morte. Mas assim como soube ganhar, soube perder, com garbo, sem mágoas ou, como diz seu poema, “disaster”.

[continua no próximo domingo]