quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DIÁRIO DE UMA ADOLESCENTE. O SHOW DA MINHA VIDA

 Por Bianca Monteiro

Morar no interior não é fácil. Já é muito complicado fazer com que uma banda venha ao Brasil, e quando vem, é pra São Paulo e Rio, raramente em outras capitais (em nossa pequena Caxambu então, completamente impossível, fora de questão). Isso já é empecilho para muitos (por causa da autorização de pais para viajar, etc). A internet facilitou a compra de ingressos à distância, mas ainda assim, a disponibilidade não é garantida. No meu caso, os ingressos esgotaram em 14 horas, sem que eu sequer soubesse que eles começaram a ser vendidos. E o pior: foi em junho, sendo que o festival só seria em novembro. Me espantei. Não esperava que um festival voltado para o público indie como o Planeta Terra faria tanto sucesso a ponto de 20.000 ingressos serem vendidos em menos de um dia. E eu, que moro longe, obviamente me frustrei.


Os cambistas da internet queriam vender por 600, 800 reais, ingressos que compraram por 100 (ou no máximo 150). Um absurdo! Entrei em desespero, pois faria de tudo para ver meus Strokes de perto. Soube que fariam um show em Buenos Aires no dia anterior, mas meus parentes que moram lá não comprariam as entradas. As passagens também encareciam a cada dia… Me conformei: não os veria (apesar de ainda haver uma pontinha de esperança para algo bizarro acontecer e eu achar um ingresso na rua, algo do gênero).


Meses se passaram, até que por algum acaso tive que ir para São Paulo no fim de semana em que aconteceria o Festival, resolver assuntos dos meus pais. Passei na Galeria do Rock a fim de comprar umas coisinhas que minhas amigas me pediram, e uma camiseta nova da minha banda favorita, para compensar a perda do show, é claro. A noite chegava, saí com minha tia e mãe. Passamos tanto tempo naquele café que acabaram decidindo me levar para ouvir o show do lado de fora. The Strokes era a última banda da noite, a mais esperada pelo público. Entrariam no palco às 1h30min, e eu cheguei no local aproximadamente às 23h. A ansiedade era enorme. A caminho, minha mãe perguntou “o que você tá sentindo, filha?” “Como se tivesse indo encontrar o amor da minha vida no altar”, respondi, mesmo sabendo que ela estava se referindo aos sintomas da minha suposta gripe, que naquele dia estavam bem fortes. Um exagero típico, claro. Mas só asim ela entenderia o quão importante aquilo era pra mim. “Ah, filha! E eu querendo tirar isso de você! Me senti uma vilã agora”.


Enfim, ao chegar na porta, um cambista me abordou, vendendo ingressos por 200 reais. Sim, 1/4 do preço que eu esperava encontrar. Foi aí que a frustração realmente bateu. Todo meu dinheiro estava no carro, num estacionamento há duas quadras dali. E eu também não teria toda essa quantia, pois gastei tudo mais cedo na galeria. Não acreditei. Teria mesmo que me contentar em ouvir do lado de fora. Atravessei a rua e me deparei com uma surpresa: atrás do muro do parque e das árvores, havia o telão direito do palco, completamente visível dali. Eu veria o show. Com visão privilegiada das lentes profissionais, e o melhor: de graça!


Quando finalmente entraram, abrindo com a polêmica “New York City Cops”, eu desatei a cantar e chorar, mesmo com a agitação da música, principalmente quando a câmera deu um close no Julian Casablancas, vocalista dos Strokes, ícone indie e meu ídolo. Em 2011, o primeiro disco deles (e meu favorito), Is This It? (foto), eleito melhor álbum da década  de 2000 pela NME, completa dez anos, então a setlist do show era focada nele. Isso fez com que eles se tornasse muito melhor pra mim, pois temia que cantassem só músicas do último disco (que não é dos melhores).


Sem celular ou câmera, fiquei sem registros da noite mais emocionante da minha vida, apenas as imagens da minha memória fotográfica que agradeço por ter num momento desses. Alguns vídeos (em que nada está visível, só o som está ligeiramente aproveitável) ficaram no celular da minha tia, mas nada além disso. Imaginem só: uma maluca fanática, com febre, às 2 da manhã atrás do muro do Playcenter, chorando e gritando letras dos Strokes. Quem mais seria? Obviamente eu.

No fim do show, aproximadamente às 3h, passaram numa van ao meu lado, saindo de trás do palco. Fiquei feliz por tê-los visto e poder afirmar isso, mas, infelizmente, nenhum deles me viu nem camuflada na multidão. Gostaria de ter ido ao hotel, ou esperá-los no aeroporto, compensar essa desventura do ingresso… Mas, como disse, é bem difícil. Sair do sul de Minas Gerais, ir para São Paulo assistir a banda favorita do lado de fora numa madrugada. Se isso não é ser fã, eu não sei o que é.