quinta-feira, 6 de outubro de 2011

UM CASAMENTO NO CRISTO REDENTOR

Telinha Cavalcanti


Bom, ontem vocês leram aqui a história do casamento da Gilvania com o Expedito. Pois eu também estava lá (era a madrinha do noivo) e tenho mais coisas para contar... Porque aquele não foi um casamento normal, foi uma prova de obstáculos, um teste para cardíaco, um vídeo-game cheio de fases difíceis para passar.

Na quarta feira, dois dias antes da ceriônia, o padre não quis casar os noivos. Disse que faltava um documento. A pobre da noiva quase enfarta. Eu e Expedito planejamos um padrecídio. Mas, aos 47 do segundo tempo, tudo se resolveu com um documento novo da igreja dos noivos e uma conversa com o padre de lá. E então o padre disse que casava.

Mas este casamento foi cheio de EMOÇÃO, torcida brasileira, e a coisa não parou por aí. Como a Gilvania contou, a companhia aérea impediu a viagem dos seus sobrinhos - que seriam dama e pajem do casamento. Acabou que, à tarde, as crianças, acompanhadas da mãe, conseguiram encaixe em outro vôo. Em cadeiras separadas, diga-se. Uma criança de 8, outra de 2, voando em cadeiras separadas da mãe. Pois é.

A véspera do casamento foi um dia nublado, mormacento. Eu dormi altas horas da madrugada terminando de confeitar 50 cupcakes com rosas vermelhas. E acordei cedo para colocar os cupcakes nos saquinhos de tule e dar 50 lacinhos com 50 cartõezinhos de agradecimento de presença.

Tudo pronto, tomei bambanho, troquei de roupa e foi para a Urca, levar os bolinhos para o Zozo Bistrot, que fica do lado da estação do bondinho do Pão de Açúcar. De lá, segui pro cabeleireiro, para a sessão deusa do dia. Cabelo, maquiagem, mão e pé. Meu cabeleireiro é italiano me chamou de madonna de Boticcelli. Eu me acabei :)

Me troquei no salão, saí de lá nos trinques e fui encontrar com Gil. Ela ainda estava vestida de gente, Expedito tinha acabado de tomar banho. A mãe da noiva chegou agoniada pq esqueceram de levar a toalha de mesa (de festa) para o Zozô. E Telinha seguiu para o Zozô pela segunda vez no dia. Não percam a conta.

Então, com o noivo já pronto, fomos pegar a van. Entramos na van, seguimos para o casamento, no Cristo Redentor que... sumiu. Não aparecia o Cristo: só tinha uma nuvem estacionada lá em cima. Ancorada, por assim dizer. E então, sexta-feira de tarde, pegamos um engarrafamento monstro.

Gente, de Copacabana - na Santa Clara, quase esquina com a av. Atlântica - para o Cristo foi UMA HORA E MEIA de trânsito. O noivo só não surtou pq o padre tb tava preso no engarrafamento - em outro carro, claro.

Chegamos no Cristo, subimos de bondinho imediatamente. O planejado pelos noivos era todo mundo subir junto e fazer a maior farra, mas o padre (que já tinha chegado) mandou o povo subir, então subimos.

Subimos com uma linda vista de... NADA. Nuvem. Mata encoberta por fog. Parecia um cenário de filme, a gente ia subindo na montanha, ia entrando na nuvem, as árvores iam sumindo. Chegamos lá em cima, o Cristo em obras, a água condensando nos andaimes com aquelas redes de proteção. A entrada da capela tava uma poça só. E ainda tinha uma ventania braba. Tive medo do padre sair voando, na tradição da Noviça Rebelde.

Então? Então vamos contar as pessoas presentes: Padre, noivo, família do noivo, padrinhos, fotógrafo, convidados. Falta quem, mesmo? Falta a noiva!

A noiva estava presa no engarrafamento-monstro.

E por causa da nuvem não havia sinal de celular. É, torcida brasileira, a coisa não tava fácil prá ninguém.

O casamento ia ser cinco da tarde. Deu seis e meia e a noiva não chegou. Seis e meia o último bondinho desceu do Cristo. Como a noiva sobe, se acabou o serviço de bondinho? De van, claro. Mas a van não pode subir até lá em cima. O padre teve que autorizar a van da noiva até as Paineiras, onde ela trocou para a van oficial da cooperativa do Cristo. Não vou fazer uma piada com via-crucis. Mas que parecia, parecia.

A boa notícia é que o santo da Gil é forte e as crianças chegaram a tempo! O casamento teve a dama e o pajem que ela sempre quis. E, às sete da noite, ela entrou ao som de Elvis, com todo mundo emocionado.  E o lindo casamento no Cristo foi um lindo casamento nas nuvens.

Na hora do sim, o padre mandou os noivos dizerem "por todos os dias minha vida" e não "até que a morte nos separe". Mudou o texto? Achava mais bonito o antigo. Mas, mesmo com as alianças trocadas, o casamento ainda não tinha terminado.

O padre é novidadeiro, e disse que os casamentos que ele celebra têm uma procissão até a imagem do Cristo onde a cerimônia termina. E lá foi ele comandando a fila: a daminha vem do meu lado, depois os noivos, os pais da noiva, os pais do noivo, os padrinhos e os convidados. E vamos cantando "Abençoa Senhor as famílias amém". E eu, desnecessário dizer, achando tudo muito estranho.

Caminhamos em direção ao nada. Juro a vocês, deviam ter filmado a procissão com o padre destemidamente se encaminhando para o vazio de uma nuvem escura com a noite já avançando. Eu vi a hora do homem despencar escadaria abaixo, mas ele conhece o Cristo como a palma da mão e não caiu. Então nos viramos para a estátua (que estátua? não aparecia NADA, mesmo com os holofotes ligados.) Nós rezamos para a grande nuvem cinza. E enfim, os noivos se beijaram, todo mundo bateu palma e o padre mandou a gente ir embora que já tava tarde.

Seguimos, finalmente, para a recepção no Zozô Bistrot (terceira ida do dia) e aí nada mais deu errado com a festa. Atendimento maravilhoso, mesa de bolo perfeita... e o noivo esqueceu os cds da recepção no hotel. Peguei carona com um amigo da noiva e nos mandamos para o hotel, peguei os cds, voltamos: engarrafamento nenhum. Em 15 minutos, salvamos a festa ao som de Elvis, Abba e rock anos 80. (Quarta viagem, mas quem tá contando?)

Encontrei a boleira, minha professora de confeitagem: Silvia Bassin, orgulhosa do seu bolo com rosas vermelhas pintadas. Estava o luxo, poder e glória, com o top que Gil trouxe de Recife numa caixa no colo dela: os noivos com um Elvis Presley cantando. Lindo e original :)

Peraí, crianças, bolo com rosas vermelhas? É, combinando com os bolinhos que eu fiz :D A noiva escolheu um bolo com rosas vermelhas pitadas, e não aplicadas - e eu não sabia! Ficou uma mesa linda!

Pois profa. Sílvia me chamou no canto e me contou que tinha acabado de refazer a cobertura do bolo - ela mora em Campo Grande, pegou o engarrafamento debaixo de sol forte na avenida Brasil. O ar condicionado do carro não deu conta e o bolo acabou danificado - e ela terminou de reconfeitar o bolo poucos minutos antes de nós chegarmos. E fez um serviço tão perfeito que não houve quem achasse um defeitinho sequer.

Enfim, como uma boa novela, tudo deu certo no final, até o que deu errado. Eles casaram, a festa foi linda, no outro dia o sol abriu: todo mundo se mandou pro Cristo tirar novas fotos. Eu não fui porque cheguei de madrugada, larguei a bolsa dentro do armário com o celular dentro e fui dormir... ou melhor, desliguei a chave geral e só acordei às duas da tarde do sábado. Eles me ligaram e eu não ouvi...

:D