Laura Restrepo. Heróis demais. Trad. Ernani Ssó. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
O nome de Laura Restrepo para mim é uma evocação do romance Delírio, primeira obra que conheci da autora e que me impressionou pela fluidez do texto, pela intensidade dos sentimentos, versatilidade e certo calor humano que a torna irresistível, desses livros que a gente não consegue largar até o final.
Durante a Flip deste ano, Laura e Héctor Abda formaram uma dupla irresistivemente simpática e deram aos espectadores a oportunidade de presenciar e quase participar da conversa deliciosa entre dois amigos de grandes afinidades. A comunicação parece ser o forte dos dois autores, e sua amizade era tão evidente que chegava a contagiar a plateia.
Aproveitei o aniversário para pedir alguns livros aos filhos, que já conhecem meu ponto fraco, e entre outros ganhei Heróis demais, um dos alvos do debate entre ela e Abda.
Laura, que é colombiana, tem sido militante política desde alguns anos. O romance fala desse assunto, enquanto narra a história encantadora do amor entre dois ativistas, uma jornalista e escritora colombiana e um argentino trotskista, que lutam contra o autoritarismo. O que me atrai mais nos textos da Restrepo é um misto de realismo e ingenuidade, dessa vez envolvendo um filho adolescente dos protagonistas, ora separados, entre os quais, ao menos de parte dela, ainda existe um sentimento bastante forte.
A interferência da atividade política no relacionamento de Lorenza e Ramón fica bem caracterizada desde o início, e a narrativa segue esse percurso enquanto ela trata de esclarecer alguns pontos que permanecem obscuros para Mateo, o filho, que deseja intensamente reencontrar o pai, do qual se viu separado ainda criança, doze anos atrás. Mateo não foi mordido pelo micróbio da política, mas tem uma questão familiar pendente, e sua mãe o conduz pelos meandros de Buenos Aires, levando-o a conhecer os lugares onde ela e seu pai viveram, correram riscos e acabaram por se separar, quando lhes chega uma mensagem convencionada como aviso para que fujam antes de serem presos. Os sentimentos do jovem Mateo oscilam entre os extremos do ressentimento e da esperança de reencontrar seu pai, enquanto ele descobre fatos e situações que a própria Loenza ignorava.
Para mim – mas isso é estritamente pessoal, e bem pode ser que outros leitores não partilhem dessa opinião – Delírio foi mais envolvente como leitura. O que não quer dizer que Heróis demais seja desinteressante, longe disso. Laura Restrepo é uma autora capaz de prender o leitor até atingir o ponto final de seu texto, e essa qualidade não é assim tão comum entre os escritores que conhecemos.