domingo, 6 de novembro de 2011

SENHORA DO TEMPO - COLOR BLOCKING

Por Vera Guimarães

Na vitrine da loja chic, a montagem: regata de seda roxa, short de seda amarela. Dito assim, parece uma palhaçada. Mas, não. Era uma seda fosca, de inquestionável qualidade, e os tons se harmonizavam perfeitamente. Não era qualquer roxo, não era qualquer amarelo, eles combinavam.

Eu devia estar no ginasial, 13 ou 14 anos. Numa festinha, apareceu uma garota usando um vestido naquele mesmo tom de amarelo, enfeitado com faixa roxa, um raminho de violetas de lado. Muito críticas, e provavelmente despeitadas, colega e eu fizemos entre nós chacota daquela combinação.  
Tempos depois, já na faculdade, eu via, com certo espanto, uma colega mais arrojada usar rosa com vermelho, ou verde com azul, misturas pouco usuais.
Parece que nada acrescentei ao progresso da civilização ao criticar e me espantar com quem faz diferente. Hoje, primavera de 2011, misturar cores é uma tendência, a color blocking, que está em todas as revistas de moda, como as figuras abaixo.



E, mesmo que não fosse moda, as pessoas podem, sim, vestir o que lhes agrade e não apenas  o que seja considerado pelos outros como harmonioso ou normal. E, sim, foram as pessoas que ousaram cabelos diferentes, roupas diferentes, aquelas que enfrentaram rótulos infamantes e desrespeitosos, foram essas pessoas que garantiram que hoje usemos roupas confortáveis e agradáveis.
Se isso acontece no plano absolutamente individual (Huuuum, sei não! Nada é tão individual assim.), imaginemos no plano dos costumes, do comportamento, das relações de trabalho, das estruturas afetivas e familiares.

Só para ficar num pequeno exemplo, nós, mulheres, hoje não sairíamos sozinhas, não trabalharíamos nem votaríamos, nem mesmo leríamos, se algumas “loucas” não tivessem enfrentado as críticas gratuitas, se não tivessem aguentado as ridicularizações, pressões, prisão, humilhações e até a morte em defesa de suas convicções.   
                                                                                                                 
Chiquinha Gonzaga

Bertha Lutz




Daqui pra frente, prometo pensar duas vezes antes de jogar pedras em quem, literal ou metaforicamente, use vermelho com roxo!