quinta-feira, 5 de maio de 2011

200 CUPCAKES E TRA-LÁ-LÁ

Por Stella Cavalcanti




Olhando assim, 200 cupcakes nem são tanta coisa, né? Vamos comparar com o casamento do príncipe. Ou, sei lá, com o número de brigadeiros numa festa cara de criança. Naaah, você vai me dizer. 200 cupcakes nem são tanta coisa.

E em verdade eu vos digo: são. Vai tentar fazer 200 cupcakes para ver que a jiripoca vai piar.

Começando do começo: eu nunca aceitei uma encomenda tão grande. O máximo que fiz foram cem, e já fiquei muito cansada. E explicava pros clientes que 200 não dava, que eu trabalho sozinha, e que, assim que eu terminasse o último, o primeiro já teria um dia de feito. E todo mundo aceitava meu argumento, até que alguém não aceitou.
E esse alguém insistiu, argumentou e falou tanto que eu pensei "bom, vamos encarar o desafio" e aceitei a encomenda: 200 cupcakes com tema de halloween: 50 múmias, 50 abóboras, 50 morcegos e 50 fantasmas.

Precisei traçar um plano de ataque, né; porque 200 cupcakes não são bolinho (eita, trocadilho boboca): Dia 1: acordar 6 da manhã. assar todos e congelar Fui dormir perto de meia noite.. Dia 2: Acordar 6 da manhã. descongelar aos poucos, rechear e confeitar Fui dormir prá lá de uma da manhã, terminando as múmias. Dia 3: Acordar 6 da manhã. Fotografar, embalar e enviar - esqueci de dizer que os 200 seguem pelo nosso brioso Correio neste exato momento a caminho do Mato Grosso? Pois seguem. Devem chegar lá amanhã. A festa é no sábado. E isso indo de Sedex, viu. 3 dias úteis para entregar, e eu com o coração na mão daqui, a cliente com o coração na mão de lá.

Eu escolhi fazer e congelar de um dia pro outro para diminuir a possibilidade deles ficarem velhos. Eu sei que minha receita é boa, mas é caseira e não leva conservantes; e mesmo assim, meus cupcakes duram uma semana. Mas se eu não congelasse, voltando ao começo da história, a primeira fornada teria dois dias quando eu enviasse a encomenda. Congelando, a história mudou de figura.

Não tirei a foto dos duzentos prontos e embalados em cima da mesa. Era uma visão, aquele monte de caixinha junta, cheia de sabor e trabalho e noites sem dormir, feitos para deixar um monte de criança feliz, fotos bonitas no álbum e uma história para ser contada na família, da vez que a mãe encomendou bolo láaaa do Rio de Janeiro. E isso me faz sorrir agora, escrevendo este texto.

Mas vamos falar do começo da história, né? É.

Como eu vim parar aqui? Ainda não sei direito. Tem esse bolo, que eu faço desde sempre. E essa receita sempre deu certo, sempre fez sucesso com os amigos. Um dia, Amado Marido sugeriu que eu fizesse um curso de confeitagem. Como uma amiga estava fazendo um lá em Ipanema, perguntei se era legal, ela deu umas dicas, eu fui lá e fiz a inscrição.

E adorei. Adorei cada momento, cada saco de glacê, cada bico perlê, ou pitanga, ou folha, ou pétala. Eu achei o máximo. E fiz os primeiros bolos decorados e percebi que não, bolo grande não é minha praia. Eu gosto é de fazer cupcake.

Uma aula de confeitagem do terceiro módulo do curso Wilton

Então eu fiz os três módulos do curso de confeitagem Wilton e gastei a maior grana, porque o investimento inicial é caro: é material que não acaba mais e muita coisa é importada.

Olha, mamãe, meu primeiro bolo confeitado

Depois, comecei a fazer cursos de uma manhã, uma tarde. Tive aula com muita gente boa - e com gente enrolona também, que o mundo é assim mesmo. Já vi receitas deliciosas, truques que salvaram minha vida uma dúzia de vezes e também passei por momentos onde pensava "mas o que eu tou fazendo aqui, papai do céu?" ao ver gente dizer "faz bolo de caixinha, ninguém percebe a diferença". Desculpaí, mas se ninguém percebe, eu percebo, E meus cupcakes são receita de família, feitos do jeitinho que mamãe ensinou.

Quanto tempo já se passou desde que eu avisei prás amigas que eu tava fazendo bolinho? Uns quatro anos, por aí. E foi pela generosidade das amigas - Naty, minha primeira cliente, que acreditou em meu projeto quando eu nem sabia direito o que estava fazendo - que eu estou aqui. Já dei uma aula de cupcakes natalinos no LuluzinhaCamp do Rio, já saí no jornal Extra, apareci algumas vezes em um blog americano especializado em cupcakes - o Cupcakes Take The Cake http://cupcakestakethecake.blogspot.com/ - tenho a coluna no site Oba! Gastronomia http://www.obagastronomia.com.br/category/colunistas/bolinhos-da-telinha/ - e recebo encomendas de todo o país de gente que viu meu blog e gostou.

Dando aula no jornal, uia que orgulho

Já fiz cupcakes lindos, modéstia à parte, e já fiz esquisitos também. Uma pesquisadora da Fiocruz encomendou cupcakes com o desenho da leischmanias, o protozoário causador da leishmaniose, objeto de seu trabalho. E tem os engraçados, como o casal de sapos se casando, encomenda de uma moça pro amigo que tem o apelido de Sapão :)

 a leischmania, um protozoário jeitosinho

"Oi, eu queria encomendar cupcakes com um casal de sapos se casando."

Não sei onde este caminho vai dar. Sei que eu gosto muito mesmo de fazer cupcake. Sei que agora eu acredito que fazer as coisas com amor faz diferença. Tenho um armário cheio de cortadores, forminhas, material de confeitagem e tem hora que eu abro as suas portas e fico namorando minhas coisinhas.



Se eu ganhasse na sena, eu continuaria fazendo bolinhos. Ia comprar a batedeira dos meus sonhos, a Kitchen Aid vermelha, um monte de coisa importada, uns cursos chiques. Mas ia continuar fazendo bolinho porque, basicamente, fazer bolinhos me faz feliz.


blog dos bolinhos