quarta-feira, 11 de maio de 2011

HELLO DOLLY! NÃO SOMOS OS FAVORITOS

Por Dorothy Coutinho

Dachshund ou Tackel
Foto: Whisky
Cansei de ouvir na minha infância que os animais não tinham direito, por não serem pessoas, ou sujeitos de direito. Os tempos são outros. Mais complexos, numa transformação quase frenética, e essas crenças quase unânimes mudam a cada noticiário. As descobertas da física quântica fazem com que nossas certezas se tornem interrogações e uma sensação de que ninguém sabe nada.

Os animais superiores, como o cachorro, têm consciência e emoções, sustentam muitos cientistas.

Eu, dona de um cachorro, acho que eles pensam, raciocinam e comunicam seus pensamentos, só faltando mesmo falar. Além dos seus direitos, talvez a única coisa que lhes nega a condição de sujeito seja a circunstância de que a sua linguagem ainda não tenha tradutor juramentado.

Torço, para que um dia possam ser estabelecidos os níveis de consciência das espécies, com maior ou menor abrangência de seus direitos e as definições de critérios aplicáveis a cada um.

Vai ficar complicado porque o direito de latir, parte indissolúvel da liberdade de expressão canina, poderá criar conflitos com o direito ao silêncio de um vizinho humano. Não é descabido imaginar a promulgação de uma Declaração Universal dos Direitos dos Cães, ou do Estatuto do Gato e assim por diante. Todo esse meu delírio vai exigir imaginação e engenho dos legisladores e muitas discussões éticas, morais e filosóficas.

O morcego, por exemplo, em muitos casos inofensivo, amante das frutas, polinizador de pomares, poderá ser discriminado apenas por ter uma aparência assustadora ou repulsiva? E para os desenhos animados? – Serão criadas quotas para a inclusão de animais marginalizados como as lacraias ou as lesmas?

E os piolhos, hein? São tantas emoções com esses pequenos animais! Passará a ser um direito do piolho, infestar as cabeças de nossas crianças ou cabeleiras improdutivas para sugar uma cesta básica de sangue?

Mas, e se na contramão da minha história for considerada omissão de socorro à futura mamãe do mosquito da dengue, negar aquela picadinha básica para ajudá-la a perpetuar a sua espécie?

Temos uma tendência de nos intitularmos os reis da Criação, imaginando que a nossa moral é a moral da natureza, como se a natureza tivesse moral, quando o que deve ser respeitado é o direito mais básico que é o direito à vida. A natureza vai continuar com a sua festança, com direito ao doce de brigadeiro, a pipoca e todo seu alegre cardápio come-come (que também é o nome popular de um lindo pássaro)!

Fora isso, cada um de nós, mesmo não portando parasitas, somos hospedeiros de uma infinidade de “ecossistemas”, sem falar dos animais que vivem do sangue dos mamíferos, incluindo o nosso. Homens, bichos ou plantas, a Terra terminará por se alimentar de todos nós. Não somos os favoritos da natureza.