Por Dade Amorim
Marcos Santarrita. A solidão do cavaleiro no horizonte. Rio de Janeiro: F. Alves, 1978.
Esse é um livro que fala de solidão. Não se iludem os leitores que percebem esse tema entremeado na prosa fluente e literariamente muito boa de Santarrita.
À primeira vista, o livro desenvolve um tema político – a época da ditadura militar no Brasil – e modela personagens bastante reais, embora se trate de um romance, portanto uma criação ficcional. Mais que modelar, Santarrita desenvolve uma interação em diálogos e acontecimentos que vão envolvendo o leitor e prendem a atenção de tal forma que não dá vontade de parar de ler ou pular alguns trechos, como acontece com alguns livros.
Não terminei a leitura, estou no meio de A solidão. Mas tenho o hábito de avançar aleatoriamente antes de alcançar o final. Gosto de avaliar a qualidade e a homogeneidade do texto, ter uma ideia de como se desenvolve e do rumo traçado para o final da história. Com isso, pude avaliar melhor a evolução do romance. Comprovei a coerência e a tarimba desse ex-jornalista que nos deixou uma coleção de obras de ficção.
Nunca havia lido Marcos Santarrita, que conhecia somente de nome. Convenhamos, ele não é um autor da moda, e anda muito mais esquecido do que lembrado.
Agora porém pretendo ler outros livros seus, assim como pesquisar um pouco mais sobre ele, me informar de dados que não encontrei na Wikipédia.
Mas quero registrar neste comentário um fato que me abalou um tanto e que não creio que vá esquecer tão cedo. No dia 5 deste mês, pesquisando a vida de Marcos na enciclopédia da rede, primeiro item encontrado no Google, me inteirei de sua data de nascimento, 16 de abril de 1941, e sua terra natal, Aracaju; soube que aos três anos foi levado para a Bahia e que agora, já há alguns anos, vivia no Rio de Janeiro. Dei uma olhada na lista de seus livros e, quando me dispunha a passar para outra página mais rica em detalhes, uma notinha de rodapé me chamou a atenção. Vinha em letras azuis, e dizia apenas o seguinte: Marcos Santarrita morreu no Rio de Janeiro no dia 5 de outubro de 2011.
Reli a nota, achando que tinha me enganado, mas era isso mesmo. Eu tinha resolvido pesquisar a vida do autor daquele livro, que estava me interessando tanto, exatamente no dia de sua morte. Parei um pouco para pensar no caso, e tive um impulso momentâneo de assistir aos funerais no dia seguinte. Acontece que o dia seguinte estava todo programado, não haveria tempo para chegar ao cemitério. Então tive outra sensação muito estranha: de repente, achei que tinha perdido um grande amigo – embora, na verdade, nunca o tivesse visto e nem ao menos conhecesse mais que um fragmento de sua obra.
De tudo isso, mais uma vez ficou patente o papel da morte em nossa vida. E a morte, assim como a solidão, está presente em A solidão do cavaleiro no horizonte desde o começo. Não que todo mundo saia morrendo pela história. Há mortes, é claro, mas a indesejada se mistura ao texto sob uma forma que só escritores muito sensíveis são capazes de abordar: a vulnerabilidade das pessoas, o predomínio de alguns fatos capazes de arrasar alguém, os medos que nos acompanham de dentro, e dos quais é bem difícil se livrar.