quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Será que é, mesmo, questão de tempo?

Por Ana Manssour




Imagino que a maioria de nós tem sentimentos que vão da culpa ao arrependimento, da raiva ao conformismo, por não termos tempo de estar com nossos filhos mais do que uma ou duas horas por dia, por não visitarmos nossos pais mais do que uma vez por mês, nem estarmos com nossos amigos pelo menos uma vez a cada dois ou três meses, por não podermos escutar de vez em quando aquelas músicas daqueles CDs que compramos, por não conseguir fazer uma caminhada no parque ou simplesmente dormir mais duas horas por noite.

Você já se deu conta que apesar de reclamar, raramente assume o fato de que gosta de trabalhar? Você gosta de se sentir ocupado, de desenvolver atividades normalmente rotineiras mas que fazem com que se sinta útil, produtivo, fazendo diferença no mundo? Tá certo que recebe um salário por isso (nem sempre justo) e que é ele que lhe dá condições de viver com dignidade e conforto para você mesmo e para a sua família. Mas não é só isso, nem só para ninguém lhe chamar de vagabundo. Você “gosta” de trabalhar. Admita! Até porque isso não é vergonha nenhuma, nem faz de você um ET. Afinal, já passamos da Idade da Pedra e hoje temos muito mais opções do que caçar ou colher frutas para sobreviver e manter a prole.

A questão é que temos que assumir, também as conseqüências de tudo isso. Não que não haja alternativas. Há. Podemos mudar de emprego, de cidade, de carreira, de maneira de trabalhar (eu já fiz tudo isso). Podemos mudar nossas prioridades e aprender a dizer “não” e “basta” (também já fiz, e continuo fazendo). O que eu acho é que não podemos ficar choramingando pelos cantos, nos queixando da vida, que não podemos isso, que não dá tempo para aquilo, que não temos dinheiro para aquilo outro.

Uma das razões é que se não tivermos metas, objetivos a serem atingidos, não teremos também motivação para seguir em frente; portanto, não podemos ter tudo o que queremos nas mãos. Outra razão é que estamos nesta vida justamente para aprender a tomar decisões. É o famoso “livre arbítrio” de que ouvimos falar desde a nossa infância. Essa capacidade de avaliar situações, colocá-las na balança e descartar ou modificar aquilo que não está bom, assumindo os riscos da mudança, é uma das nossas características, pois baseia-se na capacidade de raciocínio com a pitada emocional que nos faz humanos.

Talvez não estejamos falando há duas semanas, em falta de tempo. Talvez estejamos falando em comodismo, falta de análise e de tomada de decisão. Ou, até, de falta de paciência. Afinal, por falar em tempo, todos nós sabemos que o mundo não foi feito em sete dias. E que às vezes é preciso esperar o momento certo para colocar uma decisão em prática ou aguardar uma oportunidade (que pode vir disfarçada de tragédia) para ter o impulso de mudar.

Mudemos, então! Ou não. Afinal, a escolha é sua.