quinta-feira, 19 de maio de 2011

CORRESPONDÊNCIA URBANA. ENCONTROS E DESENCONTROS

ANA LAURA DINIZ CONVERSA COM CARLA SAN

Carla San: "O amor não tem
receita de bolo"

Carla por ela mesma: "Carla San, 36 anos, carioca, Assistente Social, especialista em projetos de alavancamento social e treinamentos comportamentais. Inventadeira de moda em tempo integral e filósofa de boteco. Seu maior talento é cercar-se de gente fina, elegante e sincera." Daí, é claro... que estou aqui =D

A modéstia é meu forte! Beijos,
Ana Laura

**


Oi, Carla,

Tudo bem?

Sabe que no Primeira Fonte existe uma seção chamada Correspondência Urbana, que trata tanto de assuntos pontuais das cidades, quanto de situações diversas. Fico com a segunda... e daí, claro, o desejo de conversar contigo. Topas?

Quero que trace a concepção de encontros e desencontros, afinal, a vida é cheia deles.

Como acha que os relacionamentos se dão? E porque alguns crescem, prosperam e outros morrem? Ou partem, sei lá, simplesmente partem...

Com todas as variáveis possíveis de sentimento e comportamento, acredita que o amor sempre tem que ser vivido ou há uma hora que devemos apertar eject?

Em momentos de incompatibilidades, quais julga as piores? Saberia dizer?

Considera os seres humanos sazonais? Como você hoje definiria a vida? E o que é a Carla hoje em contraste com a Carla de 5 anos atrás?

E aquelas situações amorosas em que pessoas tentam mudar as outras? Estas morrem tentando, né? Ou se muda, alguém sempre fica infeliz...

Você hoje está amando? (Embora bem saiba que você sempre ama, ser amável que é! A começar pela vida =D).

Algo que deseja complementar?

Beijos, cheia de saudades,
Ana Laura
**

Ana, querida!

Os relacionamentos nascem de um ponto de interesse. Algo que chame a atenção do outro, seja a inteligência, o físico, o status, o quer que seja, é este o start. A partir daí, vem o descobrimento mútuo. É quando você descobre mais qualidades e mais defeitos.

O que faz com que um relacionamento engate, é a capacidade do casal se adaptar às qualidades e aos defeitos um do outro. Admirar as qualidades e suportar e às vezes até sublimar estes defeitos. Nem todo mundo consegue fazer isso.

Às vezes, porque os defeitos pesam mais do que as qualidades, às vezes porque ficam à espera de alguém que caiba exatamente no seu sonho de amor, ou outras tantas variáveis que fazem com que a convivência seja impossível sem causar dor, ou incômodo.

E assim, eles partem, cada um pro seu lado. Mas alguns, não conseguem romper totalmente, e ficam indo e vindo, em milhares de tentativas infrutíferas, se agarrando na esperança de uma mudança mágica naquilo que antes incomodava tanto, e tentam novamente. Alguns conseguem realmente retomar a relação, mas a maioria fica capengando entre um relacionamento que não satisfaz, por pura incapacidade de partir, de romper com o que já está estabelecido, o que já é conhecido.

Mas como o amor, esse filho da mãe, não vem com bula, tudo pode acontecer, mas em todos estes anos de observação do ser humano e de mim mesma, vi este círculo  girar inúmeras vezes nas mesmas direções. O amor não tem receita de bolo, a vida também não, mas o ser humano é muito previsível no tocante à sua acomodação e covardia, frente aos sentimentos e a maioria, opta pelo caminho que é mais fácil para o coração, não o que realmente o fará feliz, o que proporcionará um relacionamento pleno.

Ana, isso daria um tratado..rs..

E com todas as variáveis, realmente – às vezes - temos que fechar a tampa antes de apertar o eject, dar ponto final, resolver as coisas. Porque relacionamento mal resolvido, vira fantasma na sua vida. Vira e mexe aparece pra te assombrar, te tirar do prumo. Quando você esgota as possibilidades, senta conversa, chora, descabela, mas fala tudo q tem pra falar, ouve o que precisa ser ouvido e dá um ponto final, aí sim, você está pronto pra seguir em frente e apertar o eject.

Ana, e mesmo que haja amor, existem incompatibilidades que pesam mais que o amor, então não adianta ficar insistindo nisso, só serve pra prolongar o sofrimento. Então é melhor falar, colocar tudo em pratos limpos e partir sem olhar pra trás. Porque se você olha, vira estátua de sal, e não conseguirá mais sair daquele lugar.

Até porque existem mesmo as incompatibilidades. Os valores acerca de família, trabalho, objetivos e honestidade, se isso não tiver um mínimo de alinhamento, não há chance do relacionamento dar certo. Porque agenda, gostos diferentes, saberes diferentes, horários e costumes diferentes, religiões diferentes, a tudo isso você se adapta. Mas os valores fundamentais, os que regem o seu caráter, precisam ter algo em comum, senão a coisa não vai pra frente.

Além do mais, somos todos sazonais. Não em todas as áreas da vida. Por exemplo, eu ainda mantenho os mesmos valores em relação à honestidade que tinha desde os 15 anos, mas o restante, a maneira de olhar a vida, meus desejos, minhas perspectivas, objetivos e até maneiras de me relacionar com amigos, familiares e namorados mudou muito. A Carla de 5 anos atrás era muito impulsiva e gastava energia demais tentando consertar o que não tem conserto nas pessoas.
Hoje eu sou muito mais tranquila, aceito melhor os nãos que a vida me dá, rio mais de situações adversas, tenho muito mais tolerância com os outros, principalmente no tocante à personalidade das pessoas.

Nos relacionamentos não. Eu me tornei mais exigente e não tenho muita tolerância. Começou a me dar mais aporrinhação do que prazer, eu parto pra outra, imediatamente.

Não tenho mais paciência pra ficar 'desenvolvendo talentos' para que o outro aprenda a se relacionar comigo, até porque, ele não é obrigado a mudar por minha causa e eu nem desejaria isso.

E Ana, eu já vi muita gente mudar por amor, mas foi uma mudança que partiu de uma reflexão, da necessidade de se aprimorar, de melhorar como ser humano. Não apenas para agradar alguém, isso não é mudança, é camuflagem, porque não é real, e não dura pra sempre, pode ter certeza.

Hoje não estou amando. Quer dizer, amo o de praxe, família, amigos. Mas nunca estive com o coração tão vazio quanto agora. O que não significa que esteja sozinha, porque eu consigo separar muito bem as duas coisas. Amor de verdade, e um relacionamento de amizade, carinho, cumplicidade, tesão, que também precisam existir dentro do tal 'amor de verdade', mas fazem boa figura na minha vida no momento.

E isso aí também faz parte do meu caso de amor com a vida, com meu propósito de ser feliz, do jeito que for, do jeito que puder, sempre me adaptar pra estar feliz com o momento vivido, porque ser feliz é opção de vida. Não é sorte, não é conjunção astral, não é merecimento, é simplesmente uma decisão q você toma de manhã quando levanta e direciona todas as suas atitudes e pensamentos neste sentido. Simples assim.

Gostaria de finalizar dizendo que ser feliz no amor é mais fácil do que se imagina. Que as pessoas podem sonhar com o amor impossível, mas que não deixem de viver os amores possíveis aproveitando cada segundo e fazendo dele o amor da sua vida, naquele momento. O amanhã virá. E quando chegar, aí nós vemos o que pode e o que precisa ser feito com ele. Mas só amanhã.  Hoje sua prioridade é ser feliz.

Beijos,
Carla