sexta-feira, 8 de junho de 2012

84, CHARING CROSS - ALICE E OS DRAGÕES

Elaine Pereira



 Ontem assisti ao finalzinho da Alice do Tim Burton, do momento da decisão de se engalfinhar com o dragão até o final.

Quando vi pela primeira vez achei tudo lindo em 3D e não estava em um momento de vontade de pensar a respeito, então engoli os efeitos especiais e pronto. Queria fazer isso com o resto todo da minha vida, mas em algumas áreas infelizmente não funciona.

Mas ontem vi esse pedaço por acaso, porque minha filha estava assistindo para depois fazer uma entrevista na escola sobre o filme, e, excetuando as maneiras da Rainha Branca que é monótona demais, quase tudo me fascinou. A coisa deve ser boa mesmo, porque fascínio está muito ligado à surpresa, é difícil fascinar-se duas vezes com a mesma coisa com a mesma intensidade (a gente acha que tem coisas que são permanentemente fascinantes, mas não são não, é só olhar bem de perto).

A decisão de ir lá matar o dragão ou não na verdade não era opcional, toda aquela pressão, todo mundo esperando que ela fosse lá e dizendo, mas claro, a decisão é sua, blá, blá, blá. É o nosso dia a dia não é? Faça o que você quiser. Por trás disso leia-se: “contanto que...” “só que não...”, “menos...”, “mas não vá...”, etc. etc. A verdade é que a Rainha Branca, creio eu, na única vez que ela abre a boca no filme todo sem fazer muxoxo, é a que diz o fundamental. Na hora que você estiver lá frente a frente com o dragão, você vai estar sozinha.

Nós todos estamos sozinhos frente a frente com os nossos dragões todos os dias. O dela era o Jabberwocky. Qual é o seu? Por mais que nos cerquemos de família, amigos, trabalho, por mais que coloquemos nossas máscaras todas as manhãs e vamos cumprindo o script de viver na ilusão de que não estamos sozinhos; na hora de lutar contra o dragão estamos sozinhos, sim.


Alice obviamente é muito corajosa e valente, tanto que depois vira mulher de negócios e não princesa ou dondoca como se esperava dela (discutível, hoje em dia ser dondoca dá muito pouco trabalho, é tentador), e vai lutar com o dragão dela. Eu obviamente só sei quem é o meu dragão, assim como a Alice sabia quem era o dela, e cada um de nós conhece o seu e que mundo vai salvar matando-o, se o País das Maravilhas ou a sanidade mental mesmo. Ou o excesso dela.


De qualquer maneira outra coisa que eu tinha deixado passar é que Alice bebe o sangue do dragão para voltar para “casa”. Lindo isso, não é? Matamos nosso dragão, mas o incorporamos a nós bebendo de seu sangue para poder continuar, voltar para casa. E cada um sabe onde é sua casa. E que gosto tem o sangue do seu dragão.

Agora vou ali matar o meu dragão do dia, porque a semana vai ser punk, como dizem as jovens e saltitantes Alices.