sábado, 10 de setembro de 2011

FREDZILA - HIROSHIMA

Carlos Frederico Abreu

“A rosa radioativa / Estúpida e inválida / A rosa com cirrose / A anti-rosa atômica / Sem cor sem perfume / Sem rosa sem nada.”

Esta canção (letra de Vinicius de Moraes e Gerson Conrad, gravada pelos ‘Secos e Molhados’ em 1973) me assombra desde sempre, igual à visão emblemática da famosa cúpula do Hall do comércio (Hiroshima Prefectural Commercial Exhibition Hall), única construção em concreto na época, num raio de 2 quilômetros da explosão.


Confesso que estar diante das ruínas, não me trouxe a esperada estupefação, somente um leve mal estar, ampliado pelo campeonato de jetski que ocorria no canal ao lado, o mesmo que naquela fatídica manhã de 6 de Agosto de 45, ficara apinhado de vítimas.


Vida que segue.


Meio anestesiado, visitei os monumentos oficiais do parque como a Chama da Paz, (que só será apagada no dia em que todas as armas nucleares do planeta forem banidas).


O parque não é tão grande quanto parece em fotos, mas seria o mais silencioso do planeta, se não fosse pelo ronco dos jetskis.


Aquele estranha e triste procissão de turistas cabisbaixos encontra seu ponto mais dramático na visitação do Museu da Paz, um complexo formado por dois prédios baixos, ligados por um corredor de vidro suspenso.


Não me lembrou de ‘Hiroshima mon amour’, o filme sobre o amor impossível, do diretor Alan Resnais, mais me pareceu uma expiação encenada da dor impossível de ser representada, apesar das evidências atrás de vitrines, das centenas de fotos doloridas de ver e da música triste de fundo.

Impossível abstrair com números, dados científicos e históricos, aquilo que parece que não acabou, pelo menos para os japoneses.

Tentei conversar um pouco sobre o ocorrido com a guia japonesa.
Não consegui chegar a uma conclusão, pois parece ser muito vergonhoso para todos eles, não somente a bomba, mas a situação que levou o Japão a guerra e todas as barbaridades cometidas pelos japoneses que não estão em um museu, mas na memória, no inconsciente coletivo.

"Ainda não dá pra entender" foi o que eu escrevi no livro de visitas, na saída.

Uma advertência para corações fracos é não passar para o segundo prédio... terminar a ‘visita’ no primeiro prédio, sair, descer a escada, dar uma volta pelo gramado, entre as árvores de Ginkgo Biloba (árvore nacional), esvaziar a cabeça...

Nada mais a comentar, talvez apenas a perplexidade.