Quando eu era menina, minha vó Maria me contou esta história. Há pouco tempo, confirmei com minha tia, filha dela. Então as coisas aconteceram mais ou menos assim...
Minha bisavó paterna, Dona Diolinda, tinha um engenho lá no interior de Alagoas. E minha vó Maria, meu vô Juca, mamãe e tia Deza iam para lá uma ou duas vezes por ano. A bisa mandava o carro de boi ir buscá-los em Porto Calvo, onde eles moravam, e a viagem era feita assim, com todo mundo deitado nos colchões de palha, olhando para a estrada, olhando para o céu. Essa viagem durava umas 6, 8 horas. E o vô só gostava de viajar de noite, para escapar do calor.
Pois foi numa dessas viagens, no final dos anos 30, que deu-se o seguinte causo:
A bisa não mandou carro de boi, mandou cavalos. Meu vô foi num, junto com o capataz, guiando todo mundo. Minha vó foi noutro, sentada de lado, como era o costume da época. Mamãe e tia Deza, meninas de 5 e 6 anos, foram em cestas, em um animal manso, que outro homem guiava puxando pelo cabresto.
elas viajaram assim, cada uma numa lado
E seguiam pela noite adentro, no caminho do engenho da bisa. Só que, de repente, entraram por um mato e tudo ficou escuro. A lua se escondeu, não se via um palmo adiante do nariz. Minha tia se lembra, ainda, dos vagalumes. E vovó se queixando "Juca, não dá para seguir adiante, a gente vai cair num precipício!" e o vô dizendo que sabia o que tava fazendo, mulher, deixa de reclamar.
E seguiam nesse breu, confiando nos cavalos que já sabiam o caminho. Até que o cavalo do capataz refugou e não teve quem fizesse o bicho andar para frente. O homem conversou com meu vô, avaliou os riscos de andar no meio do mato nesse escuro e acabaram levantando acampamento, para viajar com as primeiras luzes do dia.
Pois assim que clareou, viram o precipício que minha vó havia falado. Dormiram do lado dum penhasco, correndo o risco de despencarem todos morro abaixo. E desde esse dia, minha tia me contou, nunca mais meu vô deixou de escutar a opinião de vó Maria...