sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"O SEGREDO DE LUÍSA", DE FERNANDO DOLABELA, FORNECE INSIGTHS SOBRE EMPREENDEDORISMO

Por Ana Laura Diniz




QUAL A SUA INTERPRETAÇÃO
SOBRE EMPREENDEDORISMO E A
IMPORTÂNCIA DESSE CONHECIMENTO
PARA A SOCIEDADE?


Ouviu a palavra empreendedorismo e pensou em ação imediata? Ótimo. Mas se ao contrário, o termo remeter a você apenas a ideia de negócio, conversa de empresário, vale o alerta: mais do que reciclar os seus pensamentos, é momento de reavaliar o seu comportamento diante da vida.

O dicionário Houaiss define a palavra da seguinte maneira: 1 disposição ou capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços, negócios; 2 iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já existentes, ger. com alterações que envolvem inovação e riscos; 3 Derivação: por metonímia. conjunto de conhecimentos relacionados a essa forma de agir. Mas segundo o professor e escritor Fernando Dolabela, autor de O segredo de Luísa, “o empreendedor é definido pela forma de ser, e não pela maneira de fazer. A meta é que todos se preparem para empreender na vida”. Mas como?!

Antes de se desesperar, respire calmamente. E pense: a sua vida está hoje da forma como a imaginou? Se sim, sinta-se satisfeito e com sorte, pois essa sensação de bem-estar é cada vez mais rara nos dias de hoje. Se não, pense, em que momento da vida (ou por qual motivo) você abandonou os seus sonhos? E aí, quase que inevitavelmente, perceberá: empreendedorismo é, na verdade, a capacidade que todos têm de transformar sonhos em realidade. Portanto, independe se você é dono do seu próprio negócio, se decide vender goiabada cascão – a exemplo da personagem Luísa, criada por Dolabela –, ou funcionário de firma qualquer. Se é um executivo ou uma pessoa que se dedique apenas ao lar. A pergunta que vale é outra: você é bom naquilo que se propõe a fazer? Mais. Você se sente realizado com o que faz? Você agrega valor à sociedade – de maneira positiva, claro! – com aquilo que executa? Ou age apenas sob a tutela de interesse próprio, de forma egoísta na obtenção de lucro exacerbado?

“O fundamento do empreendedorismo é a cidadania. (...) Visa a construção do bem-estar coletivo, do espírito comunitário, da cooperação. (...) Só pode ser chamado de empreendedor aquele que gera valor positivo para a coletividade, incluída aqui, evidentemente, toda a natureza. (...) O empreendedor é o responsável pelo crescimento econômico e pelo desenvolvimento social. Por meio da inovação, dinamiza a economia. (...) O empreendedor é um insatisfeito que transforma seu inconformismo em descobertas e propostas positivas para si mesmo e para os outros. É alguém que prefere seguir caminhos não percorridos, que define a partir do indefinido, acredita que seus atos podem gerar consequências”, afirma Dolabela. 

Concordo com o autor. Há quase dez anos, publicamos uma reportagem que sustentava o seguinte slogan: “para presidente do Brasil, vote em uma dona de casa”. É desnecessário dizer que a matéria teve grande repercussão. As pessoas ficaram muito assustadas com essa possibilidade de governabilidade, mas a ideia era até bem básica: se uma dona de casa administra com cuidado, capricho e dedica atenção a todos os “departamentos” de um lar, cuidando inclusive do seu orçamento mensal, ela seria capaz de repetir esses feitos cuidando bem do país. E aí, fazendo paralelos com os diversos matizes da administração de uma casa/lar com os ministérios então necessários para gerir a nação, era possível definir metas, traçar planos a curto, médio e longo prazos: como uma despensa é igualmente pensada ao ser abastecida – e o mais importante, varrer e jogar fora o que é lixo, o que não presta, o que impede a casa/sociedade de prosperar.

Em suma, não importa o que se queira ser na vida, mas a forma como faz para ser o que se deseja é que fará a diferença entre um ser comum e um ser que aprende e empreende. “Sabe-se que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, é fruto de hábitos, práticas e valores das pessoas. Existem famílias mais empreendedoras que as outras”, esclarece Dolabela.

Certamente. Se todos entendêssemos a vida como uma empresa, poderíamos, e seríamos, empreendedores de nossos sonhos. Afinal de contas, o futuro é algo pelo qual vale investir. Mas quem é que ainda se importa com sonhos?

Você sonha? Você é aquilo que sonhou? O que você é? O que você tem?

Entre o ter e o ser, nos idos da década de 50, ganhando maturidade na de 60, alguns jovens cineastas brasileiros subverteram a maneira de fazer os filmes sob o mote de “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Com a falência das grandes companhias cinematográficas, a ideia nasceu para promover uma arte mais realista, com mais conteúdo e, obrigatoriamente, com menor custo. Tudo valia para romper a inércia, com o costume da época. Diretores ousaram então com novos ângulos, jogos de câmera inusitados, novas formas de se contar um enredo, e fizeram história dentro da História. O velho Cinema ficou Novo.

“Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Lei de Lavoisier, que o ex-presidente Juscelino Kubitschek tanto enalteceu. E por que? Nada vem do nada. Ou seja, é preciso ter olhos para “ver” e “enxergar”.

Uma ideia, uma paixão e um plano de negócios: é assim que nasce o empreendedor e se cria uma empresa?

Tudo é muito complexo. Ao menos, aparentemente. Mas as pessoas que realizam, que fazem as coisas acontecer, que não se acomodam, nem se intimidam com as dificuldades, transformam ideias em negócios, e transformam a própria vida e a vida de outras pessoas. E de que maneira? Instituindo planejamentos. É nesse momento que empreender vira sinônimo de realizar.

Atualmente, o agronegócio, o interesse em poluir menos o planeta, a busca do menor gasto com energia elétrica e o maior aproveitamento da água, seja pluvial, fluvial ou de nascente, tem feito pessoas idealistas se reunirem em torno de ideias práticas, baratas e viáveis. Há na zona rural, caso de pessoas que com sacos de areia, estrategicamente colocados, diminuíram o volume da água trazido pelas chuvas, que erodiam o solo, e, após passarem, deixavam o solo ressecado e sem nutrientes que propiciassem o crescimento de qualquer vegetação. Além de evitar a erosão, estas pessoas construíram pequenos açudes, lagoas, que mantiveram a umidade do entorno até que, enfim, criaram pequenos rios que resistiam à seca do inverno. Esta ideia foi compartilhada e, juntamente com a energia eólica e o aproveitamento do calor do sol, muitos pequenos proprietários melhoraram sua produção e, consequentemente, a qualidade de vida.

Casos de jovens que começaram o próprio negócio e conseguiram crescer profissionalmente já não são tão raros. A pouca idade e a falta de experiência são muitas vezes compensadas com inovação e ousadia. E quando as pessoas esbarram em assuntos de caráter administrativo – o desafio mais comum –, é preciso estudar e escolher entre os vários cursos que o mercado oferece para aprimoramento. Em suma, quem deseja abrir o próprio negócio precisa buscar informações sobre a área escolhida, fazer pesquisas de mercado e preparar um plano de negócios. Mais ainda. É preciso cultivar uma curiosidade positiva: aquela que faz desbravar caminhos para criar.

E qual a função do seu plano de negócio para a sua jornada empreendedora? Integrar todas as áreas do empreendimento, seja ele qual for, para que se obtenha sucesso organizacional. Esse planejamento, vale a ressalva, deve ser flexível o suficiente para incluir novas realidades, novos modelos, novos serviços, para que não se corra o risco de tornar obsoleto.

Vale a equação: Planejamento = definição + análise escrita das principais variáveis do negócio. Ou seja, na elaboração de um plano de negócio, é imprescindível que o empreendedor, não apenas para a busca de recursos mas para a execução do projeto, investigue, sistematize suas ideias para planejar de forma eficiente, antes de investir em um mercado sempre competitivo.

E por quê? É natural que ocorra mudanças extremas no projeto ou até mesmo o abandono da ideia inicial, quando se começa a pesquisar e checar as suposições iniciais para a montagem do plano de negócio. E é justamente aí que reside o verdadeiro valor de qualquer planejamento:  é muito mais fácil alterar um negócio que existe somente no papel do que quando ele já está estruturado, já é algo concreto, embasado entre tantas variáveis, incluindo a “aura” da credibilidade.

Luísa, na obra de Dolabela, resolve fazer uma guinada em sua vida quando percebe que executa o sonho do seu pai, não o dela. Que está noiva, mas quando pensa em casamento, não é necessariamente a imagem do noivo que vê. Sabe que tem algo errado em sua vida e toma coragem para ser feliz. A força vem do desejo, do sonho de fazer algo que verdadeiramente a realize.

Sim, de todos os planos de negócios, o maior é ser feliz. E para tanto, é preciso sonhar para depois realizar. Porque empreender é inovar em todos os aspectos. É este um fator indispensável na sociedade, principalmente nos dias atuais em que a concorrência é altamente elevada e os casos de desemprego e desigualdade são evidentes.

A vida de cada um é importante para a própria sociedade, levando em conta que cada um ocupa um papel nela. E este papel, quando aprimorado pelo empreendedorismo, torna a pessoa e, por conseguinte, a sociedade, mais avançada.

Portanto, é mesmo natural pensar que a arte de empreender deveria ser trabalhada nas escolas, e assim, melhor difundida na sociedade – visto que é algo que faz bem, e que a sociedade em si não deixa de ser uma empresa, na qual todos somos funcionários e responsáveis pelo seu futuro.

Sem as noções de planos de negócios, de empreendedorismo, do sonho se vai rapidamente a um pesadelo, e as chances de viver como vítima da desigualdade social, má distribuição de renda se ascendem. É preciso partir para a ação. É preciso preparar os indivíduos para o mundo e decrescer o índice de miséria a que estamos cada vez mais expostos, subjugados, jogados – muitas vezes – à própria sorte. Sem sorte.