domingo, 4 de setembro de 2011

MEU PAI, O POETA

Telinha Cavalcanti

Meu pai, Geraldo Cavalcanti, escrevia contos e poesias. Mas, como nunca publicou os contos, e estreou em uma coletânea de poesias, o apresento a vocês como poeta.

Meu pai foi jornalista, professor, promotor e escritor. De tempos em tempos se trancava no escritório (no gabinete, como ele chamava) e dizia que ninguém incomodasse. Ia escrever.

Seus contos são ambientados no começo do século passado, em Recife, Olinda e cidades do interior. Mas é de seus poemas, escritos quando eu tinha 15 para 16 anos, que eu vim falar aqui. Não vim fazer crítica literária de seus poemas sobre amor e morte. Vim dividir com vocês um pequeno tesouro, inestimável para mim :)


Silêncio
Geraldo Cavalcanti

A quem pertence a tua voz, a tua palavra,
Nestes últimos momentos para falares?
Indeciso? Tu, que desafiavas os fortes e os piores
E lutavas contra quem feria os pequeninos?

Diz-me, de quem é a tua voz, a tua palavra?
Vem e fala. Não tombarás mais,
Ergue-te e caminha. Eu estou aqui!
Não serão os teus últimos passos.

Calado, estás vencido, humilhado, morto.
Levanta-te, a tribuna te espera;
Libela, acusa, debate, convence.
Seca o teu pranto e fala, fala!

A quem pertence a tua voz, a tua palavra?
À Justiça? De Deus ou dos homens?
Fale, dize pelo menos que amas.

Silencias, foges? Querem te ouvir.
Se não denuncias morte e horror,
Fala da vida e do amor. Fala outra vez.