Esta seção é sobre a memória de cada um. É o microcosmo resgatado para compor a colcha de retalhos que é a estória do brasil e do mundo,a nossa história. Senhora do Tempo e Vila..., que voltará em breve, sintetizam a multiplicidade do Primeira Fonte, que a partir do pessoal toca o universal, seguindo o exemplo de Marcel Proust, de "Em Busca do Tempo Perdido" e João Guimarães Rosa, das veredas do grande sertão. Ninguém melhor para iniciar os contares do que Vera Guimarães .
(ALD e ELB)
RUA DA BAHIA
Por Vera Guimarães
Rua da Bahia em confluência com a av. Afonso Pena, no início do século passado. |
Edifício Acaiaca |
Primeiro fiz cursinho no charmoso Champagnat, especializado na preparação para Direito e humanas em geral, que na época funcionava na Timbiras, entre João Pinheiro e Alagoas. Depois fui fazer Letras, na então UMG, primeiro nos altos do Edifício Acaiaca, depois nos altos da rua Carangola. Um tanto por proximidade e conveniência, outro tanto provavelmente por aquilo a que chamam destino, acabei morando em diversos endereços nas imediações da rua da Bahia, nunca a mais de dois quarteirões de sua rive gauche ou de sua rive droite.
Cine Metrópole - Vista do Centro de Belo Horizonte |
De início, morei com uma tia, na rua Goitacases, entre Espírito Santo e Bahia. Ali seria meu primeiro contato com a metrópole, aliás, o Cine Metrópole ficava a dois passos. A idéia era que eu ficasse provisoriamente nessa casa. Casa, não. Apartamento, um equipamento residencial inédito para mim. Até ali eu não conhecia elevador, porteiro, área de serviço, escada de incêndio. A tia, linda e elegante, amenizou o choque de minha chegada à Capital.
Detalhe do Acaiaca |
Morei, depois, ocupando vaga de uma menina que estava de férias, num pensionato de simpáticas freiras holandesas, alegres, trabalhadeiras, bem humoradas. De lá, lembro com especial carinho de um chá com biscoitos que elas serviam à noite, quando a conversa rolava solta, tranquila. Apesar da altíssima densidade demográfica nos quartos, e do evidente desconforto daí resultante, era um ambiente agradável e descontraído. Saí de lá com pesar.
Sobrado de estilo vagamente art decó |
De lá fui para o pensionato de uma uruguaia, na esquina de Bahia com Bias Fortes. A casa era um lindo palacete branco, com as varandas
Rua da Bahia, 1955 |
Daqui do planalto central, onde moro desde meados da década 1990, volto os olhos para a rua da Bahia, e a vejo como imenso rio, cujas margens percorri por mais de 35 anos a procura de mim mesma. Não sei se me achei, mas com certeza aquela rua da Bahia não encontro mais.