Há vários passeios no Rio os quais amo tanto fazer que sempre tento repetir cada vez que estou na cidade. Andar nos bondinhos de Santa Teresa não é um deles. Minha única experiência com eles, em dezembro de 2004 não foi boa. Peguei no ponto inicial, ali pelas bandas da Petrobras e desci lá no bairro no primeiro ponto que pude pois não aguentava mais a dor no pescoço tamanho era o sacolejar.
Não estava em pé nem sentada na ponta do banco, não sei se isso faria diferença. O fato é que senti como se estivesse em uma estrada cheia de buracos e nem a vista compensava o sacrifício. Entendam-me: o bonde é lindinho, e o considero um elo muito peculiar com o passado (quantas pessoas com um sei lá quantas histórias já haviam se sentado ali), mas conforto é bom e eu gosto.
Não tratei desse assunto na coluna antes, à época do acidente em 27 de agosto que provocou a morte de cinco pessoas e deixou outras tantas feridas, porque me pareceu oportunismo demais. No entanto, na última segunda-feira (dia 7), entraram em circulação os ônibus que vão substituir os bondes enquanto estes passam por manutenção, reforma ou seja lá o que for necessário para que possam oferecer um serviço digno para turistas e, especialmente moradores do charmoso bairro carioca.
Estava mais do que na hora e é uma pena (para não dizer algo mais forte) que tenha precisado haver mortes para que alguma providência pudesse ter sido tomada.
ônibus que substituirão os bondinhos de Santa Teresa
Mas também acho que um boicote antes não teria sido de nada mau. É claro que fazia parte do imaginário e da tradição do local conviver com os problemas que o bondinho tinha, ajudava até – quem sabe? – na hora de contar os causos do bairro. Mas tudo tem limite.
Com mais de 100 anos de circulação, transportando gente pra cima e pra baixo, passando pelos Arcos da Lapa, o bondinho merecia ter sido melhor tratado para que mais pessoas o recomendassem como um passeio obrigatório no Rio. Não conheço os bondes de Portugal, cuja inspiração servirá de molde para os novos bondinhos de Santa Teresa, mas na cidade de Memphis, no sul dos Estados Unidos, há um sistema de bonde.
bondinho de Memphis
A passagem custa 1 dólar e nas ruas por onde eles passam, somente carros da polícia têm autorização para circular. A pavimentação é ótima e você não sai remexido nem com torcicolo. É certo que lá tudo é plano, ao contrário de Santa Teresa, porém – convenhamos – nós não somos especialistas na área, mas temos certeza que já foi inventada uma técnica para adaptar as características físicas do local ao sistema de transporte tão tradicional do bairro não é?