domingo, 3 de julho de 2011

84, CHARING CROSS. DIÁRIO DE BORDO: PORTO

O PORTO É A CEREJA DO BOLO
Vera Guimarães

Cláudio Luiz, que me deu o roteiro mais detalhadinho de passeio de um dia e nos indicou o hotelzinho mais maneiro, tem razão: Porto é encantadora e foi a cereja do bolo de certa viagem. Aliás, cerejas que comprávamos aos quilos em seus mercadinhos e que, indiferentes ao risco de comer frutas sem lavar, íamos apreciando por suas praças, ruas e jardins.

Porto é a segunda cidade de Portugal e importante centro industrial e comercial. Guarda em magníficos cafés a memória da riqueza do século XIX e começo do século XX.

O Café Guarany, por exemplo, exibe sua imponência em mármores, granitos e metais dourados. Já o tema da decoração, sugerido pelo nome do estabelecimento, remete a exóticos indígenas, mas sem muito rigor, pois ali se misturam índios sul-americanos e americanos do norte. Ora, detalhes... Vale a pena passear pelo site http://www.cafeguarany.com/index1024.htm , que tem até  trilha sonora de romântico piano.
No cardápio, havia essas especialidades, que se supunham tropicais:






O comércio da cidade ainda exibe vitrines (montras, não é, Cláudio Luiz?) ingênuas, com mercadorias misturadas, daquele tipo que costumávamos ver aqui no Brasil nas décadas de 1940/1950. Os nomes das lojas ainda têm um sabor antigo, de uma obviedade desconcertante, longe dos atuais e às vezes meio sem sentido nomes estrangeiros, como business, mall, store, shoes, denim. Esta, por exemplo:


 Programei ir a Porto, entre outros motivos, porque uma parenta, tentando organizar os nomes de sua família, quem é quem, quem é pai de quem, acabou chegando a três rapazes que saíram de Guimarães (pertinho de Porto) em meados dos anos 1700, um dos quais chegou a Minas Gerais, à região de Paraopeba, Cordisburgo, Curvelo, Sete Lagoas, ali constituiu família, e trata-se do parente mais longínquo de que temos notícia. E eu queria conferir que lugar era esse de onde ele saiu.

Por comodidade, ter que já estar com as malas arrumadas, fazer uma pequena baldeação de trem, essas coisas, e também por que estávamos gostando muito de Porto e poderíamos flanar mais um dia por lá, acabamos não indo a Guimarães. 

Também já não era mais necessário: assim que botei os pés em Porto, percebi que, sem dúvida, uma parte de mim é daquela região. Nas feições de uma das primeiras pessoas que vi encontrei o rosto de primas, em mais de um daqueles homens simples vi meu pai ou algum de seus irmãos, nas perninhas curtas de umas senhoras vi a mim mesma ou minhas tias.

Mas, principalmente, quando os ouvi conversando, ou alguém chamando alguém de lá de dentro de um mercadinho de frutas, ou trocando idéias pelas calçadas, ou dando ordens para a cozinha do restaurante, tive certeza: foi de lá que veio a estridência guimarânica que pontua nossos encontros familiares de hoje, e a decibelagem exagerada de nossos casos e risadas.