quarta-feira, 18 de maio de 2011

PINDORAMA 10° 0' 0" S / 55° 0' 0" W.

Por Telinha Cavalcanti





Feira de São Cristóvão, Rio de Janeiro







Fui poucas vezes à Feira de São Cristóvão, também conhecida como Feira dos Paraíbas. E fui com aquele espírito de "vou encontrar um pedacinho da minha terra", o mesmo espírito que levou os imigrantes italianos a formarem a comunidade Little Italy, em Nova Iorque, os japoneses a fazerem os festivais na Liberdade, em São Paulo e tantos outros povos em tantos outros lugares tentarem resgatar um pouco de quem são em terra estranha.

E foi assim mesmo que eu me senti: estranha. Porque era e não era. Luiz Gonzaga estava lá, embaixador de todos os que saíram de casa e vieram pro sul-maravilha. Todos que deixaram seu chão, seu pai, sua mãe, os códigos de vida e honra e pararam num lugar caótico, barulhento, cheio de gente com costumes e comidas diferentes. Era, sim, um posto-avançado do Nordeste. Mas também não era.





As comidas estavam lá - mas muitas, também, não estavam. Sim, tem o acarajé frito na hora pela baiana de turbante; há queijos, cachaças, farinhas, bolachas sete-capas. Mas é diferente.

O forró toca quase initerruptamente. Mas é, como Chico César tão brilhantemente definiu, é o forró de plástico. São bandas que saem prontas das gravadoras em ritmo de linha de montagem. É o pré-fabricado da música, sem raiz, sem chão, sem asas, músicas que levam do nada ao lugar nenhum.

Sim, há o artesanato. Mas é possível chamar artesanato o que não tem mais criatividade? Os bonequinhos de barro, daqui a pouco, vêm com um carimbo "made in china". Achar o verdadeiro artesanato é procurar ouro onde ouro não há.

A feira é feita pros outros. Pros que acham que sabem o que é o Nordeste. Ao lado da renda que veio de longe, há camisas de futebol: Flamengo, seleção brasileira, Real Madrid, Barcelona.

Eu pasmo e penso: o que eu busco, ainda existe? O forró pé-de-serra, a boneca de pano, as minhas histórias. E eu penso que esta procura é pelo fruto da memória - nós podemos comer a mesma fruta, comprada - mas os frutos mais saborosos ainda são aqueles que colhemos nós mesmos.