Gilvania Ferreira
Não conheço nenhum cartão postal tendo como pano de fundo o Rio de Janeiro que seja com o dia nublado. Coincidência? Claro que não. O Rio simplesmente não combina com dias cinzentos e muito menos com frio e chuva. Mas, às vezes, surpresas acontecem e a gente precisa rever certas verdades.
Vejam o que aconteceu comigo na mais recente viagem à Cidade Maravilhosa, por exemplo. Estava 14 graus, nada mais que 14 graus, quando cheguei em Copacabana no final da tarde daquele domingo de Meia Maratona. Os atletas podem até ter gostado da temperatura, mas eu não.
Vejam o que aconteceu comigo na mais recente viagem à Cidade Maravilhosa, por exemplo. Estava 14 graus, nada mais que 14 graus, quando cheguei em Copacabana no final da tarde daquele domingo de Meia Maratona. Os atletas podem até ter gostado da temperatura, mas eu não.
Onde já se viu a gente ir pro Rio a trabalho, com quase nada de tempo livre pra aproveitar, e ainda por cima você se ver abandonada pelo sol, pela lua e pelas estrelas? Nada contra a ação de São Pedro, mas não podia ser noutra hora não? Por via das dúvidas, cá pra nós, averiguarei se não foi obra de algum mau olhado contra essa que vos escreve (é, às vezes eu acho que o mundo gira em torno do meu umbigo).
De toda forma, se tem uma coisa que não gosto de fazer é ficar presa no hotel. Com frio e tudo o mais me mandei pra rua. Por causa da chuva, não foi possível realizar nenhum programa a céu aberto. Então, fui bater perna em shopping (sozinha num domingo à noite e com esse clima, não tinha muitas outras opções, convenhamos). Serviu pra não ir dormir cedo e só.
No dia seguinte, o tempo não melhorou muito e, ainda por cima, a chuva aumentou. Frustração total!
Depois de um dia longo de reunião, cheguei no hotel por volta das 18h, triste porque já na outra manhã voltaria pra casa sem ter feito nada no Rio. Felizmente, um amigo me resgatou e fomos jantar no Leblon (adoro conhecer os restaurantes do Rio, mas isso é assunto para outra coluna).
Meu astral tinha até melhorado, no entanto – já na saída – escorreguei no chão molhado e me estabaquei na calçada. Parecia que aquela viagem queria se notabilizar mesmo por testar meu bom humor.
Parecia.
Pois o título dessa coluna ajudou a tornar a viagem mais uma inesquecível ida ao Rio.
Quando acordei, corri para a janela e dei um pulo de felicidade quando vi o sol se insinuando logo acima do oceano. Não tive dúvidas. Fui andar no calçadão.
Eram 7h05 da manhã quando cheguei em um dos meus recantos favoritos, ali ao pé do Morro do Leme. Tinha que ver de lá o mar ressacado, com as ondas altas quebrando contra as pedras. O caminho dos pescadores estava fechado por questões de segurança e a bem da verdade só tinha eu e outra pessoa lá olhando o mar. Eu deveria estar no aeroporto dali a pouco mais de duas horas ainda queria aproveitar o café da manhã do hotel. Portanto, não ia me demorar muito. Mas qual não foi minha surpresa quando o rapaz que ainda estava ali se ergueu, desceu para as pedras e logo depois começou a gesticular pedindo ajuda?
Me levantei às pressas, mas não tão rápido quando um gari que apareceu quase que por encanto.
Mais assustado que nós, bem ali diante dos nossos olhos, estava um pingüim.
Sim, um pingüim.
O rapaz contou que o viu se debatendo contra as pedras, tentando manter a cabeça erguida. Disse que só percebeu que era um pingüim quando se aproximou para auxiliá-lo e que o animal o bicava bastante. Foi por isso que ele pediu ajuda.
Já tinha visto um pingüim antes, nadando em Santa Catarina, mas não tão assim tão perto. E ainda mais em uma praia conhecida por seus dias ensolarados.
O coitadinho estava machucado na barriga e o gari o pegou. Correndo, mas com o máximo cuidado possível, saiu à procura de bombeiros que pudessem ou soubessem como realmente ajudar o animal.
Algumas crianças se aproximaram para ouvir a história do rápido salvamento que o rapaz contava enquanto acompanhava com o olhar o gari se distanciando com o pingüim. Não falava como um herói, mas como uma criatura preocupada com outra. De verdade.
Ainda fiquei por ali algum tempo pra ver se chegavam notícias. Nada.
Acabei indo embora totalmente grata por ter presenciado algo tão bonito, feito por pessoas desconhecidas, mas com algo por vezes tão raro no nosso dia a dia: o senso de humanidade.
Procurei, mas não consegui descobrir mais nada sobre aquele pingüim. Espero que tenha ficado bem. Papai do Céu com certeza deve ter ficado orgulhoso de dois de seus filhos.
E eu fico aqui me perguntando: quem foi mesmo que disse que o frio não combina com o Rio de Janeiro?