quinta-feira, 7 de junho de 2012

SUPOSTAMENTE FRITOS

Dorothy Coutinho 






 A manhã outonal estava linda hoje. “Aaaaah...” Pensei: vida boa.
- Está bem, não tão boa.
Basta ligar a TV para ver as notícias pautadas: Há gente morrendo de fome em várias partes do mundo, inclusive na minha vizinhança. Tem gente se matando, tem a expectativa das previsões do Calendário Maia de termos um dos verões mais quentes da história nos Hemisférios Norte e Sul, tem o Banco Central comprando dólares para conter a alta da moeda americana, e quando o dólar baixa o BC vende dólares para conter a alta, afinal, é prá baixar ou pra subir? E ainda temos que lidar diariamente, com notícias da suposta verdade oficial sobre a corrupção sempre difícil de entender com escândalo compondo escândalo. Por exemplo: tem o suposto encontro do ex-presidente com um ministro, a suposta conversa entre eles, o suposto adiamento do julgamento da turma do mensalão, a suposta blindagem de partidos envolvidos com o Cachoeira, a suposta viagem do ministro custeada por um contraventor, e tudo, rapidinho, supostamente desmentido. Então, manda a prudência supor tudo, porque nada foi provado e pode ser que continuemos supondo pelo resto de nossas vidas.

O tempo é mesmo o senhor da verdade e que com o passar dos anos ela aparece? Fico na dúvida. Até Tiradentes, um homem que viveu no século XVIII, faz um bom tempo, está sendo esculachado na internet, denunciado como um suposto impostor. Dizem que outro homem, supostamente sem querer, teria ouvido conversas subversivas e por isso teria sido enforcado no lugar de Tiradentes que teria ido morar em Paris. Até Tiradentes levar um cacete desses sinceramente, eu não esperava. Nem supostamente falando. Mas diferente de Tiradentes, não arriscamos nada, e vamos pagando sem chiar ou chiando pouco. Tiradentes arriscou a própria vida porque o governo metia a mão no “quinto” da arrecadação, imposto que pelo próprio nome, devia ser bem menor do que o que pagamos hoje, do qual, na sua enorme e devida proporção vai para o bolso de ladrões e aproveitadores, ou desce pelo ralo da incompetência.

E a verdade “pública” entre nós varia bastante, porque conta com duas contribuições de peso: estatísticas fajutas, que com a maior cara de pau apresentam fatos com percentuais e gráficos maquiados ou fazendo afirmações hilárias do tipo “cem por cento das pessoas que morreram de câncer no ano passado beberam água” e as “conclusões científicas”, baseadas numa ciência tão multifacetada que se desdiz ou contradiz a cada instante. É. A vida não está tão boa! E ainda tem um sentimento que se generaliza entre nós de que algo está fora dos eixos no nosso velho e querido planeta, e que supostamente, estaremos fritos.