domingo, 17 de junho de 2012

SENHORA DO TEMPO - OCASO DE CAXAMBU

       
Esther Lucio Bittencourt
                            




Na semana passada almocei no seu Pedro - Casebre- em Baependi, cidade vizinha de Caxambu.
É comida caseira e deliciosa.
Seu Pedro, que foi caminhoneiro gosta de contar suas histórias de viagem e fala como o povo de Baependi é bairrista, ama sua cidade e a defende de invasões do inimigo. E falou sobre Caxambu:

-A cidade não cresce, não é mesmo? Todas evoluem mas Caxambu fica na mesma. Olha Baependi, como está, cresce como nunca. Olha São Lourenço, inchada de tanto cresce, mas Caxambu, que está entre as duas, parou no tempo.

Ouvi seu Pedro e precisei concordar.
Lembrei que em maio de 2005, há sete anos, postei esta matéria no meu blog Poscas e Parafusos, parado há tanto tempo, mas que registrou o dia a dia meu e da cidade onde moro.

E foi assim que falei sobre o Ocaso de Caxambu, que segue em letras minúsculas pois, no meu blog,sempre escrevi assim.

  "Sem desenvolvimento econômico, somente a pobreza pode ser distribuída com justiça." Ana Laura Diniz, no Diário do Comércio 


dia estranho; almocei em são lourenço morta de desejo de comer um feijão com arroz digno e em seguida passei mal por ter saído da dieta. mas resolvi andar do restaurante até a livraria da sonia. apenas seis quarteirões me separavam do destino, mas levei três horas para percorrer a distância. no caminho encontro pessoas de caxambu que trabalham em são lourenço! 

pessoas com lojas aqui que abriram outras lá! até o paulo, filho do ex- prefeito, tem uma na cidade. 
o supermecado da família do antigo prefeito tem filial em são lourenço! e são lojas maiores, mais bem sortidas, em pontos nobres. 

são lourenço  cresce desarvoradamente. a livraria vende, a perfumista vende, o jornaleiro idem. o comércio funciona e o mais saboroso brioche é feito lá na padaria san remo que passou por reforma e foi aumentada. aqui em caxambu fechou a tradicional padaria da dona boneca. 

ontem um amigo me disse: "passei um mês em são paulo e algumas semanas em pouso alegre, cidade do sul de minas, e lá vendi meu trabalho. aqui em caxambu tudo é amarrado. senti enorme saudade, mas para viver aqui não dá. não tenho como sobreviver!" 

kátia e lima que me ajudaram a convencer a mudar de são lourenço para caxambu agora partem para pouso alegre. 
passo no restaurante deles, uma grande chácara com a casa ao lado e fico triste. comia-se moqueca de pernambuco longe do mar, feijão pernambucano ao som de histórias de catende e do gonzagão, desculpem-me mas também coelhos, cabritos, ovelha deliciosa, que quando soube que ela chorava ao morrer parei de comer; saladas de capuchinhos, tomates secos preparados pela kátia, além da boa comida mineira. 

ai meu deus... e a conversa correndo de mesa para mesa, um descobrimento de mundo, de outras lonjuras. a alegria do lima e a comida da kátia. a amizade fincou raízes e eles agora partem. 

" sobreviveremos como nesta cidade? pergunta kátia, que ficou para arrumar as malas. o lima já foi tem tempo. quem já está bem estabelecido, tem família e posses, ainda aguenta, mas e quem só tem seu comércio para tocar? a cidade está muito devagar, parada no tempo e espaço e os grande só pensam em si mesmos e nos amigos. este é um lugar para se queimar o karma." 

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letícia, passeia pelas ruas de são lourenço no horário do almoço, agora trabalha lá e aguarda o meio do ano para mudar de vez. a cidade de caxambu esvazia. os amigos partem. 
carlinhos já foi. agora toca o salão de belezas que o irmão tinha no leme." aqui, conta ele, era tudo pingado." a unanimidade diz estamos virando cidade fantasma. 

sinto um aperto no peito! 

eu não sou daqui mas vejo a cidade sem gente, sem calor e sem abrigo. lá se vão meus mais queridos amigos. olho as tralhas do lima e trago para casa o coração confrangido. 

É preciso resolver o esvaziamento e a deterioração do que poderia ser a mais rica cidade do mundo, e o é, em água mineral medicinal, se houvesse vontade em mudar, mas ficamos neste futuro condicional: poderia. 

restará na cidade uma elite que abrirá lojas em são lourenço, fará comércio por lá, e talvez, os plátanos do parque das águas porque estão plantados e não têm outra alternativa, com seus buracos de broca cobertos por barro, o barro vermelho desta terra. é triste ver o desaparecimento de um astro no horizonte. por mais belo que seja o ocaso ele carrega a angústia do rito de passagem do dia para noite . por mais que flameje ouro, o se pôr, como os céus daqui onde as tintas são fortes como as dos pintores impressionistas.