quarta-feira, 16 de março de 2011

AMOR-PERFEITO

crédito: google images
Por Ana Manssour

Hoje vou falar de um assunto que a maioria das pessoas vai achar comum, banal, óbvio. Pode ser até que para alguns o tema amizade seja realmente assim. Para mim não é.


Sou uma pessoa que nasceu e cresceu numa família classe média, filha única que sempre sonhou em ter irmãos. O tempo passou, cresci, meus pais se divorciaram e, de repente, ganhei uma nova família, semi-pronta, com quatro irmãs já grandes, a partir de uns dez anos abaixo de mim. O começo foi difícil, tivemos que nos superar e aprender a conviver e compartilhar o mesmo pai e controlar sentimentos contraditórios que fervilhavam dentro de cada uma de nós. Conseguimos. Vencemos a batalha e hoje nos consideramos irmãs, independente do percentual de consanguinidade que tenhamos ou não em comum. Somos mais que irmãs, somos amigas.

E aí entra a questão da amizade. Eventualmente nossos amigos até podem ser nossos irmãos, assim como nossos irmãos podem ser nossos amigos. Mas nem sempre. Entendo como uma coisa praticamente mágica o fato de nos aproximarmos de certas pessoas, por razões de estudo, trabalho, vizinhança ou qualquer outra, e depois passarmos a ter nelas uma sintonia e um afeto difíceis de explicar. Como é possível que uma pessoa que não é da nossa família, não conhecemos desde o nascimento, não tem a mesma cultura familiar, é de um nível sócio-econômico diferente do nosso (para cima ou para baixo), se torne tão importante na nossa vida? Devem existir algumas dezenas de explicações para isso, das religiosas às psicológicas, mas não quero entrar nesse mérito.

O que importa, de fato, é reconhecermos que o amor tem múltiplas formas e pode acontecer entre as pessoas por mais diferentes que sejam entre si. Claro que o amor paterno, assim como o materno, é um tipo de amor especial. E o amor fraterno, e o conjugal, e o filial. Mas devo dizer que acredito piamente que a forma mais perfeita e pura de amor é a amizade. Mas a amizade verdadeira, aquela que não é interesseira e não pretende levar vantagem alguma.

Quem já não passou pela situação de estar angustiado, deprimido, com um problemão na cabeça, e de repente, não mais que de repente, um determinado amigo telefona ou esbarra em você na rua, e acaba dizendo e mostrando coisas que são o bálsamo que vocês estava precisando exatamente naquele momento? Ou, que simplesmente, conversou um monte de bobagens e fez você rir desbragadamente, aliviando a tensão que andava carregando há dias? Você até dormiu bem naquela noite, como há tempos não fazia!

Essa pessoa é especial. Ela não tem o mesmo sangue nas veias, mas pode ser muito mais seu irmão do que aquele que se criou com você. Ele não lhe deixa na mão, e mesmo de longe continua acompanhando a sua vida para poder vibrar com suas vitórias e estender-lhe a mão quando você vacilar. Ele lhe diz tudo o que você precisa ouvir, mesmo que você não queira escutar. Ele lhe diz onde estão os seus acertos e aponta cada um dos seus erros, não por maldade, mas para ver você crescer, se dar bem, ser feliz. Porque tudo o que ele quer é a sua felicidade. Com ou sem ele. É um amor equilibrado, não tem ciúmes ou inveja, não é egoísta, faz o que pode (e às vezes o que não pode) para ajudar você a se dar bem. Nem que seja, simplesmente, lhe oferecer o ombro amigo para você desabafar, contar as amarguras e desenganos, chorar e dormir, enquanto ele olha pra você com aquele olhar meigo, levemente triste, fazendo um cafuné na sua cabeça ou segurando a sua mão com força. Justamente tudo o que você precisava naquele exato momento.

Fala sério! Isso não é o retrato do amor-perfeito?